O Púlpito Conservador

Gilles Gomes de Araújo Ferreira

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal de S.A.I.R. D. Luiz de Orleans e Bragança

"Face à notícia do surgimento de um superior, pode-se ter dois movimentos de alma.

Um consiste em alegrar-se e desejar vê-lo, homenageá-lo, servi-lo. Esta é a nobre atitude de quem não vive para satisfazer unicamente as suas conveniências, os seus caprichos, as suas paixões. É a atitude de quem tem um ideal, o ama e quer vê-lo realizado.

Outro é o movimento de alma do egoísta, do orgulhoso, do sensual. O aparecimento de um superior provoca em sua alma torpe um ódio implacável, um desejo de afastar o que vai ser mais do que ele e ao qual deverá submeter-se, um impulso de, se possível, eliminar quem ele passa a considerar um desmancha prazeres, um intruso.

Herodes era um perfeito exemplo dessa segunda categoria de almas. Idumeu de origem, com pouco sangue judeu, por meio de intrigas e baixezas junto ao César romano, bem como de violências na Terra Santa, ele usurpara o trono de Israel e nele se mantivera por mais de quarenta anos. Tendo perfeita noção de que os israelitas esperavam o Messias prometido por Deus e anunciado por seus Profetas, o qual poderia arrebatar-lhe o trono de David, turbou-se profundamente com a notícia que lhe traziam os Magos vindos do Oriente. “E toda Jerusalém com ele”, pois seus súditos temiam mais uma série das violências de que era costumeiro.

Astuto, fingiu alegria e pediu aos Reis Magos que lhe relatassem, ao passar por Jerusalém no caminho de volta, o local onde se encontrava o Menino - a fim de matá-lo. Mas Deus frustrou seu intento fazendo com que um anjo avisasse em sonho os Magos que tomassem outro caminho de regresso, sem passar pela Cidade Santa. Herodes, vendo frustrado seu plano, tomado de fúria mandou matar todos os meninos de dois anos ou menos que estivessem em Belém e nas cercanias, na esperança de assim atingir o recém nascido Rei dos Judeus. Sua memória será por isso para sempre execrada como a de um tirano que não teme a Deus e não recua diante de nenhum crime para se manter no poder e satisfazer suas paixões. Entretanto, também São José fora instruído por um anjo, para que a Sagrada Família fugisse a tempo para o Egito.

Bem outra foi a conduta dos Reis Magos. Oriundos, segundo vários exegetas, da Mesopotâmia, da Caldéia ou da Pérsia, eles esperavam ansiosamente a vinda do Rei dos Judeus, que devia, segundo as profecias, restaurar a ordem do mundo, profundamente turbada pelos pecados dos homens e das nações. Tendo notícia dessas profecias, que o proselitismo dos judeus difundira pelo Império Romano e especialmente por todo o Oriente, sentindo como todos os seus contemporâneos que os tempos estavam maduros, (conf. Virgílio: Eclog. IV, 4-59; Tácito: Hist. V, 13; Suetone: Vespas, IV; Flávius Joseph: Bell. Jud., VI, v, 4), eles procuravam em seu estudos astronômicos a estrela que devia anunciar o Messias esperado. Afirma o exegeta Louis Claude Fillion: “Para esses astrônomos a estrela era, segundo o belo pensamento de Santo Agostinho, uma linguagem exterior bem capaz de excitar a sua atenção e a sua fé. Mas, evidentemente, a essa linguagem exterior se associou uma palavra muito mais clara, uma revelação divina, que lhe deu o sentido e os instou a ir pessoalmente a oferecer as suas homenagens ao rei dos Judeus”.

Reconhecida a estrela, os Magos se alegraram imensamente e, mesmo não sendo Judeus, resolveram segui-la para ir adorar o Menino e levar-lhe o tributo de seus tesouros: ouro, incenso e mirra. O ouro devido aos Reis; o incenso, a Deus; e a mirra, planta odorífera que servia para embalsamar os mortos, ao Redentor do gênero humano, que seria crucificado, morto e sepultado para resgatar os nossos pecados. Consagraram-se, assim como aos povos que regiam, ao Deus Menino. E, voltando às suas terras, se empenharam em que lá fosse observada a Lei de Deus e a Lei Natural.

A iconografia católica os representaria, no futuro, como um branco, um pardo e um negro, representantes das três principais raças da gentilidade, descendentes de Sem, Cam e Jafé, de que resultariam os povos que se submeteram à Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Seu exemplo serviu de inspiração para um Santo Henrique, soberano do Sacro Império Romano Alemão, um Santo Eduardo da Inglaterra, um São Luís IX rei de França, um São Fernando III de Castela, um São Casimiro da Polônia, reis que ilustraram a Idade Média, época bendita da História que o Papa Leão XIII descreveu na Encíclica Immortale Dei com estas luminosas palavras: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”. 1

Nas comemorações natalinas, as virtudes dos Reis Magos serão lembradas com enlevo até o fim dos tempos. Suas relíquias são veneradas na majestosa Catedral de Colônia, jóia do gótico alemão.

A memória de Herodes, a quem se pode aplicar a palavra de S. Paulo: ”Esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao próprio ventre. E com palavras adocicadas e linguagem lisonjeira enganam os corações simples” – Rom. XVI-18 - será execrada por todos os séculos, enquanto o exemplo de submissão a Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Reis Magos, será seguido por todos os Chefes de Estado que realmente querem a Glória de Deus e o bem de seus povos.

Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nos alcance logo de Seu Divino Filho a graça de vermos a Terra de Santa Cruz governada por homens que tenham por ideal a maior Glória de Deus e a exaltação da Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, a salvação das almas e o verdadeiro progresso cristão. Veremos, então, nossa Pátria alcançar um esplendor dificilmente imaginável. Veremos a realização da promessa de Nosso Senhor: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas vos serão dadas em acréscimo” S. Mateus: VI, 33."

domingo, 16 de dezembro de 2007

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Smith e a falência da democracia


Chegam da África do Sul as notícias do falecimento de Ian Douglas Smith, ex-Primeiro-Ministro da ex-Rodésia. Em 1965 o filho de imigrantes escoceses tornou-se o primeiro colono branco a se rebelar contra a Coroa britânica desde a Revolução Americana. Opondo-se à política adotada pelo Império Britânico de só conceder independência depois que o poder nas colônias africanas fosse entregue à maioria negra, a Declaração Unilateral de Independência (UDI) fez com que a minoria branca, cristã e civilizada não ficasse refém da maioria negra, tribal. Tal posição teve conseqüência óbvia: Mr Smith tornou-se um homem odiado e vilipendiado em todo o mundo.

No ano seguinte, as Nações Unidas impuseram sanções econômicas contra a Rodésia, e não havia país no mundo, nem mesmo a África do Sul do apartheid, que não denunciasse aquele país.

Ao contrário do que acontecia ao sul da fronteira, Ian Smith não era, ao contrário do que juram seus detratores, racista ou supremacista branco. Sua recusa em aceitar o poder da maioria negra estava baseada na percepção, politicamente incorreta mas acertada, de que os baixos índices educacionais e de desenvolvimento cultural dos nativos não permitia o sucesso de uma democracia. Não havia segregação e os negros tinham reservadas 16 das 66 cadeiras do Parlamento.

Para o queniano Mukui Waruiru, fundador do African Conservative Forum, Mr Smith foi o primeiro revolucionário liberal clássico de toda a África. "Há muito os liberais clássicos dizem que não se pode construir uma sociedade livre sem um sistema político que proteja os direitos de propriedade. O filósofo inglês setecentista John Locke, prescreveu que os pré-requisitos de uma sociedade livre são a proteção da vida, da liberdade e da propriedade. (...) Se mantivermos esse entendimento de liberalismo, Ian Douglas Smith, ex-Primeiro Ministro da Rodésia, pode ser considerado o primeiro revolucionário liberal clássico".

Apesar da condenação de todo o mundo, e sofrendo pesadas sanções econômicas, em meados dos anos 1970, a Rodésia tinha, proporcionalmente, a maior classe média negra de toda a África. Ao final da década o poder foi entregue à maioria negra, liderada pelo militante marxista Robert Mugabe. E começou o declínio da ex-Rodésia, agora Zimbábue. Uma das economias mais fortes do continente tornou-se uma das mais frágeis, com desemprego de 80% e inflação anual de 15.000%.

A Rodésia da democracia limitada tinha tribunais independentes e um sistema político multipartidário. O líder da oposição era negro, e era livre a manifestação de pensamento. No Zimbabwe da democracia pura, a tirania legitimada por eleições fraudadas, confisco de terras, intimidação de opositores. Antes, o melhor sistema educacional da África. Agora, mais de um quarto dos professores já deixaram o país. Com Smith, uma renda per capita igual à da Malásia. Com Mugabe, uma renda per capita pior que o Haiti.

