Gilles Gomes de Araújo Ferreira

segunda-feira, 15 de maio de 2006

"Eu posso entrar numa delegacia e matar um policial, mas um policial não pode entrar na cadeia e me matar, porque é obrigação do Estado me defender."

Começo fazendo um pedido aos leitores que me são caros: cliquem aqui. É o site da Anistia Internacional. Seu lema, escrito em inglês, é "trabalhando para proteger os direitos humanos ao redor do mundo". A segunda parte, lamento, se restringe aos que dominam a língua de Shakespeare: procurem uma declaração, uma frase, uma nota de rodapé sobre o genocídio que há alguns dias apavora o Estado mais rico e populoso da Federação. Avisem-me o quanto antes. Ou melhor, avise-os.

Um pouco mais de paciência, eu peço, e clique aqui. É o site da Human Rights Watch que, vejam só!, adota o mesmo lema da AI. "Defendendo os direitos humanos ao redor do mundo". Ali, mesmo que não saibam inglês, poderão ler o nome "Claudio Lembo". É uma carta dirigida ao Sr. Governador do Estado de São Paulo. Mas não se enganem como eu. Não oferece condolências aos policiais ou aos civis condenados por serem honestos. A missiva, datada de 11 de maio de 2006, reclama de perseguições contra uma senhora que fundou uma ONG (mais uma!) que visa defender os menores da Febem (mais uma!).

A frase que titula este post é de autoria de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital. Em três dias, a facção criminosa praticou 180 atentados terroristas em que assassinaram 6 policiais civis, 22 policiais militares, 4 civis, 3 guardas civis, 8 agentes carcerários, e deixaram feridos 6 policiais civis, 19 policiais militares, 8 guardas civis, 1 agente penitenciário e 15 civis. No Dia das Mães, mantiveram como reféns suas próprias genitoras, suas esposas e suas crianças, algumas ainda no colo, carregando brinquedos. Acreditem, caríssimos, eles são as vítimas...

Vítimas de quem!? Eu respondo: de todos nós. Nós que levantamos antes do sol para trabalhar. Nós que damos de comer aos nossos filhos o suor de nossos rostos. Nós somos os vilões da história. Os bandidos, pobre coitados, são vítimas do sistema neoliberal, do preconceito da sociedade, da falta de oportunidade. Nós somos os responsáveis pelo seu fracasso. Nada de surpreendente, então, com o que aconteceu na segunda-feira. Como num filme de John Ford os mocinhos foram mais rápidos no gatilho e num duelo, fizeram o bem prevalecer.

O parágrafo acima é sarcástico. Não estou duvidando de suas inteligências, mas do juízo crítico de quem sustenta esse discurso como se fosse a mais última verdade revelada, depois do comunismo e da terceira via. E assim como o comunismo e a terceira via, não aguentam um mínimo de racionalidade. Ora, a sociedade é a grande vilã pela corrupção dos anjos sobre a Terra pececistas. Eu vivo nessa sociedade. Logicamente, era de se esperar que nos tornássemos facínoras escondidos sob a égide do humanismo esquerdista. Quantas pessoas você matou hoje?

Outro exemplo: no famigerado caso Suzane von Richthoffen, acusaram seus pais, as vítimas!, pelo crime. Disseram que educaram a menina errado. Se esquecem que eles também educaram o irmão dela. E ele não matou ninguém!

Sabem qual é o símbolo do PCC? O yin-yang chinês. Dizem que é para "equilibrar o bem e o mal com sabedoria". Pausa. Sabem qual é o lema do PCC? Paz, Justiça e Liberdade. Os romanos tinham um ditado, si vis pacem para bellum, ou em bom português, se querem a paz, preparem-te para a guerra. A paz, para os latinos, só seria possível quando toda a Europa bárbara se rendesse aos seus domínios. Essa é a paz do PCC. A paz submissa.

O que fazer então? Vejamos o que diz um membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, João Luís Duboc Pinaud:

Essa onda evidencia, acima de tudo, o recrudescimento do pensamento de direita
no nosso país. [As causas são] a brutalidade policial, os cárceres desumanos e a
morosidade do Judiciário. O cárcere não é solução. Não se controla a
criminalidade apenas com mais força. Essa história de penas mais rigorosas,
aumento do contingente policial, uso de equipamento mais sofisticado apenas é
uma loucura.


Façamos então o seguinte: no próximo fim-de-semana vamos todos aos presídios cobrir de mimo e ternura aqueles - inustamente - mantidos em cárcere desumano pelo Estado. E torçamos para que não nos tomem por reféns. O Sr. João Luís Pinaud foi Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Lá implantou suas medidas "humanas". Comentários? Desnecessários.

Custa me crer que uma pessoa com um mínimo de massa cinzenta e discernimento moral possa compartilhar da idéia de que os bandidos não são piores que nós. Uma vez me criticaram por usar o termo "homem de bem". Disseram que não há diferença entre os meliantes e eu. Claro que há, pelo menos uma: eu não cometo crimes!

Em nenhum momento deste post perguntei "até quando?" ou "quantos mais?". Conformem-se, nada muda dessa vez. Continuaremos a nos trancar em casas. Continuaremos a ser atacados, vilipendiados e humilhados pelas vítimas do sistema. E continuarão a defender uma idéia suicida de sociedade. E continuarão a apontar seus dedos inquisidores para as mães chorosas daqueles que cometeram o único crime de ser honestos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maior hipocrisia do Estado moderno:
Querer ser o protetor de todos defendendo o "cidadão
da ordem" e ao mesmo tempo também defendendo o delinqüente.
É o Estado em cima do muro.
Isso é o resultado da maldita concepção "cristã" e romântica
de que o homem é bom por essência e os desviados podem
ser convertidos e recuperados, como na história da ovelha
desgarrada, e também de que todos são irmãos ou "iguais".

Quero saber QUEM acredita que os facínoras que nos
atacam
podem ser recuperados.
E QUEM os considera irmãos e seria capaz de abrir suas
portas à eles.
Historicamente sempre o Poder teve o direito de eliminar
seus agressores e porque agora eles têm de ser protegidos
e poupados a todo custo?
Quem desenvolve um câncer maligno em seu corpo sabe
que
precisa matá-lo (eliminá-lo) a qualquer custo se quiser
sobreviver. Até quando teremos que acreditar que nossas
orações serão capazes de fazer o câncer se regenerar
e "ficar bonzinho" ao invés de atacá-lo?
Qualquer animal sabe que diante de uma fera a questão
é matar ou morrer. E neste caminho que trilhamos só
nos
restará aguardar a morte de nossa sociedade.
Em legítima defesa de nossas vidas e da vida da nossa
sociedade urge o EXTERMÍNIO dos facínoras que nos destroem.
Que todos os terroristas de SP, dentro ou fora das prisões,
sejam executados na legítima defesa de todos nós, os
não-terroristas.

***Aproveito para manifestar o meu pesar por todas as
vítimas e a suas respectivas famílias que vem sofrendo
diretamente os atentados em SP.***

http://grupos.uol.com.br/cgi-bin/gruposfolha?cmd=article&group=uol.folha.cotidiano.violencia&item=29730&utag=

Gostei do seu texto.
Um abraço.