Gilles Gomes de Araújo Ferreira

domingo, 16 de abril de 2006

Meu consolo (4) | Meles Zenawi

Meles Zenawi é Primeiro-Ministro da Etiópia desde 22 de agosto de 1992, numa eleição boicotada pela oposição. Antes disso foi presidente do país a partir da queda do regime comunista de Mengistu, depois de 17 anos de guerra civil.

Abandonou a política centralista vigente no país desde 1855, adotando um sistema classificado de "federalismo étnico". Para tanto, instituiu na Constituição um artigo, n. 39, que assegura que qualquer grupo étnico possa se separar do resto do país. No entanto, a norma serviu de base para divisões que, segundo alertam opositores, arricam a unidade de um país único porém etnicamente diversificado. Esse etnocentrismo também significou a preferência por determinadas etnias em detrimento de outras na administração pública, nos negócios e na maneira como os recursos públicos são investidos, beneficiando principalmente sua região natal, Tigray. Zenawi é também acusado de nepotismo e corrupção.

A Etiópia é um dos países-símbolo da fome da África. Naturalmente, o país deveria reagir. E assim fez: primeiro com a reforma agrária. A Constituição proíbe a posse da terra, toda ela pertence ao Estado. De acordo com o governo, isso é necessário para a segurança dos próprios agricultores, uma vez que em períodos difíceis eles seriam forçados a vender suas terras. Pausa.

Quer dizer então que o governo quer proteger os agricultores. Na crise, naturalmente eles seriam forçados a vender seu patrimônio. As cabeças iluminadas pensaram então em como evitar que isso acontecesse. Resultado: expropriaram as terras. Deixaram de pertencer aos camponeses e eles não tiveram nenhum rendimento com isso. Perderam duas vezes.

Ah!, mas de outra maneira, não haveria como garantir a "igualdade agrária", fundamental para um país democrático, não? Afinal de contas, quem vai proteger os aldeões da sanha predatória e capitalista dos credores? O governo, naturalmente. O problema é que o credor capitalista é o próprio governo!, que mantém monopólio sobre fertilizantes, tornando-os caríssimos, o que força os lavradores a vender sua mobília para não ser presos, acusados de anti-desenvolvimento.

Meles Zenawi, no entanto, tem amigos. A empresa de fertilizantes Yara, por exemplo, o idolatra a ponto de conceder-lhe um prêmio por "garantir a nutrição e a segurança alimentar, assim como proteger o meio ambiente". O fato de ser o principal cliente certamente não foi levado em conta pela empresa, é tudo uma questão de mérito.

O primeiro-ministro é também amigão do Tony, o Blair. É membro diretorial da Comissão para a África, que tem por missão eliminar a miséria no continente. Seria como convidar João Pedro Stédile para em centro de pesquisa da Monsanto. Zenawi também goza de boas relações com a Casa Branca, resultado de sua política de luta contra o terrorismo.

Eu gostava mais do Bush quando ele lutava pela democracia. Assim como o Lula.

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