A situação do Zimbabwe é ilustrativa. A democracia não funciona pra todos, e a bem da verdade, talvez não funcione pra ningém. Gana, o primeiro país africano a se tornar independente, foi também o primeiro país africano a sofrer sob a ditadura de um partido único. A regra nas democracias ocidentais, "one member, one vote". A regra nas democracias africanas, "one member, one vote, one time". Quem quer que chegue ao poder, acabará por estabelecer uma ditadura legitimada por urnas. Houve mesmo decretos parlamentares extinguindo a oposição.

Quando Smith resisitiu à entrega do poder à maioria negra, os belgas já haviam fugido do Congo, e as fronteiras da Rodésia estavam entregues a Idi Amin Dada, Mobutu Sese Seko, Hastings Banda e Kenneth Kaunda. A pergunta que ele fazia é por que na Rodésia seria diferente. Não foi. Nem na Rodésia, nem no Iraque, ou no Irã, ou na África do Sul, ou na Venezuela.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Fecha-te, Sésamo

A União Democrática de Centro (UDC) é o partido mais votado das eleições legislativas suíças, conquistando 30% dos votos e 62 cadeiras no Conselho Nacional. Os expertos em prescrever receitas para fazer o mundo um lugar melhor fazem beicinho, “assim não pode!”.
Não foi surpresa: a UDC já era o maior partido da câmara baixa. O motivo de tanta comoção é que a União não só manteve a maioria como a ampliou – a maior vantagem eleitoral desde a Primeira Guerra – ao mesmo tempo em que a UDC adotou um discurso mais direto em relação à imigração.

Extrema direita, ultradireita, antiimigrante, xenófobo, racista. Não houve, no Brasil nem no exterior, quem não se valesse de ao menos um destes adjetivos para caracterizar a UDC. E no entanto, a principal proposta do partido, a deportação de estrangeiros condenados pela justiça, não tem bases racistas ou populistas, mas está ancoradas em números oficiais.

Os estrangeiros são atualmente 22% da população do país. No entanto, eles cometem 85,5% dos estupros, 66% dos crimes de extorsão, 55,5% dos homicídios e quase 50% dos assaltos. Em 2001 a proporção de asilados que cometem crimes é 12 vezes maior do que o número de suíços natos criminosos. Apenas 30% dos ocupantes das prisões da Suíça nasceram no país.

Mas tem mais: a vitória de um partido que tem restrições à imigração como principal plataforma num país em que conceder asilos e receber imigrantes é uma tradição é simbólica dos ventos de mudança que agora sopram na Europa. A preocupação com a imigração em massa deixou de ser exclusiva de reacionários sulistas americanos para ocupar o espaço central das discussões políticas das sociedades ilustradas do velho mundo.

Da tradicional Espanha à liberal Suécia, da racional França à sentimental Itália, cada vez mais as populações nativas demonstram desconforto com os povos recém-chegados. E se a princípio tais preocupações giravam em torno de conceitos abstratos, mas não menos legítimos, como identidade e unidade nacionais, hoje a inquietação está baseada em noções cada vez mais concretas, logo cada vez mais fáceis de serem percebidas.

Nenhum país abraçou com mais afã a noção de politicamente correto do que a Suécia. Desde o final do século XIX o país tornou-se campo de provas da esquerda liberal. Afirmava-se à época que “se não funcionar na Suécia, não irá em nenhum outro lugar”. Depois, aplicavam-se as mesmas medidas em outros países do mundo com o argumento de que na Suécia, a ponta de lança da civilização, assim havia sido feito. Com o multiculturalismo foi assim. E para os suecos, que gostam de brincar de consenso, está cada vez mais difícil fingir que não existe problema com seus imigrantes.

Em Malmö, no sul, eles somam um terço da população, e 90% deles vivem sob o famigerado Estado de Bem-Estar Social sueco. Na escola local, Rosengrad, apenas 2 dos 1.000 alunos são suecos. Em 2004, o número registrado de roubos aumentou 50%, e a polícia agora tem de lidar com gangues de jovens muçulmanos especializadas em atacar idosos. O número de “estupros por emboscada”, termo do Chefe de Estatísticas da polícia de Malmö, mais que dobrou, um aumento causado principalmente por jovens muçulmanos que atacam as “vadias”, ou seja, aquelas que não seguem os costumes islâmicos.

No resto da Escandinávia não é diferente. O número de estupros também dobrou em Oslo. Na Noruega e na Dinamarca, dois terços dos detidos por esse tipo de crime são de “origem étnica não-ocidental”, ainda que eles somem menos de 5% da população. Na Dinamarca, todos os estupros grupais nos últimos anos foram cometidos por imigrantes ou refugiados.


O problema da criminalidade fica ainda mais difícil de ser resolvido quando se sabe que a polícia não se atreve a entrar em regiões de maioria muçulmana. “Se estacionarmos nosso carro, sabemos que ele será incendiado – por isso sempre temos que ir em dois carros, um protegendo o outro”, diz um policial, Rolf Landgreen. A violência não é dirigida apenas a viaturas, mas também a ambulâncias. Enfim um motivo para nos orgulhar: estado paralelo é coisa de primeiro mundo. Não é mais exclusividade nossa; e também não está restrita à Suécia.

Na França de Nicolas Sarkozy a polícia também resiste em entrar naquelas que estão sendo chamadas na Europa de Áreas Urbanas Sensíveis. Em tais regiões a sharia substitui as estruturas jurídicas estatais. Como se fosse preciso. Cada vez mais as cortes de justiça estão legitimando a lei maometana.

Na Grã-Bretanha, por exemplo, o juiz-chefe da Corte Criminal Central de Londres, Peter Beaumont, anunciou antes de um julgamento que “por razões óbvias, quaisquer membros do júri seguidores da fé judaica ou hindu devem se revelar, mesmo se forem casados com uma judia ou uma hindu, porque não são apropriados para julgar este caso”. As “razões óbvias” são que pelas leis islâmicas, um infiel não pode julgar, nem mesmo testemunhar contra um muçulmano.

Na Bélgica, o dono de um restaurante armênio viu seu estabelecimento ser saqueado por jovens turcos enquanto a polícia assistia impávida à cena. Dias antes, um jornalista belga de etnia turca foi atacado por jovens também turcos em frente à embaixada americana. Ele foi pego depois que um policial impediu que ele se abrigasse em sua viatura. Não é difícil entender porquê.

Desde a semana passada jovens muçulmanos têm enfrentado a polícia e incendiado carros nas ruas de Amsterdã. Os distúrbios começaram quando uma policial atirou e matou um marroquino que a ameaçava com uma faca. Ela e uma colega foram espancadas e por pouco escaparam da morte. O que os incomoda é o fato de que um deles foi morto por uma infiel. O marroquino, Bilal Bajaka, era amigo pessoal de Mohammed Bouyeri, assassino do cineasta Theo Van Gogh, e irmão do líder de um grupo preso há dois anos por tentar explodir um Boeing no aeroporto de Amsterdã. Os incidentes têm sido pouquíssimo noticiados fora da Holanda.

A disposição em agradar, ou pelo menos não incomodar, as populações islâmicas têm ultrapassado as raias do surrealismo. Ainda este mês o supervisor de um aeroporto de Londres foi suspenso depois de ofender um muçulmano ao pendurar uma imagem do Sagrado Coração de Jesus em seu escritório.

A atitude européia passou de condescendência à submissão, uma mudança ilustrada pelo (tomem fôlego) ex-Ministro para Democracia, Assuntos Metropolitanos, Integração e Igualdade de Gênero Jens Orback, “Temos de ser abertos e tolerantes em relação aos muçulmanos porque, quando eles forem maioria, eles agirão dessa forma em relação a nós.” Além do que se pode chamar, no mínimo, de ingenuidade, a fala do então ministro revela qual é a verdadeira preocupação dos europeus em relação ao futuro, preocupação expressada pelo Ministro da Justiça da Holanda, Piet Hein Donner. “Se dois terços de toda a Holanda amanhã quiserem introduzir a sharia, isso seria possível. Como impedir isso legalmente? De todo modo, seria um escândalo dizer que 'isso não é permitido!' A maioria manda. É essa a essência da democracia”.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Fábula

Bebia água no Vístula um cordeiro
chamado Baranówicz, quando um lobo,
coronel Wolfgang, veio e, sobranceiro,
lhe disse:

– Você pensa que sou bobo,
que eu não o vejo envenenando o rio
há muitos anos e espalhando a Peste?

– Mas nós morremos séculos a fio,
também de causa igual.

– Não me moleste
com esse irrelevante pormenor.
Vocês são todos ricos e eu sou pobre.

– Como sou rico se não tenho cobre?
Os Senhores controlam a maior
empresa, enquanto eu estou desempregado.

– Você conspira e apóia, do outro lado
do Vístula, o inimigo. Não insista,
capitalista-ovino-bolchevista.

– Mas os ursos de lá, seus caros primos,
nos comem com desculpa semelhante...

– Você, cosmopolita como vimos,
não é nada ariano.

– Como assim?
Perdoe-me, não queria ser pedante,
mas aries é carneiro em bom latim.

– Sei disso e, embora seja um lobo culto,
um Kulturwolf, não lhe darei indulto
porque vocês mataram Jesus Cristo.

