Gilles Gomes de Araújo Ferreira

segunda-feira, 31 de julho de 2006

As tentações capitalistas

Minas Gerais, 01 de agosto de 2006

Enquanto Presidente Fernando Henrique Cardoso pode ter exibido os piores defeitos - e ele os fez -, mas que não haja dúvida sobre sua desenvoltura diplomática. Elegância, fineza, classe modos. Sejamos francos, quem não envaideceu vendo o Chefe de Estado discursando em francês na Assembléia Nacional Francesa?

Luís Inácio é o anti-FHC. Fala um português sofrível, é rude, grosseiro, tosco. No começo do ano fez uma visita de Estado ao Reino Unido e foi recebido em Buckingham pela própria Rainha. Demonstrou um deslumbramento novo-riquista constrangedor. Recusou-se a vestir o fraque - desprimor que já havia oferecido a Don Juan Carlos - e contava, exultante, ao retornar, sobre as portas sem fechadura do Palácio.

Reza um ditado que "aquele que nunca comeu mel, quando come labuza-se". A "gastança em badulaques adequados a um sheik de Agadir", como bem definiu Augusto Nunes, é distintiva dos parvenus. Quem não se lembra da reforma implementada por Sua Excelência pouco depois de ocupar o Palácio do Alvorada? Da nova churrasqueira com cinco metros de comprimento? Dos roupões de algodão egípcio? Quem não se lembra da lista de compras que previa, entre outros, 600 quilos de bombons e 900 latas de leite condensado para serem consumidos em 120 dias?

Seria no mínimo constrangedor o líder de uma facção política que enxerga as "desigualdades sociais" como fruto direto do capetalismo selvagem render-se às tentações do dinheiro. No entanto, não se preocupem. Esse fenômeno não é exclusividade nossa. Em todo o mundo a extravagância financeira têm se tornado uma qualidade dos líderes progressistas.

A candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade, Sra. Senadora Heloísa Helena, por exemplo, entre um discurso contra a "farsa neoliberal" e a "submissão ao capital estrangeiro", dirige um carro esporte Suzuki que não sai por menos de 62 mil reais. Se os cubanos estão condenados a calçar um único par de sapatos pela vida toda, essa não é uma preocupação para Fidel Castro, que não exita em usar tênis Reebok. Ninguém reclama. Mortos não falam.

No mundo democrático a impostura é um pouco mais sutil. Há alguns anos Mr Anthony Blair ganhou o mundo como o rosto de uma "nova esquerda", que não defende o socialismo, mas nem por isso deixa de combater o capitalismo. Os trabalhistas quase extinguiram a hereditariedade da Cãmara dos Lordes, tornando-a em sua maioria um organismo composto por pessoas indicadas pelos partidos. Depois descobriu-se que o Labour cobrou propina pela indicação de algumas dessas pessoas.

A proposta era a de sempre: a defesa da igualdade significava o fim dos privilégios da nobreza. Como Mr Blair não é nobre, seus privilégios não foram ameaçados. Em abril o The Daily Telegraph noticiou que o Primeiro Ministro utilizou o Queen's Flight para viagens particulares. Desde que assumiu, em 1997, já fez o avião "como táxi privado" em 677 ocasiões.

Sr. Zapatero é um caso ainda mais complicado. Sua idéia de igualdade chega ao cúmulo de tornar lei a divisão de trabalhos domésticos entre homens e mulheres. O Presidente do Governo também revogou uma lei de quase mil anos que colocava os homens em preferência na linha sucessória dos títulos de nobreza hereditários.

