Gilles Gomes de Araújo Ferreira

sexta-feira, 10 de março de 2006

O MST e a lei | Editorial Jornal O Globo

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra há muito deixou de lado a luta pela reforma agrária para se dedicar a uma causa que, pelos altos riscos envolvidos, acena com uma farta colheita de dividendos políticos: a de testar a elasticidade das leis brasileiras, o pulso ou a falta de pulso das autoridades, e a paciência da sociedade com a litania de suas reivindicações que, justas em tese e na retórica dos palanques, na prática só têm servido para acobertar ações do mais insensato e estéril aventureirismo.

No Brasil e em qualquer parte, a democracia está em perigo quando a audácia dos desordeiros conta com a leniência e a hesitação dos responsáveis pela manutenção da ordem e pelo cumprimento da lei. Aqui, os desmandos dos militantes atingiram tal ordem de irresponsabilidade que hoje a democracia brasileira não tem inimigos mais obstinados e desleais do que o MST e similares como a Via Campesina — o grupo que anteontem comemorou o Dia Internacional da Mulher enviando suas brigadas femininas à Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro, perto de Porto Alegre, para destruir bens da empresa.

É o coordenador dos sem-terra João Pedro Stédile quem se define — a si e aos militantes que orienta, instrui e comanda — como inimigo da ordem social e econômica vigente no Brasil. Num discurso anteontem ele expôs o plano de ataque do MST para o “2006 Vermelho”, que justificou a invasão da Aracruz Celulose: “Não é mais o capital industrial que controla a agricultura, é o capital financeiro. As transnacionais. O inimigo não é mais o latifundiário tradicional, é o grande capital internacional.”

Desde quando o que as esquerdas mais obtusas chamam pejorativamente de grande capital internacional é inimigo de economias emergentes como o Brasil, cada vez mais dependentes de recursos externos para garantirem a prosperidade dentro de suas fronteiras? Só inimigos do país veriam no investidor estrangeiro um inimigo a ser derrotado.

As bandeiras de luta do MST e congêneres para 2006 estão desfraldadas. Cabe ao poder público aplicar a lei para assegurar que neste ano eleitoral as naturais diferenças entre os brasileiros não sejam exacerbadas até o limite da intolerância pela histeria dos extremistas.

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