– Foi a loba romana que fez isto
e mesmo que um cordeiro fosse o algoz
de quem, como Agnus Dei, era um de nós,
seria assunto nosso.

– Ovino arisco
e cínico, já chega de pilhéria.
Ordens se cumprem: vamos, pois no aprisco
de Oswiécin há trabalho que libera.
Farei, após havê-lo tosquiado,
com sua pele de cordeiro um manto
para aquecer-me neste inverno enquanto
nós lobos conquistamos Stalingrado.

Desprezando os balidos derradeiros
de Baranówicz - livres dos cordeiros! -,
os outros ruminantes, todavia,
passavam perto sem perder a calma.
Wolfgang, formando-se em filosofia
anos depois (com a tese acerca D'Alma
Lupina e seu Transcendental Destino),
reingressou, pela esquerda, na política
(não sem antes fazer sua autocrítica)
para conter o imperialismo ovino.

_________________________
Nelson Ascher, em Algo de Sol.

Margaret Thatcher defende o Liberalismo



I believe passionately that people have a right, by their own efforts, to benefit their own families; so we've taken down taxation. It doesn't matter to me who you are or what your background is. If you want to use your own efforts to work harder, yes I'm with you! All the way.

Nem a favor, nem contra; muito pelo contrário

450 mil mortos. 2,5 milhões de refugiados. Vilarejos incendiados. Estupros em massa. Rapto de crianças. Contaminação de fontes de água. Em Darfur, no Sudão, o maior desastre humanitário desde Ruanda. Desde 2003 uma milícia árabe, os janjawid, persegue, tortura e mata a população negra sudanesa. Apesar de negar publicamente, o Governo do Sudão oferece apoio financeiro e tático aos milicianos, e não raro, participa de ataques conjuntos.

Darfur é uma tragédia e a comunidade internacional deve trabalhar para que a desgraça chegue ao fim. É o que dizem os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França, a Espanha e o resto da Europa, o Canadá, a Austrália e Israel. É o que pedem as Nações Unidas, a União Africana, a Anistia Internacional, os Médicos Sem Fronteiras e o Tribunal Penal Internacional. Em 2004 o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para emitir uma condenação formal ao país. O Brasil era um dos membros rotativos do Conselho. E votou contra a condenação. Ficou ao lado de China, Paquistão e Argélia. O representante brasileiro na ONU, Ronaldo Sardemberg, disse que o Brasil prefere dar mais tempo ao Sudão. Mais de 10.000 pessoas morrem por mês em Darfur.

A Birmânia, ou Mianmar, é há mais de quarenta anos governada por uma junta militar. No final de setembro um grupo de monges – que têm status de semi-divindade em um país profundamente religioso – marcharam pela capital em um protesto contra o regime militar. No dia seguinte, foram acompanhados por 100.000 pessoas. Em resposta, tropas atiraram contra manifestantes, o acesso a telefones e à internet foi limitado e o toque de recolher foi decretado.
De Nova Iorque, onde acontecia a 62ª Assembléia Geral das Nações Unidas, vários países lançaram críticas ao regime birmanês. O Presidente George W. Bush impôs novas sanções ao país. O Primeiro-Ministro Gordon Brown pediu eleições livres. O Itamaraty limitou-se a lamentar e declarar que espera que “uma solução seja alcançada por meio do diálogo entre as Partes (sic)”. Na última vez que manifestantes protestaram por democracia na Birmânia, em 1988, 3.000 foram mortos por tropas militares.

Na mesma Assembléia, o Presidente Luiz Inácio saiu em defesa do programa nuclear iraniano. Para Lula, o Irã tem direito de enriquecer urânio “como uma coisa pacífica, como o Brasil faz”. Lula não explicou qual a utilidade do urânio “como uma coisa pacífica” para um país sentado sobre a maior reserva de gás natural e a 2ª maior reserva de petróleo de mundo. Lula também perdeu a oportunidade de deixar claras outras diferenças – as que realmente importam – entre nós e Teerã. De dizer que ao contrário dos aiatolás, o Brasil não tem inimigos declarados, nem desejou que um país fosse “riscado do mapa”, nem financia tropas rebeldes em outros países, nem mantém um regime de exceção, nem menospreza os direitos individuais. Como Presidente da República, cabe a Luiz Inácio a defesa das instituições brasileiras. Ele preferiu, ao contrário, rebaixar seu país ao patamar de uma teocracia autoritária.

O serviço diplomático brasileiro carrega uma tradição de eficiência e discrição. Nos últimos anos, perdeu os dois. O Itamaraty ainda dispõe de excelência em seus quadros. O problema é que ninguém responde “bom dia” antes de autorizado por Brasília. Se as recentes decisões tomadas pelo Brasil no cenário internacional são difíceis de entender, o contrário acontece em relação às razões por trás delas. Não é recente a ambição por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança. Recente é a forma com que se tenta tornar real esse desejo. Ao invés de justificar o propósito com coragem e mérito, prefere-se agora atirar os escrúpulos às favas para prestar favores, esforçando-se para ganhar a simpatia de um bando de esfarrapados. Não deveria surpreender: esse é o jeito petista de fazer política.

“A atitude do Brasil pode ajudar muito nos negócios”, afirmou um diretor do Ministério das Finanças sudanês ao Estado de S. Paulo. Para um país que começa a se acostumar a medir o sucesso de sua diplomacia pelos índices da balança comercial, com um Presidente que compara suas visitas ao exterior às de um caixeiro viajante, fica a dúvida sobre se a “neutralidade” adotada será abandonada tão logo o Conselho seja reformado. Não; porque o que o Brasil pratica não é neutralidade, mas bisonha timidez.

A neutralidade, inventada pelos suíços no século XVI, tinha um propósito interno. O Estado não se achava no direito de representar a opinião de seus cidadãos, uma vez que elas não eram comuns. E se a intenção é ser neutro, pra quê tanto afã em conquistar poder de decisão? Só pra satisfazer a vaidade dos que não perdem a oportunidade de se proclamarem estadistas?

Até hoje as FARC não são reconhecidas como um grupo terrorista, apesar de repetidos pedidos do Governo colombiano. E esta não é uma falta que começou neste governo. Fernando Henrique condecorou Fujimori, e tentou justificar o terrorismo poucos dias depois de 11 de Setembro, ao mesmo tempo que condenava os atentados. Não é que o Brasil decida errado; o Brasil não decide. É o Sr. Eco, tentando ao mesmo tempo agradar a Deus e a Mamon. E quem fica no meio da estrada, dizia Margaret Thatcher, acaba atropelado pelos dois lados.

Regresso

Sim, estamos de volta!

domingo, 10 de junho de 2007

Retrato de Família

"Vavá é um cara simples, quase analfabeto, que enrolava as pessoas".
De um delegado da Polícia Federal

Não se brinca com a genética.

domingo, 3 de junho de 2007

A democracia é nossa!

"[A Igreja Católica] é uma associação livre, com todo o direito de praticar lobby - como já fez por bons motivos, por exemplo, em relação à dívida dos países em desenvolvimento. No que se refere ao aborto, no entanto, ele deve ser contido."


Editorial do The Observer.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

A falta que faz

Vá lá, o Governador José Serra mudou as leis apenas na fachada, e não na essência. Não importa. Serra cedeu. Cedeu porque reagiu de maneira diferente à que seria acertada em uma situação como essa. Cedeu porque não pôde ir adiante com a promessa de desocupar, com a ajuda de forças policiais, a reitoria da Universidade de São Paulo e restaurar a normalidade. Cedeu porque não ficou ao lado dos que estavam certos, deixando-os sem qualquer amparo ou direito. Cedeu porque deu às esquerdas uma razão - ainda que falsa, não interessa - para alardear vitória e promover outros distúrbios.

domingo, 20 de maio de 2007

New Labour, New Problems

Lá se vão dez dias desde que Anthony Charles Lynton Blair anunciou a data de sua renúncia, após dez anos à frente do Governo de Sua Majestade. E há dez dias a imprensa brasileira não fez mais do mostrar que para ler jornais hoje em dia é um ato de fé sobre-humano.

Em editorial, o jornal O Globo classificou Blair como “um dos mais brilhantes políticos ingleses (sic) após a Segunda Guerra Mundial”. Para o Estado de S. Paulo, ele é “um dos grandes estadistas de sua longeva nação, se não o primeiro do mundo na virada do século”. E segundo o Jornal do Brasil ele é o “quase estadista” que “resgatou a economia do desastre thatcherista”.

Ao mesmo tempo, o Le Figaro publicava que “impopular e desgastado após uma década no poder, [Blair] quer acreditar que a História reservará um bom lugar para seu governo reformista. Aos 43, o mais jovem Primeiro-Ministro britânico desde 1812 investiu em tempo recorde sua liderança. No entanto, escândalos, abusos e a Guerra no Iraque consumiram a imagem do talentoso político. A mágica não funciona mais”.