Em 1991 o Rei Hussein da Hordânia presenteou Sua Majestade o Rei Juan Carlos I com uma casa em Lanzarote, um destino paradisíaco nas Ilhas Canárias. A Casa de La Mareta tornou-se um destino habitual da Família Real Espanhola. Como José Luiz Rodrigues Zapatero está ali para romper com as tradições, tornou-se o primeiro Presidente a hospedar-se no prédio para tirar férias. A realeza, ao que tudo indica, não foi avisada. Na semana passada as duas filhas de Don Juan Carlos, Doña Elena e Doña Cristina, estiveram no lugar com suas famílias. Tiveram que procurar um hotel.

domingo, 23 de julho de 2006

O continente árabe

Minas Gerais, 23 de julho de 2006

Lula dá azar é o título de um artigo que Diogo Mainardi publicou na Revista Veja em setembro de 2004:

Em agosto, Lula (toc-toc-toc) visitou a República Dominicana e o Haiti. Em seguida, os dois países foram devastados pelo furacão Jeanne, que causou centenas de mortes. Em julho, o presidente passou por Santa Cruz de la Sierra, na Bolí¬via. Poucas semanas depois, a região foi assolada por um incêndio florestal de grandes proporções. Ainda em julho, Lula (toc-toc-toc) viajou para Cabo Verde e Guiné-Bissau. Assim que ele foi embora, surgiram os primeiros sinais de uma gigantesca infestação de gafanhotos naquela parte da África. Em maio, o presidente foi à China. Nos dois meses seguintes, tufões castigaram o país, provocando mais de 600 mortes. Tempestades, chamas, mares de sangue e gafanhotos: não pretendo fazer ilações injuriosas, mas tudo lembra os flagelos do Apocalipse.


Já Reinaldo Azevedo chamou o Presidente de "Midas às avessas". Na mitologia grega, tudo o que o rei tocava se transformava em ouro. Na farsa brasileira ocorre exatamente o contrário.

No discurso de posse Sua Excelência colocou a integração da América Latina como prioridade. Desde então, a Argentina e o Uruguai encenam uma guerra fria, a Bolívia deu as costas para a vizinhança - mostrando sabe-se bem o quê - e a Venezuela... enfim!

O petista também estabeleceu como prioridade a aproximação entre a América Latina e os países do continente árabe (sic). Nascia a Cúpula América do Sul-Países Árabes, sediada em Brasília, em maio de 2005. Tradição aplicada, o Presidente da Venezula Sr. Hugo Chávez constrangeu o Presidente do Iraque ao defender a resistência dos partidários de Saddam Hussein. O documento final defendia "o direito dos Estados e povos de resistir à ocupação estrangeira", criticava as "sanções unilaterais impostas à Síria pelos Estados Unidos da América", considerando uma violação aos "princípios do direito internacional", e exigia a destruição do arsenal nuclear do Estado de Israel. A quem interessar, a Cúpula convoca a Argentina e o Reino Unido a "restabelecer as negociações" para encontrar "uma solução justa, pacífica e duradoura para a controvérsia soberania em relação à questão das Malvinas (sic)".

A lenda de Midas se explica. Lula se aproxima do Oriente Médio e ele desmorona.

Tradicionalíssima, a esquerda mundial reduziu o conflito a um joguete de tribunal. Há alguns dias, na Grã-Bretanha, milhares de pessoas foram às ruas exigindo o fim da agressão israelense contra os libaneses. A passeata foi organizada por Mr George Galloway, MP, peça importante do esquema de corrupção do programa "Oil for Food". Os manifestantes carregavam cartazes com críticas ao Presidente dos EUA Mr George W. Bush.

Mr Bush, aliás, é a Geni da humanidade. Numa enqueta da FolhaOnline mais de um terço acredita que só os americanos podem pôr um fim ao conflito. Obviamente, censurando Israel.

Outro chavão é pedir uma força de paz multinacional. Os capacetes azuis das Nações Unidas não deram certo em lugar nenhum. No Haiti, em Ruanda, no Sudão... e mesmo assim as pessoas acreditam na estratégia. Assim como há quem acredite em Luís Inácio. E socialismo. É importante notar, no entanto, que quem sugerir uma medida assim ou age com má-fé ou comprova um absoluto desconhecimento da situação. Desde o final dos anos 70 a ONU mantém soldados na fronteira Israel-Líbano. As resoluções 425 e 426 determinaram que as tropas teriam por objetivo:

- Garantir a retirada das forças israelenses do sul do Líbano.
- Restaurar a paz internacional e a segurança.
- Auxiliar o governo libanês na retomada da autoridade naquela região.

