Claro que é. E vou votar nessa besta. Não tem problema, sempre votei em bestas – em Collor e Fernando Henrique e assim por diante.
Votar, por definição, é votar numa besta. Quem diabos vota feliz, vota empolgado? Voto em qualquer um para evitar Lula, de qualquer modo.
Me mandam denúncias contra o PSDB. Acredito em todas, e se não me mandassem nenhuma já tinha imaginado coisas piores de qualquer maneira. Mas que tenho eu com o PSDB? Que tenho eu com qualquer partido?
Eu estranho que existam pessoas que defendam qualquer partido. É mais ou menos como ir num bingo; não acho socialmente aceitável. Olha a cara dos deputados. Olha os ternos.
Escuta, não sei nos outros países, mas no Brasil os políticos todos têm mais ou menos o mesmo nível intelectual e social dos motoristas que vejo fumando na garagem quando vou levar minha cachorra pra passear. Até nos nomes: Ademar, Jair. Sou esnobe demais para gostar dessas coisas e acho que elevadores de serviço foram criados justamente para gente como Gabriel Chalita, o suposto possível Ministro da blá-blá-blá (me entediei antes de terminar a frase).
Vou votar no PSDB, mas não tenho dúvida que os dois partidos são feitos de gente burra, e que os dois são feitos de gente corrupta, e que os dois são feitos de gente socialmente inaceitável – você olha para a cara desses candidatos e sabe que são o tipo de gente que pede licença antes de entrar em casa e chamam pessoas sem diploma de médico de “Doutor”.
Mas o PSDB tem esta vantagem em relação ao PT: são burros demais para ter uma ideologia. São menos perigosos, porque são intelectualmente vazios demais para conseguir defender uma teoria que seja. O PT é mais perigoso. Por causa da ideologia, jornalistas e escritores e blogueiros e cantores de MPB e atrizes (nessa ordem descrescente de nível intelectual) não têm vergonha de defender o PT contra cada acusação de corrupção, abuso de poder e idiotice. Não existe a mesma coisa do lado do PSDB, cuja única vantagem é que ninguém que não seja diretamente envolvido com ele é fanático por ele. O que o PSDB defende? Coisa alguma, que é exatamente o que qualquer partido no mundo deveria defender.
Quero que Alckmin ganhe, mais ou menos, mas se ele ganhar vou passar quatro anos concordando com todas as acusações contra ele, e me aliando (nem que seja em pensamento) a todos que fizerem oposição a ele - até mesmo Clóvis Rossi, Chico Buarque, Marilena Chauí, essa gente toda que eu não deixaria subir pelo elevador social. Mas o tempo todo vou lembrar que essa gente só é oposição quando lhes convém. São oposição esporadicamente, dia sim, dia não, quando não chove, etc. São gente que defende governos, credo. São gente que se alia a partidos.
Eu achava que as pessoas que vieram do Pasquim, que escreviam contra a ditadura e faziam música de gente fanha contra a ditadura, que lutaram no Araguaia ou que imaginaram que lutaram no Araguaia num delirium tremens enquanto bebiam no Antonio´s, e que durante tantos anos falaram da Beleza e da Nobreza de ser Oposição, eram honestos quando falavam isso e que iam ser oposição para sempre. Mas pouco antes de Lula entrar já eram governistas, cheios de “veja bem” e “por outro lado”. Estão defendendo o governo até agora, não têm a menor vergonha. Toda aquela história de “hay gobierno? soy contra” e “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”, era complete bullshit.
De qualquer modo é engraçado ver o partido que sempre se disse moralmente melhor do que todos os outros gritando que os outros são tão ruins quanto ele.
Eu me sentiria diferente, claro, se estivéssemos numa monarquia. Nesse caso ficaria todo emocionado vendo o retrato do Rei, juraria lealdade eterna, essas coisas. Choraria discretamente no casamento dele e carregaria uma imagenzinha do casal real numa correntinha junto do peito.
Seria bacana.
Se um filho meu dissesse alguma coisa desrespeitosa ao Rei, lhe daria um tapão na nuca que o seu boné de hélice iria parar na tartine de limão três metros adiante. De verdade.
Mas eu não vou fazer isso por Alckmin, Jesus. E realmente tenho nojo de quem fez isso por Lula.
Fonte: Alexandre Soares Silva
Gilles Gomes de Araújo Ferreira
sábado, 1 de abril de 2006
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