Luís Inácio é o anti-FHC. Fala um português sofrível, é rude, grosseiro, tosco. No começo do ano fez uma visita de Estado ao Reino Unido e foi recebido em Buckingham pela própria Rainha. Demonstrou um deslumbramento novo-riquista constrangedor. Recusou-se a vestir o fraque - desprimor que já havia oferecido a Don Juan Carlos - e contava, exultante, ao retornar, sobre as portas sem fechadura do Palácio.
Reza um ditado que "aquele que nunca comeu mel, quando come labuza-se". A "gastança em badulaques adequados a um sheik de Agadir", como bem definiu Augusto Nunes, é distintiva dos parvenus. Quem não se lembra da reforma implementada por Sua Excelência pouco depois de ocupar o Palácio do Alvorada? Da nova churrasqueira com cinco metros de comprimento? Dos roupões de algodão egípcio? Quem não se lembra da lista de compras que previa, entre outros, 600 quilos de bombons e 900 latas de leite condensado para serem consumidos em 120 dias?
Seria no mínimo constrangedor o líder de uma facção política que enxerga as "desigualdades sociais" como fruto direto do capetalismo selvagem render-se às tentações do dinheiro. No entanto, não se preocupem. Esse fenômeno não é exclusividade nossa. Em todo o mundo a extravagância financeira têm se tornado uma qualidade dos líderes progressistas.
A candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade, Sra. Senadora Heloísa Helena, por exemplo, entre um discurso contra a "farsa neoliberal" e a "submissão ao capital estrangeiro", dirige um carro esporte Suzuki que não sai por menos de 62 mil reais. Se os cubanos estão condenados a calçar um único par de sapatos pela vida toda, essa não é uma preocupação para Fidel Castro, que não exita em usar tênis Reebok. Ninguém reclama. Mortos não falam.
No mundo democrático a impostura é um pouco mais sutil. Há alguns anos Mr Anthony Blair ganhou o mundo como o rosto de uma "nova esquerda", que não defende o socialismo, mas nem por isso deixa de combater o capitalismo. Os trabalhistas quase extinguiram a hereditariedade da Cãmara dos Lordes, tornando-a em sua maioria um organismo composto por pessoas indicadas pelos partidos. Depois descobriu-se que o Labour cobrou propina pela indicação de algumas dessas pessoas.
A proposta era a de sempre: a defesa da igualdade significava o fim dos privilégios da nobreza. Como Mr Blair não é nobre, seus privilégios não foram ameaçados. Em abril o The Daily Telegraph noticiou que o Primeiro Ministro utilizou o Queen's Flight para viagens particulares. Desde que assumiu, em 1997, já fez o avião "como táxi privado" em 677 ocasiões.
Sr. Zapatero é um caso ainda mais complicado. Sua idéia de igualdade chega ao cúmulo de tornar lei a divisão de trabalhos domésticos entre homens e mulheres. O Presidente do Governo também revogou uma lei de quase mil anos que colocava os homens em preferência na linha sucessória dos títulos de nobreza hereditários.
Em 1991 o Rei Hussein da Hordânia presenteou Sua Majestade o Rei Juan Carlos I com uma casa em Lanzarote, um destino paradisíaco nas Ilhas Canárias. A Casa de La Mareta tornou-se um destino habitual da Família Real Espanhola. Como José Luiz Rodrigues Zapatero está ali para romper com as tradições, tornou-se o primeiro Presidente a hospedar-se no prédio para tirar férias. A realeza, ao que tudo indica, não foi avisada. Na semana passada as duas filhas de Don Juan Carlos, Doña Elena e Doña Cristina, estiveram no lugar com suas famílias. Tiveram que procurar um hotel.