Gilles Gomes de Araújo Ferreira

quinta-feira, 5 de abril de 2007

La faute d'État

O chuveiro só funciona por algumas horas por dia, os banheiros são insalubres. "Quando as coisas estão bastante deterioradas, nós organizamos uma rebelião, quebramos tudo e chamamos a atenção da imprensa", diz Marcos, um corpulento garoto marrom. Todos começam a rir quando perguntados sobre os cursos e as atividades do centro. "Os meninos ficam no máximo três anos na Febem; quando saem, têm muita dificuldade para ler e escrever, denuncia Sueli Santiago dos Santos, diretora da Cedeca [Centro de Defesa da Criança e do Adolescente]. Uma das coisas que fazem quando estão entediados é escolher um jovem por dia, entre os novatos, para torturar.

Procurada, a Febem afirma que a situação melhorou. Dá como exemplo a construção de pequenas unidades com capacidade para 60 jovens, em substituição aos centros que mantinham centenas. Mas Wilson Tafner discorda: "Está cada vez pior. Assim como acontece nas prisões, em várias unidades a Febem delega poderes a um grupo de menores. Estes líderes têm direito a telefone celular e podem receber garotas; em troca, garantem a ordem e evitam rebeliões.

(...)
No coração da Febem, o PCC tornou-se um objeto de fascinação. Wilson Tafner descobriu horrorizado, em suas últimas visitas, as preces ao PCC. Reunidos em círculos ao cair da noite, eles começam com um Pai Nosso antes de gritar exaltando as ações do PCC e prometendo a morte de policiais


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Lamia Oualalou, em excelente texto para o Le Figaro, culpa o Estado pela grave situação do sistema penitenciário brasileiro. Ainda que por vezes a reportagem tenda para o discurso politicamente correto de ONGs, este talvez seja o mais bem-feito - e chocante - relato da realidade carcerária do Brasil, e que raramente se encontra nos jornais nacionais.

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