A presença da Síndrome de Pedro Álvares Cabral mostra que o sr. Dimenstein segue à risca a cartilha do lulismo. O artigo nos leva a crer que "nunca antes neste país" um candidato à Presidente da República discursou sobre as benesses da educação. Ora, no dia anterior o candidato pelo PDT sr. Cristovam Buarque foi sabatinado no programa Roda Viva da TV Cultura. O tema central da campanha é justamente a educação.
Claro que os projetos educacionais do sr. Buarque são questionáveis. Defende um modelo de educação centralizado, bem ao gosto dos stalinistas. Também advoga pela criação de um Ministério da Educação Básica - mais cabides, por favor -, uma vez que os recursos destinados a este setor acabam por ser desviados para as universidades públicas. Eu consideraria mais sensato acabar com todas elas. O pedetista também não tem muito o que mostrar de sua gestão como Ministro. Ao invés de administrar, preferiu organizar manifestos de estudantes por mais verbas. Substituiu o Provão por uma certa Paideia, cuja diferença reside em que o novo exame avalia a "responsabilidade social" das universidades.
O próprio sr. Luís Inácio, durante a campanha de 2002, colocou como prioridades de seu futuro governo o investimento no setor produtivo, educação, ciência e tecnologia. Em 2003 o então secretário-geral do PT sr. Silvio Pereira admitiu em entrevista à revista Época que "o PT não tinha um projeto de governo, tinha um projeto de poder". Claro que àquela época ninguém se escandalizou. Tanto é que continuam a dar crédito ao partido.
Será que o sr. Luís Inácio é a pessoa mais indicada para fazer apologia da educação? Quer dizer, ele sempre se orgulhou por tê-la desprezado! Por 12 anos o sr. Lula tentou ser o Supremo Mandatário da Nação, e em nenhum deles cogitou sentar-se num banco de escola. Ou abrir um livro. Pior do que isso, só mesmo Mr George W. Bush, que consolou alunos que tiram C nas provas afirmando que eles podem vir a ser Presidentes dos EUA.
Na segunda-feira, por exemplo, a Rainha Elizabeth II recebeu no Palácio de Buckingham 2.000 crianças de todas as partes do Reino Unido. Durante o dia, os infantes puderam conversar com a autora da série Harry Potter, Dame J.K. Rowling, e circular pelos pátios do palácio em companhia de personagens famosos da literatura infantil, como o Chapeleiro Maluco e Mary Poppins. Ao final do dia Sua Majestade afirmou que espera que "este evento faça com que vocês e muitas outras crianças descubram o prazer da leitura". Alguém imagina o Presidente, em sã consciência, encorajando futuros leitores?
O fato de a educação ter entrado no rol dos projetos de campanha não significa absolutamente nada. Há décadas os candidatos também prometem reduzir a carga tributária, os juros, combater a corrupção etc.
E mesmo que a preocupação com a educação por parte dos partidos seja verdadeira, há que se notar que não há uma unanimidade. Mr Ludwig von Mises, libertário por excelência, era absolutamente contrário aos investimentos do Estado na educação. De acordo com os economistas, essa era uma função que deveria ser relegada exclusivamente aos pais.
O sr. Roberto Campos duvidava das associações entre desenvolvimento e investimento em educação: "A educação não garante o progresso, pois a Rússia entrou em colapso anos após realizada a fórmula de Lenin: educação mais eletrificação".
Já o imortal sr. Paulo Francis acreditava na educação, mas criticava o descaminho que as novas pedagogias provocaram: "Educação era a transmissão de um acúmulo de conhecimentos. Hoje, é uma adulação da juventude, que supostamente deve fazer o que bem entende, estar na sua, como dizem, e o resultado é que os reitores de universidades sugerem que não haja mais nota mínima de admissão, que se deixe entrar quem tiver nota menos baixa. Deve haver exceções, caso contrário o mundo civilizado acabaria, mas a crise é real, denunciada por gente como o príncipe Charles, herdeiro do trono inglês, e por intelectuais como Alan Bloom, que consideram a universidade perdida nos EUA. No Brasil, houve a Reforma Passarinho nos anos 60. A ditadura militar tinha o mesmo vício da esquerda. Queria ser popular. Era populista. Quis facilitar o acesso universitário ao povo, como resa o catecismo populista. Ameaça generalizar o analfabetismo".
Ninguém precisa ler Olavo de Carvalho para saber que a universidade se tornou o asilo preferido da esquerda burra - sim, há uma esquerda inteligente, acredite! Se na economia o projeto esquerdista de intervenção do Estado para provocar a economia acaba por sufocá-la, as propostas do setor para a educação acabou por transformar a escola num centro de formação de mal-educados.
Por não entender o verdadeiro significado da igualdade, acabou por perseguir todo vestígio de hierarquia. Transformando professores e alunos em iguais, acabou por fazer perder o respeito destes para com aqueles. Indisciplina, insultos, agressão física e verbal, tornaram-se padrão. Mas como a predominância da esquerda não é privilégio nosso, problemas dessa estirpe também estão sendo sentidos em outras partes do mundo.
Mr Peter Hitchens, colunista do jornal inglês Daily Mail, criticou duramente os conservadores por terem abandonado a proposta de restabelecer o ensino de gramática nas escolas públicas britânicas. Em terras brasileiras, circulou há pouco um memorando orientando os professores das escolas públicas a não prestarem muita atenção na ortografia e na gramática dos estudantes, com a justificativa de que isso "é coisa de burguesia".
Em Portugal, depois de décadas de domínio das esquerdas no debate político do país a direita voltou ao poder. No Diário de Notícias desta quarta-feira o sr. Vasco Graça Moura chama as escolas de "depósitos de delinquentes" e critica a falta de pulso para lidar com a desordem.
"É claro que essa saída existiria sem dificuldades no domínio do politicamente incorreto", escreve antes de defender a volta dos castigos físicos nas escolas, medidas que já considero extremadas. Isso no entanto não impede que concordemos com outro ponto da opinião do colunista, mais um elogio a um livro, A Pedagogia do Avestruz, que não encontrei disponível no Brasil: "A 'pieguice pedagógica' não tem pés nem cabeça, o bom selvagem de Rousseau não existe e a 'questão dos aberrantes e politicamente correctos castigos pedagógicos é toda ela pensada a partir de uma visão demasiado optimista da condição humana e da vida social, como toda a actual filosofia do ensino".
Albert Einstein dizia que a educação é tudo aquilo que resta depois que você esquece tudo o que aprendeu na escola. Não é para tanto. Tive a sorte de ter excelentes professores, e assim como os cidadãos de bem, são mais vítimas do que culpados pela situação. Sempre que alguém se propõe a melhorar a educação parte logo para "atualizar" ou "formar" os professores, colocando-os no centro do problema, e não da solução. Afinal de contas, é por causa deles que você pode ler isso.
Kyrie Eleison.