Gilles Gomes de Araújo Ferreira

sexta-feira, 10 de março de 2006

Outra vez o MST... | João Mellão Neto

Em 1798, no apagar das luzes do século 18, o pastor anglicano Thomas Malthus publicou um alarmante texto sobre o "princípio da população". A repercussão foi imediata e influenciou fortemente todo o pensamento econômico, político e social por várias décadas. A humanidade, então, atingia o impressionante número de 1 bilhão de pessoas e, segundo o economista inglês, não havia salvação possível. É bastante conhecido o seu enunciado de que, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética (1, 2, 3, 4...), a população aumenta em progressão geométrica (2, 4, 8, 16...). Em breve, não haveria mais meios de subsistência para todos. Quando isso ocorresse, os quatro cavaleiros do Apocalipse - Peste, Fome, Guerra e Morte - inevitavelmente varreriam a Terra. A tese, para a época, fazia sentido. As taxas de fertilidade humana eram altas, enquanto a agricultura ainda não conhecia o conceito de produtividade. A única forma de aumentar a produção era aumentar a área plantada. Os argumentos de Malthus serviram como base para muitos economistas de então defenderem a tese de que os salários deveriam ser rebaixados até o nível mínimo de subsistência. Qualquer incremento nos ganhos dos trabalhadores os levaria fatalmente a ter mais filhos, agravando, assim, o problema.

Felizmente, as profecias de Malthus não se concretizaram. Embora a população realmente tenha crescido em escala geométrica - somos mais de 6 bilhões hoje em dia -, a produção agrícola, com o crescente aporte da tecnologia, também cresceu e pôde alimentar a população do mundo.

João Pedro Stédile, o messiânico líder do MST, embora se afirme economista, teima em refutar essa realidade. Sua visão sobre a agricultura remonta à era pré-industrial. Ele idealiza um universo bucólico de micropropriedades rurais, cujos proprietários cultivariam uma lavoura de subsistência e seriam refratários a qualquer inovação tecnológica.

Na quarta-feira, milhares de mulheres do movimento Via Campesina invadiram o laboratório de uma empresa de celulose e destruíram, em minutos, todo um trabalho de pesquisas que demandou 20 anos. Enquanto isso, numa palestra televisionada, o sr. Stédile pontificava: "O nosso maior inimigo não é mais o latifundiário improdutivo. É o agronegócio e também as empresas multinacionais voltadas para a produção agrícola!"

Não é a primeira vez que a raivosa e estúpida gente do sr. Stédile depreda centros de pesquisas agropecuárias. Como definiu com propriedade o deputado marxista Roberto Freire, o MST pode ser tudo, menos comunista. E explica: "O comunismo é filho do iluminismo, uma corrente de pensamento que acredita no progresso da ciência como forma de minorar os males da humanidade. Destruir lavouras experimentais e laboratórios científicos nada mais é do que obscurantismo."

O deputado está coberto de razão. Não fossem a ciência e o progresso tecnológico, as tenebrosas profecias de Malthus de há muito já teriam sido cumpridas.
Em sua tresloucada cruzada contra a tecnologia e o capital estrangeiro no campo, mal sabe o sr. Stédile que, ironicamente, os bilhões de habitantes do planeta devem à "detestável" Fundação Rockefeller (FR) o simples fato de estarem vivos.

A história merece ser recontada.

Nos anos finais da 2ª Guerra Mundial, preocupada com a possibilidade de uma grande fome devida ao rápido crescimento da população mundial que se seguiria ao conflito, a FR decidiu aplicar maciços recursos no incremento da produtividade de produtos agrícolas básicos. No início, as pesquisas se concentraram no trigo e no milho. Em 1944, a fundação criou um instituto, sob o comando do renomado dr. Norman Borlaug, com o objetivo de desenvolver variedades da alta produtividade do trigo. O México, então, por ser um país com graves carências alimentares e vizinho dos Estados Unidos, foi o local escolhido para as experiências. Como não havia nenhum Stédile por lá, as pesquisas puderam ser realizadas de forma pacífica.

Apenas duas décadas depois, a fome no México não só foi extinta, como o país se tornou um grande exportador de alimentos. A Rockefeller, então, decidiu estender o seu trabalho para o sul da Ásia, em especial a Índia, conhecida, à época, como o "continente da fome".

Como não havia um MST na Índia, o projeto da FR foi acolhido de bom grado pelo governo e pela população local. O trabalho foi iniciado em 1966, com a introdução de sementes altamente modificadas e desenvolvidas de trigo e de milho. Eram o equivalente aos "transgênicos" da época. Como nenhum Stédile atrapalhou, em menos de dez anos os resultados apareceram. A produção de alimentos da Índia mais do que dobrou e nunca mais o país passou necessidades. Centenas de milhões de indianos escaparam de morrer de fome, o fenômeno ficou historicamente conhecido como a "Revolução Verde", o resto do mundo o adotou e Borlaug ganhou o Nobel da Paz.

Gente como Stédile, é claro, não compareceu à cerimônia.

O que eu não consigo entender, no Brasil, é como ele e seus asseclas ainda não estão na cadeia. Embora aleguem defender a "democratização da propriedade", democratas é que eles não são. O MST, em suas ações, violenta, de forma contumaz, todas as instituições do Estado de Direito e da ordem democrática.

Reclamar para o bispo não dá. Ainda mais se ele for um desses que querem dividir na Terra os lotes que não terão no céu. Quanto ao governo, que ninguém espere nada. Lula ainda é do PT, que é irmão do MST. Ô familiazinha tinhosa! Tudo nela é vermelho: a idéia, a estrela, a bandeira e o estandarte. Vermelho, por sinal, é a cor do capeta. E também do seu reino, para o qual, com certeza, todos eles irão.

Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (para assinantes)

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