À primeira vista pareceu que o Comitê do Nobel havia deixado para trás a retórica politicamente correta que orientou as escolhas do grupo nos últimos anos. Muhammad Yunus, com o perdão do clichê, prefere ensinar a pescar. Na contramão do ensinamento marxista, afirma que a propriedade privada é fundamental para a erradicação da pobreza - o que atrai a animosidade da esquerda bengalesa, que o acusa de defender o capitalismo.
Henrique Raposo, no blogue da Revista Atlântico, provoca:
Domingo. Cerimônia em Oslo. O diretor do Comitê, Ole Danbolt Mjøs, discursa:
Não bastasse uma repetição insistente de "parte muçulmana do mundo", Mjøs enxerta uma questão religiosa que não entra - ou não deveria entrar - no mérito. O merecimento de Yunus reside na economia, não na teologia.
Os clérigos muçulmanos, a bem da verdade, apresentaram-se como empecilho aos projetos de Yunus. "No começo, sofremos uma grande oposição religiosa que nos acusava de destruir o Islã", porque diziam "que as mulheres tinham que continuar sendo donas-de-casa". De todos os beneficiados pelo banco de Yunus, 96% são mulheres.
E Bono ainda chega lá.
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"Vocês não mais verão a Rainha fumando", declarou a porta-voz da Casa Real dinamarquesa, Lis Frederiksen. Margrethe II habituou-se a ignorar as críticas das diversas organizações não-governamentais dedicadas à eugenia velada, e ela pôde contar com o apoio da imprensa e da maioria dos dinamarqueses. Uma lei aprovada recentemente no Folketing, o parlamento dinamarquês, proibirá o fumo em prédios públicos a partir de abril de 2007. A Rainha decidiu se antecipar.
Margrethe II fará companhia ao Rei da Suécia, Carl XVI Gustaf - que abandonou cigarro em público, mas que também manteve o hábito na privacidade -, e Juan Carlos I, que fuma desde os 14 anos. Na outra ponta estão Harald V, da Noruega, que deixou de fumar há alguns anos, e Elizabeth II - que sobre o cigarro compartilha as mesmas opiniões de sua trisavó, a Rainha Victoria, com o agravante de ter visto o pai morrer em conseqüência de um câncer no pulmão.
Além da Dinamarca, em 2007 França, Lituânia, Inglaterra e País de Gales terão alguma restrição em relação ao tabaco em locais públicos. Somam-se a Argentina, Espanha, Escócia, Vietnã, Austrália, Bélgica, Nova Zelândia, Cuba, Noruega, dentre outros.
Enquanto leis anti-tabaco ganham o mundo, uma notícia chama atenção justamente porque pouca atenção foi dada a ela. Segundo um jornal inglês, Sir Richard Doll, o primeiro a estabelecer uma relação entre fumo e câncer, escondeu que por mais de 20 anos trabalhou a soldo da Monsanto. Nesse período, Sir Richard negou que o Agente Laranja, utilizado na Guerra do Vietnã, pudesse causar câncer - o que foi refutado por estudos posteriores. O Agente Laranja era produzido pela Monsanto.
Doll também esteve na folha de pagamento da Dow Chemicals, antiga Union Carbide - responsável pelo maior desastre industrial do mundo -, da Chemical Manufacturers Association e da Imperial Chemical Industries, para quem ele escreveu um relatório, contestado pela OMS, negando a conexão entre cloreto de vinila e câncer.
Se há cinqüenta anos havia médicos que receitassem cigarros, hoje os fumantes são o alvo principal das patrulhas paternalistas. Eles sabem o que é bom para você. E têm o Estado a tiracolo.
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Depois dos fumantes, os obesos: há nos EUA quem defenda que os obesos paguem mais impostos, uma vez que têm mais problemas de saúde. E um estudo coloca os gordos como os maiores responsáveis pelo aquecimento global.
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Pinochet está morto. Ou não. É pouco provável que a esquerda chilena abandone a estratégia eleitoral que utiliza desde a restauração democrática: quando a direita ameaçava a hegemonia da Concertación, os canhotos alertavam para quão imoral era votar em quem esteve ao lado do ditador.
As reações não foram muito além do esperado. A imprensa à direita lembra que Pinochet esteve à frente de um regime autoritário e repressor, mas que a intervenção evitou uma "cubanização" do Chile, em que morreriam muitos mais. Além disso, as medidas econômicas implementadas foram fundamentais para o desenvolvimento de uma economia moderna e uma democracia verdadeiramente livre. A mídia à esquerda lembra da perseguição e da tortura e do apoio que Pinochet recebeu dos Estados Unidos, e critica as reformas econômicas, responsáveis pela concentração de renda, aumento da pobreza e diminuição de salários. Oh, o neoliberalismo...
