Comece a ler este post agradecendo a Deus. Ou Javé. Ou Jeová. Ou Buda. Ou Adonai. Ou Allah. Ou Jah. Ou Ishvara. Ou Lula. Agradeça a Ele porque, no meio do caos que envolveu o Congresso Nacional na terça-feira, houveram deputados e senadores que conseguiram manter a lucidez de tempos de normalidade.
Então centenas de militantes sociais são proibidos de entrar na Câmara dos Deputados só porque se comportavam como turba, portando paus e pedras, aos gritos? Ora, felizmente pudemos contar com a capacidade de discernimento do sr. deputado Miro Teixeira(PDT-RJ): "é uma infiltração da direita", bradou o bravo parlamentar nos microfones do Plenário. Claro! Quem poderia imaginar que pessoas que lutam por ideais tão justos como a reforma agrária procederiam com tanta selvageria? Como se isso fosse comum...
Vejam também a maneira correita com que a sra. deputada Maninha (PSOL-DF) analisou a prisão dos abnegados defensores da justiça social: "só vi uma prisão em massa desse jeito quando a Universidade de Brasília foi invadida pelas forças militares da ditadura, em 1969". Óbvio! Uma repressão desta forma não pode acontecer numa democracia. Afinal de contas, democracia não é a ausência de autoridade e de força?...
Mas eis que surge, do outro lado do prédio de mármore desenhado por Oscar Niemeyer, o sr. senador Antônio Carlos Magalhães(PFL-BA), pedindo que os militares resolvam a situação e tomem conta do país antes que ele se transforme numa "ditadura sindical". Evidente! A democracia é um sistema irresponsável, que permite que balbúrdias como esta venham a ameaçar a própria. Essa coisa de liberdade é muito bonitinha, mas francamente, não funciona...
E do Senado outro exótico personagem surge diante de manifestantes: o sr. senador Sibá Machado(PT-AC) vai até os manifestantes. Cumprimenta-os em sinal de aprovação e de solidariedade ao movimento. Até posou para fotos. Elementar! Os emesseletistas - ufa! - só agiram assim porque foram pressionados pelo aparelho de repressão da Casa. Ora, não é aquela a "Casa do Povo"? Por que aquele povo foi discriminado? Só porque são pobres, esquerdistas, manifestantes, sem-terra, proletários, vítimas do sistema, marginalizados pelo neoliberalismo...?
Entretanto... ah! Surge o Grande Timoneiro. O sr. Presidente se manifesta. Coisa rara. Declara apoio ao Congresso e condena o vandalismo. O movimento e seus autores foram repudiados pelo Supremo Mandatário? Não. Mas muito cuidado: vocês estão tendo a consciência manipulada pela direita e pela mídia vendida deste país. Como vocês podem imaginar que o fato de o nome do líder do MLST Bruno Maranhão aparecer na Executiva Nacional no PT significa que esse é um comportamento padrão dos outros filiados? Como vocês podem imaginar que o fato de o sr. Presidente receber os - de novo - emesseletistas no Palácio do Planalto significa sua conivência com os atos do grupo? Francamente... só porque o sr. Luís Inácio destinou R$ 9 milhões em verbas federais para os manifestantes no ano passado querem atribuir-lhe alguma responsabilidade. Vocês são muito malvados!...
Democratia delenda est. Ou em bom português, a democracia deve ser destruída. Sejamos francos, o Partido dos Trabalhadores nunca gostou desta tal "democracia burguesa". Ninguém quer assumir publicamente, mas a esquerda brasileira nunca lutou contra a ditadura. Lutou contra aquela ditadura. Queriam substitui-la não pela democracia, mas pela sua ditadura. A ditadura do proletariado.
Quando democratas voltamos a ser, e uma Constituição foi elaborada, o PT proibiu seus filiados de aprová-la. Na época o presidente do partido, sr. Lula, declarou que determinara o veto porque a Constituição impediria a instauração do socialismo no Brasil. Enfim, era 1988 e o Muro de Berlim continuava de pé.
Para a maioria da esquerda brasileira a democracia é um luxo capitalista. Idolatram Fidel Castro, Che Guevara, e Salvador Allende. Como promover a justiça social sem passar por cima das poderosas "forças ocultas" da sociedade de consumo? Que se mande às favas a lei e se faça a justiça. Assim fazem as FARC, o MST, o MLST, as Brigadas Vermelhas, o Sendero Luminoso, o Subcomandante Marcos.
É a democracia que manieta, que impede que ideologias extremistas tenham lugar no debate nacional. É um amortecedor para todos os excessos, tanto à direita quanto à esquerda. Por isso não é difícil perceber porque atrai ela tanto desprezo. Invadir o Congresso Nacional tem o peso simbólico de uma Tomada da Bastilha. Veja a pose heróica do vencedor. Uma vez caídas as liberdades, não há quem segure a revolução.
Mas quem quer ouvir falar de revolução agora? Será que eles não sabem que Ronaldinho está com bolhas nos pés? Comoção nacional...
Kyrie Eleison.
Gilles Gomes de Araújo Ferreira
quarta-feira, 7 de junho de 2006
Democratia delenda est
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