Israel só abandonou a área depois de 20 anos. O sul do Líbano é até hoje parte de um Estado paralelo, comandado pelo Hezbollah. Paz e segurança. Nenhum dos analistas e especialistas em Oriente Médio que pipocaram nos jornalões notou essa incoerência, à excessão do canadense National Post, que na quarta-feira 19 publicou editorial entitulado The UN's failed mission:

At the United Nations and in Europe, there is a clamour for the deployment of a UN peacekeeping force to Southern Lebanon. The hope is that, by physically separating the two warring sides, peacekeepers can make continued war between Hezbollah and Israel impossible.

Peacekeeping is a nice idea in theory, and it has even worked once or twice in various parts of the world. But in the context of southern Lebanon, the concept is not only laughably naive, but dangerous as well.

As informed observers know, there already is a peacekeeping force in the area, and it's been there since 1978. But all the United Nations Interim Force in Lebanon (UNIFIL) has done is preside over the establishment of a de facto Hezbollah terrorist statelet on Israel's northern border. Given the United Nations' historic antipathy toward Israel, there is little reason to suspect that even a larger, better-trained force would rouse itself to offer the Jewish state any better protection.


O National Post é um jornal conservador. Por isso não repercutiu tanto. Se fosse um The Gaurdian ou um The New York Times, seria diferente. Mas não espere muita coisa deles. A UNIFIL consome anualmente US$ 100 milhões. Foi acusada de cumplicidade no seqüestro dos militares israelenses, que desencadeou todo o conflito.

Claro que os intelectuais não ficariam de fora desta nossa inquisição. Elas são sempre necessárias. A última das cabeças privilegiadas é publicar um documento denunciando um plano de "extinção da nação palestina". É assinado por Noam Chomsky - que se descreve um socialista libertário, o que já indica um gosto pela contradição -, Harold Pinter - que queria a libertação de Milosevic -, e José Saramago - um comunista milionário. Alguns trechos são, com o perdão da palavra, hilariantes:

Hoje, a uma atrocidade segue-se outra atrocidade; os mísseis improvisados se cruzam com outros sofisticados. Estes últimos, em geral, encontram seu alvo onde vivem os pobres despossuídos e morando empilhados, esperando o que alguma vez se chamou Justiça.



Além da eterna insinuação de preconceito social, como se os judeus quisesse eliminar todos os pobres, é curiosa a idéia de que os mísseis "sofisticados", ao contrário dos "improvisados", que alcançam cinqüenta quilômetros e afundam navios de guerra, geralmente encontram seu alvo - os pobres. Os improvisados não matam inocentes. A culpa é da tecnologia. Já dizia Pol Pot.

Kyrie Eleison.


P.S.: Raul Cortez morreu há pouco. Gianfranceso Guarnieri também. A manutenção de Gilberto Gil em um eventual segundo mandato petista será o tiro de misericórdia da cultura brasileira.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Os Barões de Araruna

Minas Gerais, 21 de julho de 2006

Il Duce Benito Mussolini dizia que "as poltronas e as pantufas são as ruínas do mundo". As pessoas podem ser surpreendentes. Mesmo um facista boçal e gabarola é capaz de alguns impulsos de inteligência. Alguém precisa avisar o Presidente sobre isso...

Por algumas semanas as poltronas e as pantufas compuseram o cenário de meu ócio contemplativo. Oh, quanto tempo perdido. Jornais amontoaram-se ao lado de uma estante. Ignorá-los fazia parte do meu projeto de total desconexão da realidade. Aprendi com Marilena Chauí. Era assim que pretendia evitar o ímpeto de dedicar parte das minhas folgas para escrever e voltar à rebeldia conservadora. Paga-se um preço caro pela indolência. Meu castigo foi demorar para perceber a verdade. Assim como Marilena Chauí.

