É verdade que, entre nós, a expressão "para inglês ver" é antiga e reflete uma certa subserviência própria do colonialismo, que levava aos exageros da exibição cabocla, mostrando aos "de fora", graças a várias maquiagens, econômicas, políticas, culturais, aquilo que ainda não éramos. Mas é uma curiosa coincidência o fato de o presidente da República estar exibindo, em engalanadas cerimônias da velha Albion, uma realidade, em muitos aspectos, exatamente contrária ao que se vai passando sob estes tristes trópicos - e sob seu governo.
Deixemos de lado a realidade econômica, tão alvissareira para o presidente - apesar de nossas taxas de crescimento, no Continente, só estarem na frente das do Haiti. Desconsideremos que, apesar da "decisão sábia" confessada pelo presidente - aquela de imitar as donas de casa e não gastar mais do que tem -, nossas contas públicas fecharam o ano em déficit e todo o nosso esforço fiscal não bastou para aliviar o montante de R$ 157,1 bilhões em juros da dívida pública.
Fixemo-nos naquela entusiasmante frase que usou o presidente Lula, ao conclamar os empresários britânicos a investirem no Brasil: "O Brasil goza de solidez institucional que nos permite encarar, com tranqüilidade, um ano como este, marcado por eleições gerais." Ora, muito bem. Seria perceptível essa tranqüilidade nas cenas dantescas - ocorridas no mesmo dia do apoteótico discurso presidencial no Reino Unido - do Rio Grande do Sul, quando cerca de 2 mil mulheres da Via Campesina invadiram de madrugada (em Barra do Ribeiro, a 60 quilômetros ao sul de Porto Alegre) um horto florestal da Aracruz Celulose, destruíram estufas, inutilizaram pelo menos 5 milhões de mudas de plantas e, com enorme vandalismo, depredaram laboratórios e tudo o que ali se havia instalado para pesquisa científica no campo agrário - jogando ao lixo trabalhos de 20 anos de melhoramentos genéticos?
Outra demonstração dessa "tranqüilidade" seria a "invasão feminina", no mesmo dia, também em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, promovida pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e organizações rurais assemelhadas, em 5 fazendas no Pontal do Paranapanema, somando-se a outras 11 em Pernambuco (lá completando 30 invasões, em apenas 4 dias), sempre marcadas por atos de depredação e toda a sorte de violências?
Certamente tais demonstrações de intolerância e truculência de militantes "ecofeministas" ficaram marcadas também junto aos representantes de cerca de cem países estrangeiros que assistiam à Conferência Internacional sobre Desenvolvimento e Reforma Agrária, em Porto Alegre. O próprio (e, no caso, insuspeito) ministro do Desenvolvimento e Reforma Agrária, Miguel Rosseto, condenou o vandalismo praticado na Aracruz, dizendo: "Isso não tem nada a ver com reforma agrária." Mas o governador em exercício do Estado, Antonio Hohlfeld (PMDB), foi mais preciso ao qualificar aquele ato de "provocação e bandidagem".
Provocação e bandidagem, sim, que tem tudo a ver com a reforma agrária, ou seja, os métodos empregados para "estimular" o governo a promovê-la pelos comandados do "duce" Stédile que, saudando a ação criminosa contra a Aracruz, dizia, na quarta-feira, na televisão, que aquilo era um ataque ao capital internacional - que o presidente Lula tentava cativar em Londres.
As 2 mil mulheres que desembarcaram de 37 ônibus numa operação perfeitamente organizada se dizem "parceiras do MST".
Assim, o presidente candidato, que em sua campanha eleitoral tem falado todos os dias nas "colheitas do que semeou", colhe dessa forma a sua maior semeadura, que foi a dos ventos que produzem tempestades, na maneira irresponsável como tratou os comandados de Stédile com boné vermelho na cabeça - mostrando qual é a sua concepção de "solidez institucional".
É por isso que 56% dos brasileiros rejeitam os métodos do MST, segundo pesquisa do Ibope.
Gilles Gomes de Araújo Ferreira
sexta-feira, 10 de março de 2006
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