Gilles Gomes de Araújo Ferreira

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Os trens de Mussolini.

Minas Gerais, 22 de setembro de 2006
John Lukács tinha 22 anos quando abandonou sua terra natal, a Hungria. Fugia do comunismo moscovita, que descia uma Cortina de Ferro sobre a Europa. Os Estados Unidos, a "maior democracia do mundo", pareciam o refúgio perfeito. Não eram. Na revista católica Commonweal criticava o populismo macartista, cuja paranóia anticomunista tornou vítimas Charlie Chaplin, Orson Welles e Albert Einstein.

Para Mr Lukács, a maior ameaça à democracia é o populismo - que para o historiador, é a essência do nazi-fascismo e do comunismo. Assumidamente um reacionário, acredita que o melhor governo é aquele exercido por uma elite esclarecida - preferencialmente católica. Mais abrangente que George Walden em The New Elites, defende que a decadência das elites aristocráticas e a ascensão das elites democráticas abre espaço para a demagogia. As democracias liberais são também populistas.

Todos os seus livros publicados no Brasil - Cinco Dias em Londres, Churchill, O Hitler da Históra, O Fim de uma Era - valem muito mais do que o pouco que custam. O Duelo, no entanto, destaca-se ao analisar os sistemas democrático e nazista pelo perfil de seus maiores expoentes àquela época, Sir Winston Churchill e Hr. Adolf Hitler:

O grande escritor sobre o orador das massas. O cosmopolita sobre o racista. O aristocrata democrata sobre o demagogo populista. O patriota sobre o nacionalista.


A proposta seria repetida, anos mais tarde, por Diogo Mainardi, que comparou Luiz Inácio a Silvio Berlusconi. Desta vez, no entanto, seriam as semelhanças, e não as diferenças, que chamariam a atenção. "Populista, contraditório, orgulhoso da própria ignorância". Tal comparação, no entanto, parece hoje vazia. Ninguém mais se lembra de Berlusconi, assim como ninguém lembrará de Luiz Inácio um ano após o término do mandato. A intenção, no entanto, é propícia. De que maneira estariam alinhados o nazista, o petista, e o tradicionalista?

Não há como comparar Luiz Inácio e Winston Churchill. A única semelhança entre ambos é o fato de chegarem ao poder com o apoio dos trabalhadores. A experiência do poder, contudo, seria diferente para os dois.

Churchill chegou ao poder desacreditado. O Primeiro-Ministro anterior, Neville Chamberlain, caiu quando Hitler invadiu a Bélgica, confirmando o fracasso de sua "política de apaziguamento". O sucessor mais provável, o Visconde Halifax, estava impedido de ascender devido à sua condição de nobreza. Churchill seria uma solução temporária, até que os trabalhistas concordassem com os termos apresentados pelos conservadores para um governo de coalizão durante a Segunda Guerra.

Lula desde o princípio encarnou o personagem pensado pelos acadêmicos da USP: o operário que nos levaria à revolução libertadora. Operários de todo o mundo, uni-vos. Uma vez nessa condição, estabeleceu-se uma infalibilidade quase papal sobre sua conduta. Criticá-lo seria uma blasfêmia contra o semi-deus social.

Churchill chegou ao poder sem apoios. Os conservadores não gostavam dele. Os liberais não gostavam dele. Os trabalhistas não gostavam dele. O Times não gostava dele. O Rei George VI não simpatizava com seu estilo excêntrico e perguntava se era aquele o mais adequado para lidar com os alemães.

Luiz Inácio chegou amparado por quase 90% de aprovação. Os partidos, até mesmo a oposição social-democrata, aprovava seus projetos parlamentares. A imprensa submeteu-se a um servilismo constrangedor. Opôr-se ao Grande Timoneiro atraía olhares desconfiados e a alcunha de reacionários inimigos do povo.

Churchill emocionava pela força das palavras e pela escrita elegante e inteligente. Tornou-se um grande orador mesmo sendo fanho e tendo a língua presa. Lula é uma negação da gramática. Churchill fazia questão de ter todas as suas medidas aprovadas pelo Parlamento, mesmo quando não era necessário. Luiz Inácio vê no Parlamento um empecilho ao sucesso, e subtrai o Congresso a apêndice de seu Gabinete. Quando seus projetos não são sancionados, enxerga o golpe branco.

Churchill era um grande democrata. Lula despreza a democracia, esse luxo dos capitalistas burgueses. A verdadeira liberdade só é alcançada sob um Estado poderoso unificado. Sua infalibilidade sabe o que é melhor para cada um de nós.

E quanto à outra face? Escreve Lukács que Hr. Hitler acreditava que

um soldado alemão valia dois ou três soldados poloneses ou franceses ... não só devido ao equipamento alemão, mas porque um soldado alemão do Terceiro Reich
encarnava uma ideologia nacional que era mais forte e melhor do que a ideologia dos inimigos.

Para o Führer, a história era o resultado de idéias. Do outro lado da linha, Luiz Inácio imagina ser capaz de revolucionar o capitalismo, unindo os pobres contra os ricos, com atrativos puramente ideológicos. Mais tarde, não podem mais que lamentar quando os aliados abandonam o grupo por razões, digamos, pouco filosóficas.

O petista é esquerda. O nazista foi. A estrela vermelha usa a astúcia para seduzir as massas. A cruz gamada o fez. Os trabalhadores transformaram o aparelho estatal uma continuação do partido, organismo ao qual todos devem jurar lealdade. Os nacional-socialistas primeiro. Em ambos, destruir-se-ia a democracia por dentro.

Hitler era e Lula é inteligente. Os dois, no entanto, nunca foram os cérebros das revoluções que seus partidos almejaram. É apropriado dizer que não eram mais do que fantoches carismáticos das eminências pardas, a saber, José Dirceu e Joseph Goebbels. São semelhantes ao encarnar personagens históricos. Hitler aludia a Frederico, o Grande. Lula se basta com Getúlio Vargas. Luiz Inácio acredita ter sido escolhido por Deus para comandar a marcha libertadora. Hitler não acreditava em Deus, mas também entendia ser predestinado.

Há uma diferença essencial, no entanto, que impede-nos de dizer que os dois são iguais. Não, não é porque Hitler sabia ler. O fato é que o Führer era um exemplo de disciplina e retidão. Não há registro de que sejam virtudes praticadas por Sua Excelência. Nisso ambos são tão diferentes quanto Olavo de Carvalho e Marilena Chauí.

O estilo fanfarrão, a extravagância, o autoritarismo, empurram Lula para perto de outro líder das massas, Benito Mussolini. Talvez seja essa uma comparação mais acertada. Além das semelhanças entre com o hitlerismo, o Lula e Mussolini compartilham o passado socialista e o analfabetismo.

No Governo Lula desenvolveu-se uma usurpação nunca antes vista na História do Brasil, as insituições enfraqueceram e a democracia rachou. A economia, no entanto, cresceu. Nos tempos de Mussolini houve perseguição e assassinatos. Mas os trens passaram a andar na hora.

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