Findo o recesso, dediquei-me à leitura daqueles papéis que tinha ignorado. E lendo um artigo de Miriam Leitão em O Globo, deparei-me com a incômoda verdade: eu sou o Barão de Araruna. Porque não me constranjo com a situação deplorável a que os negros do Brasil são submetidos. Porque não me incomoda não ver negros em restaurantes. Porque me dá prazer vê-los afogados na miséria. E eu achei que só era contra as cotas...

A colunista está com toda a razão. Somente uma pessoa interessada em manter o status quo da elite branca pode se opor ao Estatuto da Igualdade Racial. Só um sádico insensível e desumano não se solidarizaria perante o tratamento que a sociedade racista brasileira reserva aos afrodescendentes.

Vocês racistas dizem que a proposta do excelso Senador Sr. Paulo Paim (PT-RS) é inconstitucional. A Constituição deve ser acomodada taticamente. Que Carta democrática impediria os avanços das garantias sociais? Há direitos que devem sobrepor-se a outros em nome do bem comum. Como a reforma agrária em relação ao direito à propriedade.

Vocês preconceituosos provavelmente utilizarão a Espanha como exemplo. O primeiro projeto de lei enviado às Cortes Generales pelo Presidente do Governo Sr. José Luiz Rodriguez Zapatero tratava da proteção contra violência de gênero. Seus congêneres hispânicos no Partido Popular reclamaram que a medida protegia apenas as mulheres, deixando de lado os homens, as crianças, e os velhos. Tanto fizeram que o Consejo General del Poder Judicial declarou a norma inconstitucional, porque discriminava os cidadãos pelos sexos! Ora, todos sabem que a Espanha é caracterizada pelo conservadorismo católico da sua gente, capaz de se divertir com o sofrimento de pobres bovinos, criaturas de Deus como todos nós. O espanhóis ainda pagam imposto à Igreja Católica e se recusam a libertar os bascos, que ao contrário do que se diz, não praticam o terrorismo. O nome certo é resistência.

Vocês porcos nazistas certamente aludirão à Africa do Sul. Pois saibam desde já que desde Nelson Mandela uma série de medidas foram aprovadas para alavancar uma elite negra. Como o Black Economic Empowerment (BEE) do Presidente Mr Thabo Mbeki, que determina que 25% do capital das empresas esteja na mão de pessoas negras até o fim da próxima década. Vocês podem até procurar um artigo do professor Mr Jeffrey Herbst - que é branco - criticando a intervenção. Argumenta ele que uma minoria negra bem relacionada politicamente está sendo a única beneficiada. Expõe dados que demonstram que 60% dos negócios fechados sob à luz da nova lei em 2003 tiveram como beneficiários apenas duas pessoas, os bee-llionaires.

O escrito foi publicado no International Herald Tribune, a versão européia do jornalão americano The New York Times, aquele do fanfarrão Larry Rohter, que inventou que o Presidente Lula bebe além da conta. Meros instrumentos do capital estrangeiro e da agressiva política externa americana imperialista pró-Israel do Presidente Bush. Os americanos fazem de tudo para deter os avanços da integração latino-americana e das reformas que o governo está implementando no Brasil. É isso: os avanços incomodam os americanos. Nós temos que ser pobres para que eles sejam ricos.

Ora, Mr George W. Bush é um direitista republicano. Racista por excelência. Não viram o caos em New Orleans? Aquilo só ficou assim porque é uma cidade de maioria negra. Eu sei que Mr Abraham Lincoln, que levou o país à Guerra Civil para abolir a escravidão, era republicano. E que Mr Ulysses S. Grant, que enfrentou a Ku Kux Klan também... Mas... eram apenas... exceção. As ações afirmativas, a verdadeira abolição, foi imposta por um democrata, Mr John F. Kennedy.