Existe uma diferença fundamental entre os jornais acima: o Le Figaro tem um excelente correspondente em Londres, Rémi Godeau, enquanto os jornais brasileiros se contentaram a The Economist e alguns indicadores. Esta negligência talvez seja suficiente para explicar porque os redatores brasileiros não perceberam que o mais longo governo trabalhista da História foi um fracasso.

“Blair obteve sucesso em várias frentes. O país prosperou, o desemprego caiu, a inflação foi contida, a renda aumentou”, escreveu O Globo. O Estado de S. Paulo foi além: “Só o tempo permitirá enxergar na plenitude a nova topografia econômica, política, institucional e cultural que os seus 10 anos no poder legaram à Grã-Bretanha”.

De fato, sob o duunvirado Blair-Brown, o desemprego diminuiu, a economia cresceu e dinamizou-se, e Londres tomou de Nova Iorque o título de capital financeira do mundo. O sucesso econômico do Novo Trabalhismo sempre foi apontado como a razão pela qual o Labour venceu três eleições consecutivas, na última já bastante enfraquecido por causa da Guerra do Iraque. Aos conservadores, dentro e fora da Grã-Bretanha, restava dizer que Blair não fez mais do que manter as políticas econômicas de Margaret Thatcher.

Em verdade, o êxito não é tão vistoso quanto aparenta de longe. Uma pesquisa publicada neste mês mostra que 45% dos empresários britânicos acreditam que o Labour foi um mau negócio; apenas 32% discordam. Entre 55 países desenvolvidos, a Grã-Bretanha aparece em 20º em um ranking de competitividade.

Nos últimos anos o gasto governamental cresceu 50%. No entanto, não houve aumento no número de funcionários públicos, nem aumento de produtividade: os britânicos pagam mais pelo mesmo. O governo toma emprestadas £55 bilhões anualmente, o dobro em relação a dez anos atrás.

O número de falências corporativas aumentou 10% em 2006 e chegaram a 20.000 – o maior índice em uma década. E o número de concordatas pessoais – legais no Reino Unido – chegou a 100.000. Só neste primeiro trimestre 30.000 britânicos declararam insolvência. A dívida das famílias atinge £2 trilhões – mais do que o PIB da Grã-Bretanha.

O desastre dos trabalhistas não se restringe à economia. “O efeito Iraque impediu [Blair] de completar outro projeto ambicioso: a reforma dos deteriorados serviços públicos nacionais e a modernização do Estado do Bem-Estar Social”, lamentou o Estadão.

Nos últimos dez anos Anthony Blair promoveu a maior reforma constitucional e institucional de toda a História das velhas ilhas, naquilo que Peter Hitchens denunciou como “golpe de Estado em câmera lenta”. E aqui também ele falhou.

Tomemos o sistema de saúde público britânico. Sempre visto com orgulho pelos britânicos, onde nos tempos áureos estavam 98% dos médicos do país, o National Health Service resistiu até mesmo às medidas neoliberais de Margaret Thatcher, que não só não cortou como aumentou em mais de £ 100 milhões o orçamento do Departamento de Saúde.

A saúde pública era um dos temas centrais dos trabalhistas nas eleições gerais de 1997, que insistiram durante toda a campanha que os eleitores tinham “48 horas para salvar o NHS”. Blair aumentou a verba do NHS e implantou reformas estruturais e financeiras em todo o instituto. Dez anos e quatro secretários depois, são estes os números:

Em 2006 as contas do NHS apresentaram um déficit de mais de £ 1,3 bilhão. 177 Departamentos de Acidente e Emergência, 105 hospitais comunitários e 43 maternidades correm o risco de serem fechados. Os britânicos esperam, em média, 20 semanas para serem atendidos em um hospital público.

Outro tema importante na campanha de 1997 era a educação. Ou como Mr Blair costumava dizer, “educação, educação, educação”. Uma vez assumido o poder, Blair cedeu aos apelos da ala radical do Labour Party e abandonou as grammar school. É comum entre os neandertais trabalhistas, para quem as escolas são elitistas e ultrapassadas, a crença de que a preocupação com a gramática “é coisa de burguesia”. Uma década e cinco Secretários de Educação. Hoje, quase a metade dos adolescentes britânicos entre 10 e 12 anos não sabe ler nem escrever.

Menos da metade dos estudantes obtém mais de cinco notas entre A e C. Mais de uma em cada oito escolas é considerada inadequada.

Não houve instituição que ficasse alheia ao ímpeto reformista dos novos-trabalhistas. Para os britânicos, o símbolo dessa disposição é a tentativa de Blair em tentar extinguir o cargo de Lord Chancellor, um posto 250 anos mais antigo que o próprio Reino da Inglaterra. A função não deixou de existir, não porque Blair mudou de idéia, mas porque ele descobriu, na última hora, que não tinha poderes para isso.

Seu próximo alvo passaram a ser as Royal Prerogatives, os poderes da Coroa – não para extingui-los, mas para colocá-los sob sua pasta. Por exemplo, o poder de declarar guerra e paz. Em uma atitude sem precedentes na História britânica, Blair declarou guerra ao Iraque sem antes obter permissão da Rainha. Ele também tirou poderes e acabou com a hereditariedade na Câmara dos Lordes, substituindo-a por um sistema de nomeações. Mais tarde soube-se que muitos dos nomeados eram doadores do Partido Trabalhista. O escândalo cash-for-peer fez de Blair um revolucionário: foi o primeiro Primeiro-Ministro a ser interrogado pela polícia.

E se o mote é romper tradições, Blair conseguiu como nenhum de seus antecessores quebrar a mais significativa tradição britânica: a liberdade. Desde 2005 é preciso ter permissão para protestar pacificamente nas ruas e praças britânicas. O nome da lei que assim determina é o “Ato Parlamentar do Crime Organizado”.

Na “Grã-Bretanha Bacana” de Anthony Blair, pessoas são condenadas por ler em voz alta os nomes dos soldados e civis mortos no Iraque. Um sobrevivente do Holocausto foi expulso da convenção do Partido Trabalhista por murmurar enquanto o Secretário de Exterior discursava.

Liberdades individuais, privacidade e sigilo também estão em risco. O governo planeja criar um grande banco de dados contendo DNA de cidadãos britânicos, mesmo que eles nunca tenham sido acusados de coisa alguma. O direito a um julgamento justo e a presunção de inocência são para Blair um tolice ultrapassada que pertence “à época de Dickens”.

Há dez anos o Partido Trabalhista tinha 405.000 filiados. Hoje são 198.000. Em 1997 Anthony Blair era o mais popular Primeiro-Ministro da História da Grã-Bretanha, com 75% de aprovação. Hoje esse índice é de 22%, o menor de todos os tempos. Apenas 16% dos britânicos consideram Blair um homem “honesto e correto”. Ele que entrou no número 10 de Downing Street como o “salvador”, anunciando “um novo amanhecer”, deixa o poder desacreditado e aplaudido por uma claque contratada.

sábado, 12 de maio de 2007

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Le collin-maillard
Jean-Honoré Fragonard (1732 - 1806)

domingo, 6 de maio de 2007

sábado, 5 de maio de 2007

Nascimento Real em Espanha

A Casa Real espanhola divulgou as primeiras imagens oficiais da Infanta Sofía, nascida no domingo último. Segunda filha dos Príncipes de Astúrias, oitava neta dos Reis de Espanha, é a terceira na linha de sucessão ao trono espanhol, depois do pai, o Príncipe Felipe, e a irmã mais velha, a Infanta Leonor.

O nascimento de Sofía, nome dado em homenagem à avó, a Rainha, serviu para a retomada do debate sobre a cláusula constitucional que confere aos homens preferência na sucessão à Coroa. O Príncipe de Astúrias, por exemplo, é o terceiro filho do Rei Juan Carlos, e tem duas irmãs mais velhas, a Infanta Eleña e a Infanta Cristina.

O debate espanhol é mais brando que o similar japonês. Todos os partidos e todos os meios de comunicação, desde o liberal El País ao tradicionalista Diario ABC concordam com a mudança, tal como ocorreu na Suécia, na Bélgica, na Holanda, na Noruega e no Nepal.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Amália Rodrigues

Tudo isto existe.
Tudo isto é triste.
Tudo isto é fado.

sábado, 28 de abril de 2007

Um fato, duas versões

As 32 vítimas de Cho Seung-Hui ainda não descansavam sob a terra, mas a Internacional Jornalística já deixava claro que não perderia a oportunidade de praticar seu passatempo favorito: os joguinhos de tribunal. Quando convém, os modeladores de opinião tiram das gavetas um roteiro escrito e repetido há décadas, fazendo neles pouquíssimas alterações – afinal de contas, os réus são sempre os mesmos.

No caso do Massacre de Blacksburg, o primeiro e mais previsível culpado foi o direito a comprar e portar armas de fogo. O pensamento vulgar é o de que se Cho Seung-Hui não tivesse armas, ele não teria assassinado dezenas de pessoas.

