Gilles Gomes de Araújo Ferreira

domingo, 2 de abril de 2006

Meu consolo (2) | Robert Mugabe

Acertem seus relógios: faltam 181 dias para as próximas eleições. Até lá, continuamos com nossa hercúlea tarefa de encontrar governantes mais excêntricos, anti-democráticos e ególatras que o nosso, numa tentativa desesperada de tornar menos custoso o suplício de ter que agüentar mais 273 dias.

Nosso alívio é saber que sim, há gente pior do que Luis Inácio. Depois de tratar de Saparmurat Niyazov, vamos agora falar sobre o presidente do Zimbábue, Robert Gabriel Mugabe.

Mugabe é perfeito - para nós - porque aplicou duas propostas sempre defendidas pela esquerdopatia nacional: ações afirmativas (cotas) e reforma agrária. Juntas.

Empossado como presidente em 1987 - antes tinha sido primeiro-ministro - prometeu melhorar as condições da maioria negra. A princípio, aplicou mais dinheiro em programas destinados à saúde e educação dos negros (só deles). Reeleito em 1990, começou a mudar as regras do jogo.

Primeiro passou a defender medidas que significassem "austeridade econômica". Nada mal, o país estava indo à falência e o Estado de Bem Estar Social é bom, mas custa caro. Entretanto a recusa do FMI em renovar um pacote de auda financeira fez com que Mugabe adotasse medidas cada vez mais demagógicas e autoritárias.

Em 1991 passou a promover uma "campanha moral" contra o homossexualismo, o que tornou o que ele chama de "atos sexuais não-naturais" crimes que podem render até 10 anos de prisão. Até mesmo seu predecessor na Presidência Canaan Banana foi condenado por sodomia.

É a partir de agora que Lula e Mugabe se encontram: pouco depois de assumir o presidente zimbabuano assegurou aos fazendeiros brancos que eles não precisavam temer um governo que prezava pela maioria negra. Disse que pretendia promover uma reforma agrária justa e gradual, sem desapropriações, apenas comprando as terras daqueles que quisessem vendê-la. Em 1999, no entanto, a reforma passou a ser feita à força: fazendas eram invadidas, depredadas, milícias armadas foram criadas à margem da lei e com a anuência do governo. Fazendeiros brancos eram queimados junto com suas casas. O discurso do Black Hitler mudou:

O Zimbábue é para os negros, não para os brancos.

Nosso partido deve continuar a colocar medo nos corações dos brancos,
nossos verdadeiros inimigos.

A reforma agrária, assim como aconteceu em todos os lugares onde foi implantada, foi um fracasso. Transformou um país grande exportador de grãos num importador de alimentos, com crises constantes de abastecimento. Qualquer semelhança com o nosso MST não é coincidência: eles se apóiam.

A última reforma de Mugabe atingiu 2 400 000 pessoas, deixou 700 000 desempregadas e 325 000 pessoas desabrigadas.

O Zimbábue têm sido criticado pela Comunidade Internacional. O país, em 2004, abandonou a Commonwealth, alegando "interferência". Os EUA já aprovaram sanções econômicas ao país. O arcebispo anglicano Desmond Tutu o chamou de "caricatura de um ditador". Equipes esportivas da Inglaterra se recusaram a jogar com o time di Zimbábue em protesto à maneira como Robert comanda o país.

Mas não se engane. Mesmo os cretinos têm amigos. Aqueles amigos...

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