Os democratas são esquerda. Mr Bill Clinton é democrata. A direita é a histórica guardiã dos preconceitos de cor, de classe, de origem. A esquerda está acima de tudo isso, são pessoas dedicadas a promover a paz social. E o crescimento econômico com distribuição de renda.

Os nazistas eram direita, certo? A esquerda nunca admitiria um projeto que envolvesse racismo. É certo que na URSS etnias inteiras foram expulsas de suas terras natais para a formação do Novo Homem Soviético. E que milhões de grupos étnicos inteiros foram condenados por crimes contra o comunismo, como quando 1 milhão de ucranianos morreram de fome. Mas é também verdade que a União Soviética distorceu toda a ideologia de Lênin. Não eram comunistas, eram capitalistas de Estado.

Os comunistas do Vietnã também perseguiram minorias raciais. Como os Montagnards - perdão, Degars. Montagnard é o nome que os colonizadores deram - e os H'Mông. E o regime do Presidente Mr Robert Mugabe declarou guerra aos brancos. De acordo com Mr Mugabe, o Zimbábue é um país para negros.

Ah, mas os cotistas alcançaram notas maiores que os não-cotistas nas universidades. Provam que são mais inteligentes. Logo... não precisariam de cotas!

Hr. Mayer Amschel Rothschild nasceu em um gueto em Frankfurt. As leis da época discriminavam os judeus, que eram impedidos, por exemplo, de se casar com quem não fosse do gueto. Isso não o impediu de criar uma dinastia de banqueiros e investidores, que se tornaram nobres na Inglaterra e na Áustria. Um relato do século XIX diz que os judeus, perseguidos na Rússia czarista, onde foi escrito Os Protocolos dos Sábios do Sião, mesmo nas casas mais pobres, dedicavam parte do orçamento familiar para comprar livros, enquanto até mesmo os aristocratas russos desdenhavam da instrução.

Pra terminar, Francis Bacon: "A baixeza mais vergonhosa é a adulação".

O Brasil é um atentado à inteligência.
Kyrie Eleison.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Valeu Portugal!

Valeu Portugal!

O centésimo

Este é o centésimo post. Para comemorar, eu ofereço-lhes o sorriso mais bonito que já vi:

Poucas notas (2)

Um blogue cingapuriano publicou caricaturas de Jesus Cristo. Saiam às ruas! Peguem em armas! Queimem embaixadas! Respondam como se deve à blasfêmia! Não se preocupem, essas reações já foram justificadas pelos nossos pensadores politicamente corretos. O que os asiáticos fizeram, claro, é uma provocação contra os valores do cristianismo. E não vale apelar para a liberdade de expressão!...

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Aproveitando que os ânimos já estão inflamados, vamos condenar o Papa! O Grande Rabino de Israel Shlomo Amar pediu ao Bispo de Roma, Vigário de Cristo, Primaz de Itália, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice, que condene a Parada Internacional do Orgulho Gay que será realizada em Israel em agosto. "Como é que o Papa tem coragem de manter esses preconceitos? Hein? E os novos paradigmas do novo milênio? A Igreja Católica é anacrônica"!

Sobre os preconceitos do Grande Rabino... qual era o nome dele mesmo?

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A Justiça francesa determinou o pagamento de indenização a um estudante francês que se sentiu prejudicado pela greve de seus professores. No Brasil, a greve de servidores da Receita Federal já dura mais de dois meses.

Ah, a civilização!...

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"EUA não podem agir como a polícia do mundo. A Coréia do Norte tem todo o direito de desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos". Arrã.

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O Primeiro-Ministro da Austrália Mr John Howard, que tem este blogue entre seus admiradores, declarou guerra ao Big Brother Australia. "Aqui está uma grande oportunidade para um pouco de auto-regulamentação e para tirar este programa estúpido do ar. É apenas uma questão de bom gosto". O ataque veio depois que dois participantes do programa agrediram sexualmente outra participante.

