Gilles Gomes de Araújo Ferreira

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Longas pernas da mentira

Minas Gerais, 22 de junho de 2006

"Onde livros são queimados, cedo ou tarde, homens serão queimados".
Heirinch Heine


Alguns de vocês podem ponderar que não é mais do que coincidência. Eu discordo. Não acredito em coincidências. Nem eu nem os eternos defensores das teorias conspiratórias. Mas vamos ao que interessa.

Na segunda-feira em que foi anunciado o fim da Primeira Leitura - o melhor e mais bem escrito periódico deste lado do Equador - o sr. Reinaldo Azevedo, diretor de redação do site e da revista, assinou artigo no jornal O Estado de S. Paulo intitulado "A fábula petista e o demônio totalitário". No escrito, compara o novo PT ao Moderno Príncipe de Gramsci para evidenciar como a liderança petista vai instituindo uma, digamos, ditadura democrática. O partido se esforça para mostrar uma face democrática e plural enquanto na verdade mantém a mesma retórica social-totalitarista.

Implodem a democracia por dentro, através de pequenos ataques que vão minando suas estruturas. Primeiro, concentra-se todo o poder público nas mãos do Executivo. Segundo, aparelha-se os tribunais com aliados da causa (a propósito, o sr. Ministro da Justiça também publicou escandaloso artigo no mesmo jornal, mas isso fica pra depois). E terceiro, deslegitima-se o Parlamento, seja subornando, seja atrofiando suas estruturas com Medidas Provisórias. Para explicar-lhes como isso termina, peço ajuda a Robert Maynard Hutchins:

A morte da democracia não será provavelmente devida ao assassinato por
emboscada. Ela será antes, uma extinção lenta, devido à apatia, à indiferença e
à falta de sustentação.


A morte de Primeira Leitura ensina-nos uma moral: seja esquerda. Quer o poder? Simples. Defenda o pensamento unitário do humanismo marxista. Acuse a direita de truculência, violência. Coloque a si mesmo ao lado do povo, diga que trabalha em nome do povo. E que o povo só é feliz quando consciente. E que o povo só será consciente quando perceber que não há saída que não seja a revolução.

Quer ser admirado, ouvido, publicado? Fácil. Defenda um socialismo não-marxista, ou capitalismo social. Exalte a Revolução Francesa como fonte primeira da democracia mundial e dos princípios humanistas (eles, de novo!). E tome o cuidado de esconder Napoleão e os jacobinos, fica mais bonito na foto. Deboche da perversidade e o atraso de mentalidade dos americanos, chama-os de gananciosos. Defenda a democracia, mas permita escorrerem algumas lágrimas ao canto do olho quando ouvir o marchar de botas em Havana.

Mas antes de tudo, aprenda a arma fundamental da esquerda: a mentira. A banda canhotinha sabe que suas idéias não se sutentam. Por isso partem para a dissimulação mais atrevida e descompromissada. Em 1889 o Partido Republicano completou 30 anos. Nas eleições daquele ano não conseguiu eleger mais do que dois deputados. A saída? A pura e simples dissimulação. Acusaram o Imperador Dom Pedro II de senilidade e loucura. Acusaram a Princesa Isabel de excessiva religiosidade (pois é, naquela época já era pecado). No final, mentiram para os militares sobre a prisão de Deodoro da Fonseca. E mentiram para Deodoro sobre sua prisão por ordem de Sua Majestade. E Deodoro derrubou o Imperador a quem jurara lealdade no dia anterior.

M. Jean-Paul Sartre pedia que as pessoas mentissem sobre os crimes de Stálin a fim de não desanimar os revoltosos. Michael Moore mentiu que a rede de TV FoxNews declarou a vitória de George W. Bush na Flórida. E mentiu quando afirmou que a recontagem feita por jornais fez vitorioso Al Gore em todos os cenários. E mentiu ainda quando disse que Bush passou metade dos oito primeiros meses de governo em férias. E mentiu mais quando afirmou que a Embaixada da Arábia Saudita recebe proteção especial.

Ora, e quem não se lembra da perseguição sistemática por parte de um procurador do Ministério Público ao sr. Eduardo Jorge? O tal procurador, que já foi filiado ao Partido dos Trabalhadores, acredita que "os ricos são naturalmente maus, e os sindicalistas e sem-terra são naturalmente bons, porque são pobres.

Certa feita, organizando um concurso para ocupação de um alto cargo da República, o sr. Eduardo Jorge, de posse da lista de aprovados, foi surpreendido com o nome do irmão em primeiro lugar. Ele acabou por nomear o segundo colocado. Claro que histórias assim não estiveram presentes durante os cinco anos em que durarou o processo contra o então Secretário da Presidência. E que ao final do mesmo, provou não haver provas.

Denúncia semelhante atingiu a Primeira Leitura. Com o mesmo descompromisso com a verdade, a mesma irresponsabilidade. Uma estatal aparece como anunciante logo da revista "tucana"? Que outra conclusão poderiam ter feito? É curioso notar, no entanto, que o mesmo jornalão, situado à centro-esquerda politicamente corretíssima, apareceu na lista de pagamentos da empresa SMP&B, que pertence a um carequinha muito amigo do Poder. E as mesmas conclusões não foram feitas.

E não poderiam. Afinal de contas, já dizia o saudodo sr. Roberto Campos, "o Brasil é o único país do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio". O esquerdista faz parte de uma casta superior de homens bem-intencionados. Quem gosta de dinheiro é a direita capitalista...

O Brasil é um atentado à inteligência.
Kyrie Eleison.

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