O politicamente correto não é mais do que umas poucas afirmações prontas e acabadas, e é justamente por isso que seduz tantos. Seu simplismo torna desnecessária uma reflexão pensada sobre qualquer assunto. Os liberais-liberais que gritam “sem armas, sem mortes” são o melhor exemplo a ser aplicado aqui. Se se dedicassem a pensar, perceberiam que o mesmo princípio pode servir a causas não tão politicamente corretas. Se não houvessem imigrantes nos Estados Unidos, por exemplo, não haveria Cho Seung-Hui, e não haveria 32 mortos.

Da mesma forma que Jean-Paul Sartre pedia aos seus que mentissem sobre os crimes soviéticos para não desestimular os comunistas franceses, muitos foram os jornais que aderiram à causa dos colaboracionistas sem qualquer preocupação com a coerência. No dia seguinte ao massacre, o The New York Times trazia editorial pedindo mais uma lei restringindo o porte de armas. E nem mesmo um jornal que construiu uma reputação de sobriedade ao longo de séculos, como o The Times, escapou à tentação do discurso fácil. O que poucos jornais publicaram é que sob leis americanas já existentes, Cho Seung-Hui não poderia ter adquirido aquelas armas. O problema, se vê, não é de falta de normas.

Mas, feliz surpresa, um jornal a que nunca dediquei atenção, o Los Angeles Times, escreveu o melhor comentário sobre o acontecido: o massacre “ocasionou uma onda de conclusões apressadas, tomadas de posição instantâneas e o uso de argumentos antigos”.

Outro a se sentar no banco dos réus do tribunal dos eleitos, mas não por isso menos previsível, foi o american way of life. Em entrevista à edição brasileira do Gramna, a CartaCapital, uma psicóloga social contou que, nos sete anos em que viveu nos Estados Unidos, “acostumou-se a, em locais públicos, estar alerta a possíveis atiradores. ‘Lá, isso não é algo inusitado’.” Para a doutora, a raiz de todos os males está na cultura americana:

É algo que permeia o imaginário americano: “Eu elimino meus problemas jogando uma bomba ou atirando”. Também há uma questão política e histórica que não pode ser desprezada. Os EUA são uma sociedade permeada por relações paranóicas.


Em matéria de desvario, no entanto, ninguém venceu o Correio Braziliense:

É traço dominante na cultura norte-americana que a conquista do sucesso a meta principal da vida. (...) Estudos sociais e pesquisas de comportamento há muito difundidos nos meios acadêmicos estadunidenses mostram que a perseguição ao êxito constitui uma das raízes da violência. É que provoca competição acirrada, muitas vezes desbordante da ética, e não raro responsável pelos excessos de conduta. (...)A disposição do Estado norte-americano de buscar pelo uso da força a imposição de seus interesses no plano externo influencia, nos limites internos, atitudes contrárias à urbanidade e à tolerância. (...)Além do senso comum lastreado na competição, pela ânsia de escapar do insucesso, e da prepotência do Estado no tratamento dos desafios externos, o livre porte de armas se junta para formar o sombrio caldo de cultura onde fermenta a violência.


De uma só tacada os editorialistas conseguiram reprovar, além do porte de armas, o capitalismo e o imperialismo. Só faltou escrever que “em Cuba não existem assassinatos em série”.

A tragédia ocorrida em Virginia Tech deixou clara a diferença entre direita e esquerda, no que se refere à conduta humana: a direita acredita na pessoa, no indivíduo, enquanto a esquerda credita as ações deste a circunstâncias externas – o capitalismo, a exploração, a alienação. Para a direita, a explicação para o massacre reside na personalidade psicopata e anti-social de Cho Seung-Hui. Este que planejou o morticínio com semanas de antecedência, se não tivesse armas, encontraria outro meio tão ou mais eficaz para alcançar o efeito desejado. Lembro-me de um estudante de medicina que, há alguns anos, atirou contra a platéia em um cinema de São Paulo. Mais tarde, já preso, ele afirmou que sua primeira intenção era usar uma granada, mas achou que uma metralhadora “teria mais impacto na mídia”.

Para a esquerda, no entanto, o caráter de Cho Seung-Hui é secundário, e a carnificina é responsabilidade primeiro das facilidades de compra de armas em território americano. E em verdade, Cho não era ruim, a cultura e a sociedade americanas o corromperam.

E se esquerda e direita vêem o mesmo problema de maneiras diferentes, a solução que apontam também é diferente. Para a direita, a transformação do indivíduo deve ser particular, introspectiva, valendo-se da religião, da reflexão ou da filosofia. Para a esquerda, no entanto, não há o que mudar no indivíduo, porque ele não é responsável por aquilo que faz, mas no ambiente à sua volta. Os homens são cúpidos e mesquinhos? Ponha abaixo o capitalismo dos gananciosos ou arrume meio de limitá-lo. E só depois hão de chegar à conclusão de que não é só dinheiro o que os homens ambicionam. Começam então a limitar muito mais.

A esquerda ignora que os homens não são iguais, logo não respondem do mesmo modo aos mesmos estímulos. Mas não é só. A triste verdade é que é justamente essa mentalidade que trouxe à luz um facínora.

Não me lembro onde li que existem dois tipos de fracassados: os grandes fracassados, a quem chamamos “mártires”, e os pequenos fracassados, a quem chamam “as vítimas do sistema”. Cho Seung-Hui tinha um “comportamento agressivo”, ateara fogo ao próprio quarto, e seus escritos tinham um misto de obscenidade e violência. Em uma de suas peças, por exemplo, um filho dá marteladas e atira uma serra elétrica no padrasto. Com um perfil como esse, é fácil concluir que Cho não era o mais popular de Blacksburg.

Rejeitou sugestões de pessoas próximas para que procurasse ajuda psiquiátrica. Em sua mente perturbada ele não era o problema, mas as pessoas que se recusavam a aderir à sua realidade doentia.

Não são poucos os que imprimiram um verniz revolucionário às suas derrotas, e Cho Seung-Hui não foge à regra. Uma vez não tendo sucesso, matou 32 pessoas em protesto contra “os meninos ricos”, na tentativa de deixar de ser mera “vítima do sistema” para ascender à condição de “mártir”, como ele mesmo se descrevera.

Enquanto houverem terroristas, genocidas e morticidas venerados como heróis, por qualquer causa que seja, haverá quem queira se juntar a eles.

Um bom argumento

E o Partido dos Trabalhadores, que nunca gostou muito da democracia, começa a produzir bons motivos para desconfiar dela.

terça-feira, 24 de abril de 2007

domingo, 22 de abril de 2007

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Nascimento Real na Dinamarca

Dez dias depois dos holandeses, agora são os dinamarqueses que estão em festa. O Palácio de Amalienborg anunciou neste sábado - 16h02 horário local, 11h02 horário de Brasília - o nascimento do segundo filho - primeira filha - do Príncipe Frederik, herdeiro do milenar trono dinamarquês, e da Princesa Mary Elizabeth.
Pesando 3,35 kg e medindo 50 centímetros, é a primeira princesa a nascer na Família Real Dinamarquesa desde o nascimento da Rainha Anne-Marie da Grécia, irmã caçula da Rainha da Dinamarca, Margrethe II, há 60 anos. É a terceira na linha de sucessão, depois do pai e do irmão mais velho, o Príncipe Christian, e o quarto neto da Rainha.
O anúncio era esperado desde a manhã, quando a Princesa, com a típica discrição nórdica, chegou ao Hospital do Reino de Copenhague. "Foi um parto muito bonito. Tudo foi fantástico", declarou o Príncipe-herdeiro, que assistiu ao parto. Segundo ele, a menina é "uma preciosidade". A parteira-chefe do hospital, Birgitte Hillerup, declarou que a menina tinha " cabelo escuro" e era "encantadora e adorável". O nome da criança não foi revelado, mas especula-se que se chamará Ingrid, em homenagem à Rainha-Mãe, Ingrid da Suécia, falecida em 2000.
Na Dinamarca, as pessoas decoraram os balcões de suas casas com a bandeira nacional, e não faltaram a cerveja e o skol, o tradicional brinde dinamarquês. Hoje ao meio-dia, horário local, o Real Exército Dinamarquês disparou 21 salvas de canhão da Fortaleza de Holmen e do Castelo de Kronborg.

Fonte: Casa Real Dinamarquesa.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Uma lágrima

Nair Bello (1931 - 2007)

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Condenar os fins e os meios

As Nações Unidas denunciaram ontem que os terroristas iraquianos - ou a resistência, como prefere grande parte da esquerda - estão utilizando crianças e adolescentes com deficiências físicas ou mentais em atentados terroristas. Ao contrário de outros documentos publicados pela ONU, este foi pouquíssimo divulgado pela imprensa brasileira, e o trecho que segue foi escrito por Helena Tecedeiro para o jornal português Diário de Notícias:

"O meu pai sempre me disse que eu era um erro e que só trazia problemas e despesas", revelou Barak (nome fictício) à agência de notícias das Nações Unidas. Com outros cinco filhos para criar, o pai deste rapaz de 13 anos não hesitou em vender o filho "diferente" à Al-Qaeda. Agora, Barak é uma das dezenas de crianças iraquianas com deficiências mentais que os rebeldes treinam para combater os americanos e as forças governamentais. Num relatório ontem divulgado, a ONU adianda que a Al- -Qaeda está a usar estas crianças para perpetrar atentados suicidas.