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O Estado de S. Paulo publicou no domingo uma relação de políticos que descumprem as regras constitucionais e são donos de empresas de mídia. Na segunda-feira o jornalão publicou editorial criticando o poder de políticos sobre empresas jornalísticas.

E quanto ao poder da mídia sobre os políticos? Não venham me dizer que o fato de o Governo escolher o padrão japonês para TV Digital não tem relação com a preferência da TV Globo sobre este padrão.

Há alguns dias o Presidente decretou medida que auxilia centenas de emissoras de rádio e televisão que estavam com dificuldades financeiras em todo o país. Crise de bom-mocismo?

Em tempo: o chefe de polícia Mr Terry Grange acusou o Governo Blair de definir suas ações com base na pauta estipulada pelos famigerados tablóides britânicos. Hoje 61% dos ilhéus acreditam que a mídia é mais influente na administração do Reino Unido do que os políticos.

terça-feira, 4 de julho de 2006

'Ainda vai tornar-se um imenso Portugal'

Minas Gerais, 04 de julho de 2006

Há 2500 anos Lao-Tsé já advertira: "Quem fica na ponta dos dedos não se conserva de pé durante muito tempo. Claro que todos têm o direito de ser estúpidos, mas alguns abusam! Não adiantaram as advertências, os avisos, as críticas - eram tudo intrigas de oposição. A seleção brasileira deixou a bola escapar. O capitão do time diz que aprendeu uma lição: nem sempre o melhor vence. Claro que vence. Por isso perdemos.

Os italianos gostam de dizer que depois que o barco afunda, todos tinham um plano para salvá-lo. Os bodes expiatórios da estação são aqueles jogadores que pecaram por estar, nas palavras de um jornalista televisivo, "do lado errado dos trinta anos". Zinedine Zidane tem 36.

Na enquete da FolhaOnline a maioria dos internautas achava que a final seria disputada por Alemanha e Portugal. Erraram. E para os brasileiros torcer para a seleção de Luiz Felipe Scolari depois da desclassificação da Guarda Suíça (um eufemismo que Milly Lacombe criou para a seleção brasileira, antes que Jô Soares a classificasse "seleção apátrida) é automático. Além de Filipão, só mesmo alguém muito distante da realidade (um petista?) negaria os vínculos que nos ligam à terrinha, sejam parentais, culturais, ou históricos. E é daí que nasceu a confusão.

Para a intelligentsia torcer para Portugal é mais um vestígio de uma certa "vassalagem cultural". Mais burlesco que isso, só mesmo Juca Kfouri alegando uma articulação da arbitragem para favorecer times europeus. Ou seja, a culpa não é das meias de Roberto Carlos, ou a indiferença de Carlos Alberto Parreira, ou o sobrepeso de Ronaldo. Viva a teoria da conspiração!

O rancor que o Politburo dedica à terrinha está fundado na colonização. Vitimista como ela só, a esquerda culpa Cabral por todos os males que abundam em Terra Brasilis. Não importa que tenham saído daqui há 183 anos, e também ninguém alude aos 9 golpes de Estado e às 8 diferentes moedas adotadas de lá pra cá. É este o freudianismo mais ridículo: a culpa de tudo cabe sempre aos pais.

Foi Lima Barreto quem melhor debochou dos nacionalistas românticos. Em Triste Fim de Policarpo Quaresma o personagem-título chega ao cúmulo de enviar um projeto ao Congresso Nacional que torna o tupi-guarani a língua oficial do Brasil. Nossos intelectuais politicamente correto o incorporam melhor do que ninguém. Decerto imaginam que estaríamos melhores se sentados ao redor de uma fogueira, morando em casas de palha, e cozinhando em panelas de barro.

Em 2004 a estátua de Cristóvão Colombo foi derrubada em Caracas. O Presidente Venezuelano, Señor Hugo Chávez, chamou o explorador espanhol de "o maior genocida de todos os tempos". Nos delírios que sofrem os acometidos pela doença do esquerdismo os colonizadores dizimaram civilizações avançadíssimas, como os astecas, os maias, e os incas, que teriam deixado os exploradores "impressionados". Os incas ainda praticavam sacrifícios humanos, acreditando que isso acabaria com a raiva do El Niño. A religião maia era centrada na astrologia! E os três eram, admitam, imperialistas.

