Gilles Gomes de Araújo Ferreira

domingo, 5 de março de 2006

A bomba dos aiatolás

O que se pode esperar de uma ditadura islâmica brigada com a maior parte do mundo, cujo presidente já pediu que um outro país seja "riscado do mapa" e que tem como apoiadores gente do calibre de Hugo Chávez e Fidel Castro?

Antes de tudo, façamos uma breve retrospectiva:

Em agosto de 2002 o Conselho Nacional de Resistência do Irã, um grupo de oposição que funciona em Paris, denunciou que os clérigos de Teerã estavam interessados em desenvolver tecnologia nuclear e, partindo disso, possuir armas atômicas. Em dezembro, os EUA acusam o Irã de tentar produzir armas nucleares.

No dia 16 de junho de 2003 o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (em inglês, IAEA) declara que o Irã "deixou de relatar certas atividades com material nuclear". No entanto, a agência não considera que o Irã descumpriu o Acordo de Não-Ploriferação de Armas Atômicas. Em 31 de outubro a IAEA afirma que o Irã concordou em cooperar com as inspeções e em 11 de novembro declara que não há evidência de que o Irã esteja construindo armas nucleares. No entanto, os EUA declaram que não se pode confiar no relatório, que foi aprovado pouco depois pelas Nações Unidas.

Em junho de 2004 Kamal Kharrazi, ministro do exterior iraniano diz que não vai aceitar novas obrigações no que se refere ao seu programa nuclear. No dia 14 desse mês, a IAEA acua o Irã de cooperação "menos que satisfatória". No dia 27 o país rompe os lacres das centrífugas e volta a operar a centrífuga de Natanz. No dia 31 de julho Teerã afirma que voltou a enriquecer urânio. Em 18 de setembro a IAEA determina o fim das atividades nucleares iranianas. Três dias depois o Irã desafia a ONU e afirma que vai continuar suas pesquisas. Em 18 de outubro o governo passa a negociar com Reino Unido, Alemanha e França (EU3), mas afirma que nunca vai renunciar ao seu direito de enriquecer material atômico. No dia 24 a União Européia propõe um acordo em que garantiria tecnologia nuclear civil para o Irã em troca do fim das atividades com urânio. O país rejeita. Entretanto, em 15 de novembro os 4 países voltam a se reunir e o Irã anuncia que vai temporariamente interomper o enriquecimento de urânio até chegarem a um acordo. Seis dias depois Teerã tem permissão dos europeus para operar 24 centrífugas.

15 de agosto de 2005: é eleito presidente Mahmoud Ahmadinejad, que na sua plataforma prometia o desenvolvimento da indústria nuclear. Em 19 de novembro a IAEA acusa o Irã de impedir inspeções em suas centrais nucleares. O país confirma que voltou a trabalhar com urânio enriquecido.

Primeira pergunta: por que um país que é o 3.º maior produtor de petróleo do mundo e sentando sobre 10% das reservas do globo além de ter a segunda maior reserva de gás natural (atrás apenas da Rússia) precisa de energia nuclear?

Segunda pergunta: há limite para a estupidez de negociadores como esses da União Européia? O Irã diz que sua pesquisa tem fins pacíficos. A Europa diz "ok, se nós te dermos toda a tecnologia que a atividade nuclear necessita você interrompe as pesuisas?" e o Irã diz "não". Ora, é mais do que óbvio que não é a tecnologia pacífica o que eles querem. Até quem acredita em Paulo Maluf sabe o que está acontecendo.

Por isso não foi com surpresa que li uma matéria do The Sunday Telegraph, um dos melhores jornais escritos na língua de Shakespeare, noticiando uma palestra do negociador iraniano onde este explica como dobrou o Ocidente.

Hassan Rowhani disse que enquanto as conversas se desenrolavam em Teerã o governo ganhava tempo para terminar suas instalações nucleares. "Os americanos continuavam a dizer aos europeus, 'os iranianos estão mentindo e não lhes contaram toda a verdade'. Os europeus diziam 'nós confiamos neles'."

Amanhã a IAEA vai se reunir para decidir se envia ou não o caso do Irã para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde há a possibilidade de se declarar sanções. O Brasil faz parte da bancada que vai julgar o caso. Fica então a terceira pergunta: por que Lula não admitem inspeções da IAEA?

P.S.: O diretor-geral da Agência ainda é o mesmo El-Baradei. Que é aquele que ganhou o prêmio Nobel da Paz ano passado.

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