A morte de Augusto José Ramón Pinochet Ugarte também serviu para rever velhos mitos. Semelhante ao que ocorre com João Goulart no Brasil e Perón na Argentina - e curiosamente não com Batista em Cuba -, no Chile Salvador Allende tornou-se o mártir de um novo mundo anunciado há mais de 150 anos pelas esquerdas revolucionárias. O socialismo democrático era uma prova de que uma outra realidade é possível. Obviamente, os americanos não permitiriam que isso acontecesse. Oh, os americanos...
Allende não foi o herói vendido pela intelligentsia. Teve 35% dos votos em 1970. Chegou ao poder por meio de uma eleição indireta. Ameaçou prender jornalistas. Houve inflação de 500% e racionamento. Donas-de-casa saíam às ruas batendo panelas. Brigou com a Suprema Corte, que denunciou seus planos de expropriação. Seu codinome na KGB era "Líder". Era anti-semita, racista e homofóbico.
Mas não haverá ressurreição maior de mitos do que nos obituários de Fidel Castro.
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Waldir Pires era Ministro da Controladoria Geral da União enquanto estava ativo o maior esquema de corrupção da História do Brasil. Waldir Pires é Ministro da Defesa enquanto ocorre a maior crise da História da Aeronáutica.
Qual será seu próximo passo?
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Quando em março o ETA anunciou um "cessar fogo permanente", o Rei de Espanha pediu "cautela" aos negociadores. Nos 32 anos de reinado, Dom Juan Carlos já viu o ETA anunciar o fim da violência 12 vezes, inclusive um "indeterminado e incondicional" em 1998. O Presidente do Governo, José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE - Partido Socialista Obrero Español -, fez pouco do conselho e preferiu repetir a cantilena reformista de que "daqui pra frente, tudo vai ser diferente".
Passados oito meses, os etarras ainda não depuseram as armas. Pelo contrário, em abril cometeram um atentado em Barañaín, no norte de Espanha. O Governo explicou que "o processo de paz ainda não havia começado"! O grupo terrorista explicou que não há conversa antes da autodeterminação do País Basco.
Em junho o ETA emitiu um comunicado em que exige que o Governo francês faça parte das negociações. No fim do mês, Zapatero anuncia o início do processo de paz. Em agosto, os terroristas bascos declaram que as negociações estavam "imersas em uma crise evidente", culpando os socialistas pela situação. Advertiram que "responderiam" se França e Espanha dessem continuidade à "repressão" contra a esquerda local.
Em setembro, novos atentados. Em uma celebração em homenagem a militantes etarras, três membros encapuzados anunciaram que o ETA, em nome da independência e do socialismo, continuará empunhando armas. Em outubro a França acusou o grupo de ter roubado centenas de armas e munição de uma empresa francesa. Afirmou ainda que o contrabando de armamentos continuou depois do cessar fogo.
Em novembro, jovens militantes do Batasuna, o braço político do ETA, tentaram incendiar dois policiais. Os terroristas ameaçaram interromper o processo de paz. A direção do PSOE admitiu que as dúvidas sobre o processo de paz são justificáveis e legítimas. Tarde demais.
Pesquisas recentes mostram que a vantagem dos socialistas sobre os populares é inferior a 1%, e jornais da esquerda, como o El País e o Cadena Ser já admitem uma vitória do Partido Popular nas próximas eleições. Os espanhóis votaram nos socialistas em 2004 para se ver livres do terrorismo. Zapatero tirou as tropas do Iraque, mas cultivou terroristas em casa. O ETA tem ligações com o IRA e as FARC, e nos últimos 38 anos matou mais de 800 pessoas, inclusive o Primeiro-Ministro Luis Carrero Blanco em 1973.
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"A multidão, quando se vê de posse da autoridade, é ainda mais cruel que os tiranos".
Platão
A esquerda radical disse que estamos plantando as sementes do capitalismo e nos odeiam porque dizem que destruímos qualquer possibilidade de revolução social.