Outra versão é aquela que afirma que seríamos desenvolvidos se ao invés de colonizados por Portugal tivéssemos como metrópole a Inglaterra. Montam um quadro onde estão os EUA, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia. E escondem a Índia, o Sudão, o Egito.

Há alguns meses um blogue criticou uma nota publicada em outro blogue, o do jornalista do Daily Telegraph David Blair. Ali Mr Blair lamenta os resultados de quatro décadas de independência da África:

Under the British, Tanzania had been Africa's largest exporter of food. By the late 1970s, Tanzania was a collapsing, chaotic shell, where the shops stocked
almost nothing and even toothpaste was virtually unobtainable.


A independência - provavelmente nos diriam - não é um simples ato de ruptura política. Não, é um processo que só será bem sucedido quando formos completamente livres politicamente, economicamente, culturalmente, futebolisticamente, tecnologicamente, militarmente. E isso só será possível por meio de uma revolução. Sim!, bolivariana. Como Señor Chávez na Venezuela e Señor Morales na Bolívia. Deve ser por isso que os livros escolares do MST ensinam a Independência do Brasil escrita entre irônicas aspas.

Quanto a mim, a quem a palavra "revolução" atiça os instintos, serei condenado por lesa-pátria, inimigo do povo. Porque quando vierem me falar sobre os índios massacrados, a destruição da cultura nativa, a cristianização dos gentios, estarei ouvindo Madredeus, lendo Camões e Pessoa do original e dizendo: "É... Valeu a pena"!

domingo, 2 de julho de 2006

A História é uma estória

Minas Gerais, 02 de julho de 2006

Para o perfeito idiota latino-americano a história "é uma bem-sucedida conspiração dos maus contra os bons". Já alertei anteriormente para a questão da obsessão das esquerdas brasileiras e mundias em relação às teorias conspiratórias. Acredite!, já há gente dizendo que o Brasil perdeu para os franceses ontem por culpa da Nike.

Como boa defensora dos bons, a esquerda se esmera em denunciar tais tramas. Vejam o exemplo da revista CartaCapital, por exemplo: a Rede Globo é claramente pró-Alckmin, uma vez que na exibição da minissérie "JK" colocou como maior aliado do tributado Presidente seu Ministro da Fazenda, de nome José Maria Alckmin. Ora, é um conluio que já dura 60 anos!

Venerado pelas esquerdas de todo o mundo em todos os tempos, Karl Marx entendia que "as idéias de uma época são as idéias das classes dominantes". Imbuídos do Complexo de Super-Homem historiadores passaram a reescrever a história a partir de uma visão, conforme Howard Zinn, "popular". Mr Zinn achava que a História dos Estados Unidos era muito centrada nas elites e desconsiderava a visão dos native-american e african-american da mesma. Daí surgiu A People's History of the United States, sem tradução encontrada. Ah, sim: Mr Zinn é marxista.

À esse movimento deu-se o nome "revisionismo". E toda a história foi então revisada. Cristóvão Colombo descobriu a América? E quanto aos milhões de índios que estavam por aqui antes da chegada do genovês? Aliás, como os milhões de índios foram massacrados, torturados, violentados, escravizados, vendidos, tudo em nome da ganância dos colonizadores pelas riquezas naturais da nossa terra, que persiste até hoje (Abaixo a globalização!), nada mais natural do que alguns escritores compararem Colombo a Hitler!

O Brasil também não foi descoberto, foi "conquistado". Veja só, os rebeldes se rendem ao politicamente correto. Presumível, a colonização é a Idade das Luzes para os nacionalistas à direita e à esquerda. Tento manter o post num tamanho "adequado", falo da colonização em outro post.