"Não tenho mãe e nunca fui à escola", explicou Barak. Com a Kalashnikov na mão, o rapaz disse à ONU que agora ajuda "homens que dizem pertencer à Al-Qaeda" e "se fizer bem o meu trabalho vou ser um menino saudável". Os combatentes prometeram a Barak que em breve irá juntar-se à mãe no Céu. Para o seu treinador, Abu Ahmed, os rebeldes até lhe estão "a fazer um favor". "Damos-lhe uma hipótese de ser útil. Em breve será um bom combatente e talvez um dia até se torne num bombista suicida, se Deus quiser".

Citado pela IRIN, o porta-voz do Ministério do Interior iraquiano, Khalid Sami, declarou que as duas crianças usadas num atentado a 21 de Março tinham problemas mentais. "Foram colocadas no carro com dois adultos. Os soldados deixaram o veículo passar porque levava menores. Quando chegaram ao mercado, os rebeldes saíram e detonaram a bomba, matando as crianças e outras cinco pessoas, disse Sami.

Responsáveis de uma organização não governamental (ONG) local disseram à IRIN terem sido alertados para o uso de deficientes mentais em atentados, sobretudo em Diyala, Ramadi ou Fallujah. Algumas das crianças são vendidas pela família, outras são raptadas pelos rebeldes. O porta-voz da ONG, que recusou ser identificado, disse ainda que muitos rapazes que ficaram órfãos desde a invasão americana, em 2003, têm ajudado os rebeldes como espiões ou para distrair os soldados antes de um ataque. Até agora, pelo menos 12 crianças já morreram em atentados.


E enquanto os jornais brasileiros limitaram-se a noticiar o atentado que matou 33 pessoas na Argélia ontem, o espanhol La Razón publica comunicado da "Organização Al-Qaeda nos Países do Magreb Muçulmano", grupo que assumiu a responsabilidade do atentado, declarando "não depor nossa espada até liberarmos toda a terra do Islã de todo cruzado, colaboracionista e agente, desde Jerusalém até Al-Andalus", nome que os conquistadores muçulmanos do século VIII deram à Península Ibérica.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Novo site da Casa Imperial

Já está no ar o novo site da Casa Imperial do Brasil.

Nascimento Real na Holanda


Com 52 centímetros e pesando 4,2 quilos, nasceu ontem a terceira filha do Príncipe Willem-Alexander, herdeiro do trono holandês, e da Princesa Máxima. A menina, é a quarta na linha de sucessão, depois de seu pai e de suas duas irmãs, as Princesas Amalia e Alexia. A Rainha Beatrix visitou o hospital poucas horas depois do nascimento. O nome da Princesa ainda não foi divulgado.

Por todo o país, fitas cor-de-laranja, a cor da Dinastia de Orange, foram amarradas às bandeiras holandesas. Floristas vendem uma tulipa especial, da mesma cor, em homenagem à Casa Real. Homenagens também nas padarias, que vendem tortas com glacê também cor-de-laranja.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Gosford Park

"Oh, but none of us will see it."
Constance, Condessa de Trentham

domingo, 8 de abril de 2007

A defesa dos eternos valores critãos

A ignorância é problema que mais aflige a cristandade atualmente: nações até há pouco cristãs perderam toda a noção de fé, e com ela, uma parte fundamental de suas culturas.

(...)
Ao contrário da idéia, ulteriormente construída, a Inquisição era bem mais misericordiosa do que os tribunais civis: na França, em 200 anos, usou-se da tortura em apenas três ocasiões. Suas cortes foram as primeiras de toda a Europa a garantir uma equipe de advogados de defesa para o acusado. Outra grande ficção é a das Cruzadas: não um proto-colonialismo, mas o último recurso às armas após séculos de provocações e de cruéis atrocidades cometidas por muçulmanos contra indefesos peregrinos cristãos ansiosos por visitar a Terra Santa.

E há também a suposta hostilidade do Cristianismo aos avanços científicos. O mito populista ignora o fato de que tanto Copérnico quanto Galileu desfrutaram de generosos patrocínios vindos de clérigos, que a oposição a Galileu foi provocada por seu fracasso em fornecer provas adequadas para comprovar a teoria de Copérnico (Francis Bacon também acreditava que a teoria era falsa) e pela necessidade de estudar seu impacto na interpretação de escrituras antes de se pronunciar publicamente. Mesmo a eventual condenação de Galileu foi apenas temporária ('donec corrigatur': até que seja corrigido) e foi permitido a cientistas ler os trabalhos que eram proibidos ao grande público.

Como a maioria das teorias científicas está constantemente evoluindo, tal precaução era necessária. Ela torna favorável a comparação com a ciência-glutã de hoje, quando embriões humanos são destruídos na busca de supostas curas médicas que podem ser desenvolvidas com mais eficiência por um método não-controverso de pesquisas com células-tronco adultas. Na semana passada, o Comitê de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Comuns contestou a proibição do governo à derradeira obscenidade, a criação de "quimeras", ou a infusão de DNA de animais em embriões humanos.


Numa época em que a mídia está preocupada com os males passados do escravagismo, não falta quem defenda a idéia de que um ser humano possa ser canibalizado para fornecer partes avulsas ou medicamentos para outros indivíduos. Os critãos têm que fazer com que suas vozes sejam ouvidas neste e em outros assuntos que degradam a humanidade, quando parecemos retroceder a uma versão high-tech das sociedades pagãs que precederam o cristianismo. Hoje, enquanto celebramos a glorificação do corpo humano ascendendo vitorioso sobre a morte, os cristãos deveriam se dedicar à proclamação confiante de seus valores eternos.


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Gerald Warner no Scotland on Sunday.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Os gulags da nossa era

Da Folha Online:

[o capitão da Royal Navy Cristopher Air] disse que os iranianos os submeteram a "jogos psicológicos".

(...)
Os militares disseram que a única mulher entre os detidos, Faye Turney, foi mantida separada dos outros por vários dias e informada que os demais haviam sido liberados. Eles afirmaram ainda que todos foram vendados, algemados e obrigados a dormir em pequenas celas
.

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Agora é só esperar até que o The New York Times, o The Guardian, a União Européia, a Human Rights Watch, a Anistia Internacional e a Tereza Cruvinel comparem as prisões iranianas a Auschwitz.

Para ler o Pato Donald

Leio no Globo que a Embaixada da República Islâmica do Irã em Brasília divulgou nota denunciando do filme 300, de Zack Snider. Não vi o filme, mas conheço a história da Batalha das Termópilas - mais, não é sobre o filme que aqui se trata, mas das reações a ele.

Um jornalista do The New York Times escreveu que o filme teria agradado "os meninos de Adolf'. Uma outra colunista chamou a atenção para o fato de que os persas, os vilões, tinham a pele mais morena do que os espartanos, os mocinhos. Uma conspiração racista de mais de dois mil anos.

E houve, claro, a nota de Sua Excelência, o Embaixador, acusando o filme de "promover o conflito entre as nações." Quem afirma é uma nação que há quase trinta anos declarou guerra ao Ocidente. O texto afirma ainda que com o filme, Holywood "mostrou estar sob o domínio do governo americano." Prova disso, suponho, é que Michael Moore só conseguiu lançar Fahrenheit 9/11 depois de conseguir o beneplácito da Casa Branca.

O filme ainda "vai ao encontro das políticas bélicas dos governantes neoliberais dos Estados Unidos da América", afirma o representante do país que mantém forças policiais em um país vizinho, mantém um programa nuclear censurado pela comunidade internacional e por mais de uma vez pediu que Israel seja "riscado do mapa".

escrevi no passado que Mahmoud Ahmadinejad tornou-se o ídolo dos neonazistas. Além do anti-semitismo, outro fator de atração é a crença de que os persas são descendentes dos arianos. No passado, houve uma aliança entre a Alemanha Nazista e o Reino da Pérsia, que a pedido do Xá passou a ser Irã, "terra dos arianos" no idioma farsi.

Poucos arsenais nucleares são tão válidos quanto os israelenses. Os arabistas podem choramingar no planário das Nações Unidas ou erguer os restos de Arafat, mas desde que se soube do arsenal atômico (nunca confirmado) nenhum Estado tentou fazer tropas marcharem por Jerusalém.

Para os iranianos, o filme, ou a "farsa total", adota os pontos de vista dos judeus e seus aliados para ofender a cultura iraniana. Ora, se a humanidade só conhece uma versão da história, é porque a "pacifista e humanista" cultura iraniana não conseguiu produzir um Heródoto.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

La faute d'État

O chuveiro só funciona por algumas horas por dia, os banheiros são insalubres. "Quando as coisas estão bastante deterioradas, nós organizamos uma rebelião, quebramos tudo e chamamos a atenção da imprensa", diz Marcos, um corpulento garoto marrom. Todos começam a rir quando perguntados sobre os cursos e as atividades do centro. "Os meninos ficam no máximo três anos na Febem; quando saem, têm muita dificuldade para ler e escrever, denuncia Sueli Santiago dos Santos, diretora da Cedeca [Centro de Defesa da Criança e do Adolescente]. Uma das coisas que fazem quando estão entediados é escolher um jovem por dia, entre os novatos, para torturar.