Henrique Raposo, no blogue da Revista Atlântico, provoca:
O desprezo que se deu a Yunus diz muito do nosso querido ocidente. Um homem que, pelo capitalismo, retira uns milhões da miséria não interessa. (...). Se o
trabalho de Yunus desse para culpar directamente o Ocidente, terei todo o tempo de antena do mundo. Como recupera a velha tradição liberal de respeito pela pessoa, pelo trabalho, honra e respeito do indivíduo, sem piedades estatais (ou ocidentais), através de meros empréstimos bancários, de forma simples e sem grandes discursos, naturalmente, não merece atenção.
Domingo. Cerimônia em Oslo. O diretor do Comitê, Ole Danbolt Mjøs, discursa:
Esperamos que este Prêmio signifique uma aproximação com a parte muçulmana do mundo. Desde o 11 de setembro, temos visto uma tendência a demonizar o Islã. (...). Sempre dizemos unilateralmente que a parte muçulmana do mundo tem de aprender com o Ocidente. No que diz respeito a micro-crédito, o contrário é certo: o Ocidente têm aprendido com Yunus, com Bangladesh e com a parte muçulmana do mundo.
Não bastasse uma repetição insistente de "parte muçulmana do mundo", Mjøs enxerta uma questão religiosa que não entra - ou não deveria entrar - no mérito. O merecimento de Yunus reside na economia, não na teologia.
Os clérigos muçulmanos, a bem da verdade, apresentaram-se como empecilho aos projetos de Yunus. "No começo, sofremos uma grande oposição religiosa que nos acusava de destruir o Islã", porque diziam "que as mulheres tinham que continuar sendo donas-de-casa". De todos os beneficiados pelo banco de Yunus, 96% são mulheres.
E Bono ainda chega lá.
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"Vocês não mais verão a Rainha fumando", declarou a porta-voz da Casa Real dinamarquesa, Lis Frederiksen. Margrethe II habituou-se a ignorar as críticas das diversas organizações não-governamentais dedicadas à eugenia velada, e ela pôde contar com o apoio da imprensa e da maioria dos dinamarqueses. Uma lei aprovada recentemente no Folketing, o parlamento dinamarquês, proibirá o fumo em prédios públicos a partir de abril de 2007. A Rainha decidiu se antecipar.
Margrethe II fará companhia ao Rei da Suécia, Carl XVI Gustaf - que abandonou cigarro em público, mas que também manteve o hábito na privacidade -, e Juan Carlos I, que fuma desde os 14 anos. Na outra ponta estão Harald V, da Noruega, que deixou de fumar há alguns anos, e Elizabeth II - que sobre o cigarro compartilha as mesmas opiniões de sua trisavó, a Rainha Victoria, com o agravante de ter visto o pai morrer em conseqüência de um câncer no pulmão.
Além da Dinamarca, em 2007 França, Lituânia, Inglaterra e País de Gales terão alguma restrição em relação ao tabaco em locais públicos. Somam-se a Argentina, Espanha, Escócia, Vietnã, Austrália, Bélgica, Nova Zelândia, Cuba, Noruega, dentre outros.
Enquanto leis anti-tabaco ganham o mundo, uma notícia chama atenção justamente porque pouca atenção foi dada a ela. Segundo um jornal inglês, Sir Richard Doll, o primeiro a estabelecer uma relação entre fumo e câncer, escondeu que por mais de 20 anos trabalhou a soldo da Monsanto. Nesse período, Sir Richard negou que o Agente Laranja, utilizado na Guerra do Vietnã, pudesse causar câncer - o que foi refutado por estudos posteriores. O Agente Laranja era produzido pela Monsanto.
Doll também esteve na folha de pagamento da Dow Chemicals, antiga Union Carbide - responsável pelo maior desastre industrial do mundo -, da Chemical Manufacturers Association e da Imperial Chemical Industries, para quem ele escreveu um relatório, contestado pela OMS, negando a conexão entre cloreto de vinila e câncer.
Se há cinqüenta anos havia médicos que receitassem cigarros, hoje os fumantes são o alvo principal das patrulhas paternalistas. Eles sabem o que é bom para você. E têm o Estado a tiracolo.
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Depois dos fumantes, os obesos: há nos EUA quem defenda que os obesos paguem mais impostos, uma vez que têm mais problemas de saúde. E um estudo coloca os gordos como os maiores responsáveis pelo aquecimento global.
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Pinochet está morto. Ou não. É pouco provável que a esquerda chilena abandone a estratégia eleitoral que utiliza desde a restauração democrática: quando a direita ameaçava a hegemonia da Concertación, os canhotos alertavam para quão imoral era votar em quem esteve ao lado do ditador.