O czar dos revisionistas atende pelo nome de Eric Hobsbawn. Corra até o livro escolar mais próximo, com certeza o nome dele aparece na bibliografia. Mr Hobsbawn foi bajulado pela imprensa pindorâmica quando esteve presente à Flip como um dos maiores historiadores da atualidade. "Dada a fragilidade a que se submeteram os sistemas comunistas, apenas uma limitada, e até mesmo nominal, uso de coerção armada era necessária para mantê-los de 1957 até 1989". Ele se refere aos 6.300 tanques e 400.000 soldados que Moscou enviou para sufocar a Primavera de Pragua. Mr Hobsbawn também acredita que 20 milhões de mortos são um número "justificável" se isso significasse a implementação do comunismo. Que certamente mataria muitos milhões mais. Justificadamente.

No Brasil o maior revisionista atende pelo nome de Luís Inácio Lula da Silva. Que ao mesmo tempo é o Presidente da República. E candidado à reeleição. O sr. Luís Inácio acha que a História do Brasil até 2003 resumia-se na elite branca paulista carregada em liteiras pelos negros nordestinos mestiços analfabetos trabalhadores marginalizados pelo sistema neoliberal. Tudo isso à espera de Antônio Conselheiro, que pôs "ordem na casa".

O sr. Luís Inácio, não me canso de repetir, também diz que Napoleão esteve na China. E que na Venezuela há "excesso de democracia", como se fosse possível. Não satisfeito, a Excelência ainda declarou que o Gasoduto Sul-Americano é a maior obra a ser construída no mundo em mais de 2000 anos, vencendo de longe o Eurotunel e o Canal do Panamá.

Incontestável é que o Presidente não é um deslumbrado pela História. Sua visão tacanha tem motivações políticas. Acusação semelhante foi feita em editorial do Diario ABC em relação ao Presidente do Governo José Luis Rodríguez Zapatero. Señor Zapatero declarou oficialmente que o período mais democrático da História da Espanha foi a Segunda República (1931-1939), anterior à Guerra Civil e o Franquismo. Diz o jornal:

En materia de memoria histórica, por tanto, lo único que el poder político
debería hacer es... promover el estudio de la historia. Al poder podrán
corresponderle en casos flagrantes -el Holocausto, la esclavización en el pasado
de la población africana, las víctimas del comunismo en la Europa del este o del
apartheid en Suráfrica o del franquismo en España (o del terrorismo del IRA y
ETA)- políticas de reconocimiento y compensación del sufrimiento padecido por
determinados grupos humanos en la historia. Lo que no cabe aceptar es el uso
dirigista del pasado desde el poder, la utilización política de la memoria. La
propaganda la escriben los vencedores; la historia la escriben los
historiadores.


O presidente do PSOE, membro da Internacional Socialista, também acredita que a Espanha tem sorte por ter um monarca republicano. O que quer que isso signifique.

A Segunda República Espanhola foi comandada a princípio, veja só!, pelo PSOE. Era a república "unitaria y semisocialista". Reformas de toda a sorte foram implementadas. Dois anos depois a esquerda perdia as eleições para um grupo de centro-direita, que reverteu a maioria das reformas implementadas pelo partidão. No ano seguinte a esquerda organiza um golpe, a Revolución de 1934, sufocada pelas forças militares. Tem início uma série de atentados contra a Igreja Católica espanhola, resultando no assassinato de 6.845 religiosos até o ano de 1939. As esquerdas socialistas e republicanas voltam a se unir na Frente Popular. A divisão do país leva à Guerra Civil Espanhola. Mais de 1 milhão de mortos.

Assim como o governo de Salvador Allende, as Reformas de Base e Leon Trotsky, a República Espanhola teve sucesso porque fracassou. Os socialistas não-marxistas atuais olham para estes períodos com um misto de romantismo e nostalgia enquanto suspiram "Ah, como teria sido!". Cuba, China, URSS, Albânia, Iugoslávia, Romênia etc. podem responder...