Procurada, a Febem afirma que a situação melhorou. Dá como exemplo a construção de pequenas unidades com capacidade para 60 jovens, em substituição aos centros que mantinham centenas. Mas Wilson Tafner discorda: "Está cada vez pior. Assim como acontece nas prisões, em várias unidades a Febem delega poderes a um grupo de menores. Estes líderes têm direito a telefone celular e podem receber garotas; em troca, garantem a ordem e evitam rebeliões.

(...)
No coração da Febem, o PCC tornou-se um objeto de fascinação. Wilson Tafner descobriu horrorizado, em suas últimas visitas, as preces ao PCC. Reunidos em círculos ao cair da noite, eles começam com um Pai Nosso antes de gritar exaltando as ações do PCC e prometendo a morte de policiais


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Lamia Oualalou, em excelente texto para o Le Figaro, culpa o Estado pela grave situação do sistema penitenciário brasileiro. Ainda que por vezes a reportagem tenda para o discurso politicamente correto de ONGs, este talvez seja o mais bem-feito - e chocante - relato da realidade carcerária do Brasil, e que raramente se encontra nos jornais nacionais.

Quando T. Mulholland gritou fogo | Demétrio Magnoli

Timothy, que não é Leary, viaja sem o auxílio de aditivos químicos. Na madrugada de 28 de março, alguém usou álcool para incendiar a porta dos apartamentos de dez estudantes africanos, na Universidade de Brasília (UnB). As vítimas escaparam pela janela. No mesmo dia, antes que as superfícies calcinadas esfriassem, o reitor Timothy Mulholland extraiu conclusões definitivas: “A democracia sofreu um atentado. O Brasil é um país racista e a UnB é uma universidade de alma racista.” Homem de ação, tanto quanto de palavras, Mulholland crismou a data como “Dia da Igualdade Racial” na universidade.

Mesmo o exagero tem limites. Seria o crime supostamente cometido por alguns supremacistas brancos a prova cabal de que a Nação sucumbiu ao racismo? É razoável atribuir à UnB, como instituição e comunidade acadêmica, a culpa coletiva pelo feito ignóbil de um hipotético fanático da “raça”?

Mulholland gritou fogo quando uma declaração da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria da Igualdade Racial (Seppir), incendiava os espíritos. Ela interpretou como “natural” o preconceito de “negros” contra “brancos”, que no fundo não seria preconceito algum, apenas um bem fundamentado conceito sobre a História: “Aqueles que foram açoitados não têm obrigação de gostar de quem os açoitou.” Em nome do Estado, a ministra disse que 1) a Nação se divide em “brancos” e “negros”; 2) os “brancos” representam no presente os proprietários de escravos do passado; 3) os “negros” representam no presente os escravos do passado; 4) a culpa coletiva e histórica dos “brancos” confere legitimidade à desforra dos “negros”.

Matilde Ribeiro desafia a ciência e se insurge contra o princípio da cidadania. A ancestralidade genética não encontra expressão nos fenótipos “raciais”. Anote, ministra: existem “brancos” que descendem de escravos e seus antepassados podem ter sido “açoitados” por “negros” descendentes de proprietários de escravos.

No pensamento moderno, as pessoas se definem pelas suas potencialidades, ou seja, pelo presente e o horizonte futuro, não pela descendência ou linhagem de sangue, ou seja, pelo passado. Ninguém é culpado por atos de seus antepassados diretos, muito menos por atos de imaginários antepassados “raciais”. É por isso que os conceitos de cidadania e raça são mutuamente excludentes.

O reitor gritou fogo, antes ainda do início das investigações policiais, para fornecer sustentação empírica aos argumentos “teóricos” da ministra. Ambos estão engajados num empreendimento de engenharia social cujo fim é a reivenção do Brasil.

Na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios de 1976, milhões de brasileiros produziram 136 respostas inesperadas para o quesito de cor/raça. Os “acastanhados”, “bronzeados”, “moreninhos”, “queimados-de-sol”, “sararás” e dezenas de eteceteras somaram mais de dois quintos da população, que não se reconheciam nas cinco categorias censitárias do IBGE. A prova de que a “raça” não deitou raízes fundas no Brasil foi interpretada como “falsa consciência” pelos agentes do pensamento racialista, articulados internacionalmente e financiados pela Fundação Ford. Eles iniciaram ali uma jornada de retificação das mentes, com a finalidade de fabricar as duas raças polares na consciência das pessoas. A Seppir, as cotas, o Estatuto Racial e o grito de “fogo!” de Mulholland são instrumentos a serviço desse programa.

A classificação legal e compulsória de raças, complementada pela promessa de cotas para “negros” na universidade, no serviço público e no mercado de trabalho, se destina a fabricar nas estatísticas uma “raça negra”, convertendo os “impuros” à declaração racial “correta”. A difusão oficial do discurso do “orgulho de raça”, apoiado nos pilares paralelos da vitimização e da redenção, se destina a fabricar nas mentes a “raça negra”: os “negros” consagram a sua “negritude” quando aprendem a identificar nos “brancos” os opressores.

Estado, economia e classes sociais são conceitos abstratos que formam a paisagem complexa da política democrática. O ponto de fuga é a produção de um inimigo “concreto”, facilmente identificável pela religião, linhagem ou aparência: o “muçulmano” na Bósnia, o “judeu” no Reich alemão, o “tutsi” em Ruanda, o “imigrante” na França, o “chinês” na Malásia. No Brasil, sob a regência de Matilde Ribeiro, apaga-se a classe social e se inscreve no lugar a “raça” para erguer uma narrativa na qual os “negros” sofreram e continuam a sofrer os “açoites” da “elite branca”. É um flerte, consciente ou não, com a estratégia política de semeadura de ódio.

A UnB de Mulholland é um campo de provas da engenharia das raças. Nela se introduziram as cotas raciais e um “tribunal da raça”, na forma de uma comissão que certifica, pelo exame de fotografias, a “negritude” dos candidatos inscritos no sistema de cotas. Sob o silêncio cúmplice da reitoria, estudantes-ativistas gravam aulas em busca de pretextos para acusar docentes de “racismo”. A raça converteu-se em obsessão, e divergências de opinião ou desentendimentos casuais adquirem sentidos estapafúrdios na tela política da racialização.

Dias depois do incêndio criminoso no alojamento estudantil, a polícia começou a desvendar uma trama de rixas crônicas entre moradores. Festas de arromba, barulho noturno e brigas banais figurariam entre as motivações dos incendiários. Na lista de suspeitos apontados pelas vítimas há um estudante que se descreve como “negro” e outro identificado como “pardo”.

Os policiais, aparentemente, afastaram a hipótese de atentado de cunho racista. As suas conclusões serão impressas, cedo ou tarde, numa nota de página interna dos jornais. No registro histórico, porém, já ficou impressa a versão do reitor, que conta com as vantagens do selo oficial, da precedência temporal e da perenidade solene de uma nova data de memória. Timothy, que não é Leary, viaja com um galão cheio de álcool inflamável e um estoque de caixas de fósforos.



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Demétrio Magnoli no Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Há 25 anos...

Las Malvinas son Argentinas
Or not

Direto do túnel do tempo

Elio Gaspari é um idiota e acha que os iranianos estão certos em manter prisioneiros os quinze marinheiros britânicos capturados na sexta-feira 23 de março no Canal de Shatt al-Arab, na fronteira entre o Irã e o Iraque. Gaspari certamente acredita que a incursão dos militares em águas iranianas faz parte de uma invasão ao país dos aiatolás pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha, prestes a ser executada.

E idiota que é, acredita que estes países já têm soldados escondidos em diversos pontos do Irã, como defendeu o Observer no domingo. Logo, é legítima a denúncia vinda de Teerã de que os quinze marinheiros, além de violadores de soberania, são espiões - um tanto indiscretos, há que se convir, visto que vestiam uniforme e viajavam a bordo de um navio de guerra. Gaspari não é o único. Para alegria dos fanáticos de toalhas na cabeça, os idiotas pululam nas redações.

O Irã afirma que capturou os marinheiros da Royal Navy e da Royal Marines em suas águas, o que constitui uma invasão e legitimaria a detenção. No entanto, o Ministério da Defesa Britânico apressou-se em divulgar a localização em que seus militares foram detidos, valendo-se inclusive de imagens de satélite, e o International Boundary Research Unit confirmou que aquelas eram águas territorias iraquianas.