As reações não foram muito além do esperado. A imprensa à direita lembra que Pinochet esteve à frente de um regime autoritário e repressor, mas que a intervenção evitou uma "cubanização" do Chile, em que morreriam muitos mais. Além disso, as medidas econômicas implementadas foram fundamentais para o desenvolvimento de uma economia moderna e uma democracia verdadeiramente livre. A mídia à esquerda lembra da perseguição e da tortura e do apoio que Pinochet recebeu dos Estados Unidos, e critica as reformas econômicas, responsáveis pela concentração de renda, aumento da pobreza e diminuição de salários. Oh, o neoliberalismo...
A morte de Augusto José Ramón Pinochet Ugarte também serviu para rever velhos mitos. Semelhante ao que ocorre com João Goulart no Brasil e Perón na Argentina - e curiosamente não com Batista em Cuba -, no Chile Salvador Allende tornou-se o mártir de um novo mundo anunciado há mais de 150 anos pelas esquerdas revolucionárias. O socialismo democrático era uma prova de que uma outra realidade é possível. Obviamente, os americanos não permitiriam que isso acontecesse. Oh, os americanos...
Allende não foi o herói vendido pela intelligentsia. Teve 35% dos votos em 1970. Chegou ao poder por meio de uma eleição indireta. Ameaçou prender jornalistas. Houve inflação de 500% e racionamento. Donas-de-casa saíam às ruas batendo panelas. Brigou com a Suprema Corte, que denunciou seus planos de expropriação. Seu codinome na KGB era "Líder". Era anti-semita, racista e homofóbico.
Mas não haverá ressurreição maior de mitos do que nos obituários de Fidel Castro.
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Waldir Pires era Ministro da Controladoria Geral da União enquanto estava ativo o maior esquema de corrupção da História do Brasil. Waldir Pires é Ministro da Defesa enquanto ocorre a maior crise da História da Aeronáutica.
Qual será seu próximo passo?
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Quando em março o ETA anunciou um "cessar fogo permanente", o Rei de Espanha pediu "cautela" aos negociadores. Nos 32 anos de reinado, Dom Juan Carlos já viu o ETA anunciar o fim da violência 12 vezes, inclusive um "indeterminado e incondicional" em 1998. O Presidente do Governo, José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE - Partido Socialista Obrero Español -, fez pouco do conselho e preferiu repetir a cantilena reformista de que "daqui pra frente, tudo vai ser diferente".
Passados oito meses, os etarras ainda não depuseram as armas. Pelo contrário, em abril cometeram um atentado em Barañaín, no norte de Espanha. O Governo explicou que "o processo de paz ainda não havia começado"! O grupo terrorista explicou que não há conversa antes da autodeterminação do País Basco.
Em junho o ETA emitiu um comunicado em que exige que o Governo francês faça parte das negociações. No fim do mês, Zapatero anuncia o início do processo de paz. Em agosto, os terroristas bascos declaram que as negociações estavam "imersas em uma crise evidente", culpando os socialistas pela situação. Advertiram que "responderiam" se França e Espanha dessem continuidade à "repressão" contra a esquerda local.
Em setembro, novos atentados. Em uma celebração em homenagem a militantes etarras, três membros encapuzados anunciaram que o ETA, em nome da independência e do socialismo, continuará empunhando armas. Em outubro a França acusou o grupo de ter roubado centenas de armas e munição de uma empresa francesa. Afirmou ainda que o contrabando de armamentos continuou depois do cessar fogo.
Em novembro, jovens militantes do Batasuna, o braço político do ETA, tentaram incendiar dois policiais. Os terroristas ameaçaram interromper o processo de paz. A direção do PSOE admitiu que as dúvidas sobre o processo de paz são justificáveis e legítimas. Tarde demais.
Pesquisas recentes mostram que a vantagem dos socialistas sobre os populares é inferior a 1%, e jornais da esquerda, como o El País e o Cadena Ser já admitem uma vitória do Partido Popular nas próximas eleições. Os espanhóis votaram nos socialistas em 2004 para se ver livres do terrorismo. Zapatero tirou as tropas do Iraque, mas cultivou terroristas em casa. O ETA tem ligações com o IRA e as FARC, e nos últimos 38 anos matou mais de 800 pessoas, inclusive o Primeiro-Ministro Luis Carrero Blanco em 1973.
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"A multidão, quando se vê de posse da autoridade, é ainda mais cruel que os tiranos".
Platão
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