Gilles Gomes de Araújo Ferreira

domingo, 23 de abril de 2006

As veias abertas da América Latina

Emir Sader escreve semanalmente no Jornal do Brasil. O JB, que outrora se orgulhava de ter mantido como colaboradores pessoas da estirpe de Joaquim Nabuco e Clarice Lispector hoje tem que se bastar com Sader e José Dirceu. Mas não é sobre isso que tratarei agora. O JB será tema de comentário futuro.

O artigo de Emir Sader começa assim: "A América Latina foi o laboratório de experiências do neoliberalismo. Em nenhuma outra região do mundo se generalizou tão amplamente esse modelo e suas políticas como aqui. (...) para qualquer lugar que olhássemos, se repetiam monotonamente os mesmos temas, prioridades e discursos. Estado mínimo, reinado do mercado, privatizações, desregulação econômica, flexibilização laboral, ajuste fiscal, acordos com o FMI".

Como se vê, não é só Lula que sofre da Síndrome de Pedro Álvares Cabral. Para o sociólogo defensor do MST o neoliberalismo surgiu, sim, na América Latina. Como se trata de um opinante defensor da esquerda, é bom analisar desde a primeira linha o seu discurso: não é verdade que o "neoliberalismo" surgiu na América Latina. Primeiro que a doutrina do Estado Mínimo existe desde o século XVIII, criação do inglês Adam Smith. E foi na mesma Inglaterra que o termo "privatização" apareceu pela primeira vez, no governo da Baronesa Thatcher.

Até a metade dos anos 1990 a América Latina, à exceção de Argentina e Chile, estava fechada ao "capital estrangeiro", e ao mesmo tempo, sufocada pela hiperinflação. O Leste Europeu experimentou o "neoliberalismo" bem antes de nós, e de uma forma muito mais agressiva - aqui o provesso de aderência ao capitalismo ainda não se confirmou. E é bom que se diga, estão muito melhores lá do que aqui.

Sader passa então a criticar o que chama de "marionetes": Fernando Henrique Cardoso, Carlos Menem, Lucio Gutierrez, Sanchéz de Lozada, Alvaro Uribe, culpando-os por "desmoralizar a democracia" ao permitir o individualismo, consumismo, narcisismo, egoísmo... Ou seja, desmoraliza-se a democracia ao se permitir que cada um escolha o seu destino. Moralizá-la seria, então, que todos se unissem em prol do bem comum, num processo que seria guiado por alguma criatura abençoada, que governasse com o coração e os nove dedos.

O artigo continua enxovalhando a liberdade econômica, assinalando que ela foi responsável pela queda de dez presidentes nos últimos anos. E é aí que o professor da USP chega ao Eldorado: a culpa de todos os nossos problemas é, claro, Washington. Sua fúria é dirigida ao embaixador dos EUA na OEA, John Maisto, que alertou haver um risco de Equador e Bolívia abandonarem a democracia. De acordo com Sader, os americanos não têm moral para alertar sobre a democracia, uma vez observada sua "participação em tentativas de desestabilização e de golpes contra governos legalmente constituídos no continente". Claro que o financiamento por parte de Hugo Chávez para grupos fora-da-lei como o MST não entram nessa comparação. Afinal de contas, sua reinvindicação é legítima.

O ataque continua: "A afirmação provém do representante de um governo eleito em 2000 de forma fraudulenta, que impôs nos EUA drásticas limitações à democracia e à liberdade dos indivíduos, que está com tropas atuando militarmente nos principais focos de conflito bélico no mundo (...) E, ainda assim, não causa indignação nos formadores de opinião - que gritam contra qualquer suposta violação dos direitos humanos em países governados por presidentes de desagrado de Washington". Agora sim o argumento esquerdista está completo: apareceu o defensor de Fidel Castro. Suposta violação dos direitos humanos? Pra quem acredita em Lula...

O resto do artigo é um punhado de frases feitas anti-americanas, que alternam com críticas às tais elites. Ou seja, mais do mesmo. Desta vez não coloco o link para o artigo. Não quero que percam seu tempo.

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