Pouco depois da detenção, o Irã informou que os britânicos haviam "confessado" a invasão, divulgando em seguida uma carta assinada pela única mulher do grupo, Faye Turney, endereçada aos membros da Câmara dos Comuns. Na carta, Ms Turney escreve que

gostaria que todos vocês soubessem do tratamento que recebo aqui. Os iranianos são gentis, carinhosos e muito acolhedores. Eles não me feriram, mas cuidaram muito bem de mim. Estou sendo alimentada, vestida e cuidada. Infelizmente, durante nossa missão, invadimos águas iranianas. Apesar desse equívoco, eles nos trataram bem e humanamente, motivo pelo qual sou e serei eternamente agradecida. Pergunto aos membros da Câmara dos Comuns, se depois de o Governo prometer que esse tipo de incidente não mais ocorreria, por que ele aconteceu, e por que o Governo não foi questionado sobre isso: "Não é o momento de retirarmos nossas tropas do Iraque e permitir que eles decidam seu próprio futuro?"


Em outra carta, dirigida ao “povo britânico”, Ms Turney afirma ser uma vítima das "políticas intervencionistas dos governos Bush e Blair", e mais uma vez pede a retirada das tropas do Iraque.

Qualquer observador sensato levantaria dúvidas sobre as condições em que foram feitas as declarações de Ms Turney e dos outros marinheiros “entrevistados” pela televisão iraniana. Mas os idiotas preferiram acreditar que a ditadura muçulmana está tratando os “prisioneiros de guerra” a pão-de-ló. Mais, que uma vez em contato com os prodígios da cultura persa, os marinheiros abandonaram os preconceitos ocidentais e aderiram à causa do multiculturalismo e do pacifismo. Na próxima, eles se convertem ao islamismo.

Em 1979 um grupo de estudantes iranianos fez 66 diplomatas e cidadãos americanos reféns na Embaixada dos Estados Unidos em Teerã. Entre os organizadores da invasão estava o representante da Universidade de Ciência e Tecnologia, Mahmoud Ahmadinejad, atual Presidente da República Islâmica do Irã. A situação estendeu-se por mais de um ano, graças à fraqueza do então Presidente Jimmy Carter.

George Savile, Marquês de Halifax, já no século XVII explicava que “não se enforca um homem por ele ter roubado cavalos, mas para que os cavalos não sejam mais roubados”. Tivesse Carter sido mais rígido, não teria o Irã tanta certeza de que pode infringir as normas internacionais sem qualquer risco de retaliação. E infelizmente outros, além dos nossos criminalistas, deixaram de lado o conselho.

O Primeiro-Ministro inglês demorou três dias para dizer que a detenção era “errada e injustificável”. A Secretária de Assuntos Externos, Margaret Beckett, declarou que o incidente deixou o Governo “chocado”. So far, não mais que isso. As Nações Unidas e a União Européia também fraquejaram além do que seria admissível, e sua postura serve para questionar qual a razão de ser dos organismos de mediação internacionais.

Há exatos 25 anos tropas argentinas invadiram as Ilhas Falkland e as Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. Confrontada com a agressão à soberania de seu país, a Primeira-Ministra Margaret Thatcher não demonstrou hesitação. A agressão tinha de ser combatida e seu povo tinha de ser defendido.

Mais de 900 baixas garantiram ao Reino Unido a manutenção do domínio sobre as ilhas. A Argentina ainda reclama as “Malvinas”, mas é certo que não arriscariam outra aventura militar contra quem quer que fosse.

No Irã, no entanto, há outra razão para tanta ousadia, além do histórico de vitórias dessa atitude. O fracasso da coalizão anglo-americana no Iraque colocou abaixo o poder diplomático das potências ocidentais naquela região.

As negociações tornaram-se meras encenações no plenário da ONU. Diplomacia é válido, mas não se leva a sério quem não tem umas boas divisões para garantir suas vontades. As ditaduras continuarão a dar de ombros para as críticas aos seus regimes, na certeza de que não há risco de ser importunadas. Agora, nenhuma potência ocidental pode recorrer à intimidação para manter o mínimo de civilidade nas nações mais atrasadas do globo, pois logo há de aparecer um idiota pulando na frente: “Iraque, Iraque, lembre do Iraque, companheiro”...

domingo, 1 de abril de 2007

E se fosse o contrário?

A Semana Santa é o momento em que os critãos lembram a crucificação de Jesus. Neste ano, eles também deveriam pensar em outra crucificação, a de um menino de 14 anos pregado a uma cruz por muçulmanos no Iraque.

O crime diabólico foi parte de uma campanha de jihadistas para extinguir uma das mais antigas Igrejas cristãs do mundo, a dos assírios. Graças à indiferença do Ocidente, a campanha vai muito bem.

A falta de interesse do Ocidente em relação ao destino dos assírios é repugnante, como pode ser lido neste
brilhante artigo de Ed West no Catholic Herald. Começa assim:

"É uma tradição do Oriente Médio, quando se cozinha, colocar a carne sobre o arroz ao servir o prato. Eles raptaram o bebê de uma mulher em Bagdá, uma criança, e como a mãe não pôde pagar o resgate, eles devolveram seu filho: decapitado, assado, sobre um monte de arroz".


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Damian Thompson, no Telegraph.

sábado, 31 de março de 2007

Lembrança: Elizabeth Bowes-Lyon

Há cinco anos, no Royal Lodge, em Windsor, morria a Rainha-Mãe, Elizabeth Bowes-Lyon. Ela tinha 101 anos, e partiu para a eternidade tendo ao lado a única filha viva, Elizabeth II - a Princesa Margaret, Condessa de Snowdon, havia falecido alguns meses antes.

Filha mais nova do Conde de Strathmore e Glamis, descendente da Família Real Escocesa, Elizabeth viveu uma infância idílica no Castelo de Glamis, cenário da peça Macbeth, de William Shakespeare. Educada em Londres, surpreendeu seus tutores pela facilidade em lidar com a literatura clássica.

Quando a Primeira Guerra Mundial teve início, Glamis tornou-se um abrigo para soldados feridos. Elizabeth, então com quatorze anos, tornou-se com o tempo a principal coordenadora dos esforços. Seu irmão mais velho, Fergus, morreu em combate em 1915.

Amiga da Princesa Real Mary, Elizabeth logo foi apresentada ao tímido e relutante Príncipe Albert, Duque de York, que logo apaixonou-se por ela. Ela era, à época, uma das mulheres mais cobiçadas da nobreza britânica, e entre seus pretendentes declarados estavam o Rei da Sérvia, que chegou a pedir-lhe em casamento.

Por diversas vezes Elizabeth negou o pedido de casamento de "Bertie", temendo as privações e os deveres da realeza. Entretanto, graças à insistência do Príncipe, o casamento foi anunciado para 26 de abril de 1923, e ela se tornou Sua Alteza Real a Duquesa de York. Em pouco tempo ela se tornaria a preferida do Rei George V e da Rainha Mary. Em 1926, a primeira filha, Elizabeth, e quatro anos depois, Margaret Rose. Com a abdicação do Rei Edward VIII, Albert ascendeu ao trono como Rei George VI, tendo Elizabeth como sua consorte. Ela sempre se referiu a Wallis Simpson como "aquela mulher".

Mas foi durante a Segunda Guerra Mundial que Elizabeth tornou-se a mulher que despertaria o amor e o respeito de seus súditos. Sua recusa em abandonar a Bretanha e partir para o Canadá deu novo ímpeto à resistência dos britânicos. Baixinha e rotunda, visitava os bairros londrinos no dia seguinte a um bombardeio, e fazia questão de não vestir preto. Quando o Palácio de Buckingham foi bombardeado, a Rainha teve de sair engatinhando dos escombros. A confiança que inspirava nos britânicos era tanta, que Adolf Hitler considerava aquela "a mulher mais perigosa da Europa".

A morte do Rei George em 1952 fez de Elizabeth a Rainha-Mãe. No entanto, seus súditos faziam questão de chamá-la "Rainha-Mamãe". Profundamente abalada pela morte do esposo, preferiu evitar um luto prolongado, como havia feito a Rainha Victoria. Dali em diante, ela seria a mais popular de toda a Família Real.

Por vezes criticada por um estilo de vida estravagante, era famosa por um humor seco e inteligente, tipicamente britânico. Detestava os alemães e achava os franceses engraçadíssimos. Considerada a mais "direitista" de toda a Família Real, adorava Margaret Thatcher, em nome de quem fazia questão de propor um brinde no jantar, e lamentava a derrocada do Império Britânico.

Acima de tudo, amada e reverenciada por uma nação.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Há muito para se ter orgulho

Bibi Ferreira e o "Monólogo das Mãos".

quinta-feira, 22 de março de 2007

terça-feira, 20 de março de 2007

A Família Imperial Brasileira

Qual família merece representar os brasileiros? De qual Primeira Família nós, cidadãos do Brasil, poderíamos nos orgulhar?

A Família Imperial Brasileira, chefiada por Sua Alteza Imperial e Real, Dom Luiz de Orleans e Bragança, e representada por Dom Antônio, Dona Christine e seus quatro filhos, soube manter, geração após geração, os valores perenes de Honra, Respeito, Tradição e Patriotismo.