Gilles Gomes de Araújo Ferreira

segunda-feira, 10 de abril de 2006

A falta que faz um líder

Dominique de Villepin, primeiro-ministro francês, recuou. Anunciou que vai retirar - ou melhor, substituir - o artigo 8º da lei que trata do Contrato do Primeiro Emprego, justamente aquele que dava flexibilização às leis trabalhistas francesas ao permitir que empregadores demitam jovens até 26 anos sem a necessidade de justa causa após 2 anos de serviço. Sindicalistas e estudantes saíram às ruas para protestar contra a medida, convocaram greves, atiraram paus e pedras contra a polícia e fizeram uma imprensa um tanto quanto entusiasmada relembrar de novo - o pleonasmo é proposital - o famigerado Maio de 1968, ainda que não tenha nada a ver com ele. Já tinha escrito sobre isso anteriormente.

O alvo da minha atenção agora é outro. Que os estudantes e sindicalistas franceses não estão com a razão não parece muito difícil de provar. Ainda mais quando têm como líder um rapaz que admitiu nunca ter trabalhado na vida e que é filho de uma prefeita filiada ao maior partido de oposição francês, o Partido Socialista. Mas quem falou que esse pessoal gosta de raciocinar? O tal "apelo à razão" repetido como um mantra pela intelectualidade midiática não passa de propaganda para as massas, um artifício a fim de conferir legitimidade às suas propostas. Na maioria das vezes agem por instinto.

Roberto Campos, lúcido como poucos, uma feita escreveu: "Nossas leis, assim como a Constituição de 1988, são abundantes em garantias. O problema é que o irrealismo das promessas e reinvidicações resulta no crescimento do mercado informal, à margem das leis. Isso enseja a formulação de uma nova lei sociológica: 'a redução do número de garantidos é diretamente proporcional à ampliação das garantias' ". Claro como água.

O problema dos franceses - e não só deles, que fique bem claro - é que eles não têm líderes, apenas políticos. Villepin recuou quando o Liberatión, jornal esquerdista fundado pelo stalinista Jean-Paul Sartre divulgou uma pesquisa onde sua popularidade caía de 49% para 25% e sua desaprovação subia de 56% para 64%. O presidenciável falou mais alto.

A Baronesa Margaret Hilda Thatcher, primeira-ministra inglesa de 1979 a 1990, assumiu um país como a França, onde sindicalistas formavam um Poder à parte - de novo, não é só lá -, rosnando a qualquer um que demonstrasse interesse por seu feudo: a legislação trabalhista. Enfrentou greves, protestos e atentados. Grevistas impediam outros mineiros de trabalhar, com o uso inclusive da violência. A Dama de Ferro ainda fechou todas as minas deficitárias, privatizou estatais, diminuiu impostos e o tamanho do Estado. Numa reunião da Câmara dos Comuns, atirou um livro de Hayek sobre a mesa dizendo "É nisso que eu acredito!"

Nos anos 70 o Reino Unido era considerado o "doente" da Europa e muitos acreditavam que seria a primeira nação desenvolvida a retroceder ao status de país em desenvolvimento. Quando Thatcher deixou o poder, por uma manobra do próprio partido e que chocou a ilha, a Grã-Bretanha era a mais bem sucedida das economias modernas e o desemprego tinha caído.

Em 2003 manifestantes depredaram o Palácio do Planalto quando o governo pôs em votação a Reforma da Previdência, extremamente necessária e que ainda não foi regulamentada. A Reforma Tributária também não será levada à votação tão cedo, ninguém consegue desmontar o Estado de Bem Estar Social, por mais ineficiente e caro que seja.

Houve um presidente, Campos Sales, responsável por colocar em ordem as finaças do Brasil, vítimas da política econômica do Águia de Haia Ruy Barbosa, um plano tão falível que seria motivo de deboche por qualquer aluno do ensino médio. Extremamente impopular, era na época chamado de Campos Selos, por causa do imposto filatélico. A História acabou por dar-lhe razão. Reformas econômicas, ainda que impopulares devem ser implementadas.

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