Quem diria? Já chegamos ao número 3. Muitos - eu - achava pouco provável encontrar um Lula pior do que o nosso fora do eixo Buenos Aires - La Paz - Caracas - Havana, e até agora não tratamos dele. Quem poderia imaginar que a realidade é assim tão péssima? E tem gente que ainda perde tempo com George W. Bush...
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo - escandinavos e africanos só tem em comum o desprezo por vogais - é o presidente da Guiné Equatorial desde 1979. Chegou ao poder por meios, assim, pouco usuais numa democracia, mas uma regra nas ditaduras - o assassinato do presidente de então - mas que chama a atenção pelos laços que ligavam o tirano ao tiranicida - era seu próprio tio, responsável por levar metade dos 1,2 milhão de habitantes do país ao exílio.
Uma nova consituição foi aprovada em 1982 e Obiang foi eleito presidente para um mandato de sete anos. Em 1989, se reelege - era o único candidato - e tem sido assim desde então. A última eleição que o país conheceu se deu em 2002, não reconhecida por observadores internacionais. Sua reação também não foi nenhuma novidade, clamou que forças externas planejavam depô-lo, o que não deixa de ser verdade. Há até um governo no exílio. Mas não é dessas forças que Obiang fala. Quem liga para um bando de revoltosos asilados? Sua acusação vai em direção aos EUA, Reino Unido e Espanha.
Dentro e fora do país o presidente é acusado de manter um regime extremamente corrupto, etnocêntrico, opressivo e anti-democrático (claro, é uma ditadura!). Seu partido, o Partido Democrático da Guiné Equatorial mantém 98 das 100 cadeiras do Parlamento. 90% dos políticos de oposição vivem fora do país.
Lá, assim como aqui, desenvolveu-se um culto à personalidade irracional: cidades têm ruas comemorando o golpe dado contra Macias, o tio, e a população é encorajada a usar roupas que trazem sua estampa.
Obiang já se deu o título de O Grande General Alifanfarón, Cavalheiro da Grande Ilha de Bioko, Annobón e Rio Muni e sempre se refere a ele mesmo como O Chefe; mas nada disso serve quando estamos falando de um deus, que está sempre em contato com o Todo Poderoso, o que lhe permite matar qualquer um sem que seja responsabilizado por isso. E também afirma ser um canibal.
É um passatempo um tanto mórbido, eu admito, procurar conforto no infortúnio de outros. Mas o que me penitencia ainda mais é saber que não há outro remédio capaz de neutralizar o desgosto que qualquer pessoa decorosa sente ao acompanhar o sr. Lula debochar da boa-fé e da ignorância desse povo chamado Brasil. E vê o Datafolha anunciar que ele continua o favorito. E tem que lidar com uma pergunta que insiste em não sair da cabeça: os brasileiros preferirão conviver com um pesadelo a acordar para a realidade?
Gilles Gomes de Araújo Ferreira
domingo, 9 de abril de 2006
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