Gilles Gomes de Araújo Ferreira

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

¡Abajo España!

Passada a euforia inicial, a campanha da socialista Heloisa Helena arrefeceu. Alguns artistas continuam a declarar-lhe apoio, mas ao que tudo indica, a opinião pública está blindada em relação a esse tipo de declaração. Entretanto, quem acessa a página da candidata na internet encontra uma relação de personalidades internacionais que apóiam "Heloisa Helena e seus camaradas" na "luta antiimperialista".

Obviamente Noam Chomsky está lá. Mas é curioso notar que, ao menos em matéria de geografia, o PSOL é realmente revolucionário. O Reino de Espanha não existe mais, deu lugar a um "Estado Espanhol". Haverá alguma relação com a presença maciça da Izquerda Unida?

Da mesma forma, a Inglaterra, a Escócia, e a Grã-Bretanha, aparentemente, são países diferentes.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

À esquerda, revolução. À direita, golpe.

Minas Gerais, 30 de agosto de 2006

Arnaldo Jabor já disse e escreveu tolices. Nas semanas anteriores à Guerra do Iraque foram crônicas e comentários denunciando a torpeza do Presidente dos EUA e dos falcões da Casa Branca. Pediu o retorno de Clinton. Criticou a letargia do Primeiro-Ministro inglês, graças à sua "terceira via" o queridinho dos politicamente corretos social-democratas de todo o mundo.

Elogiava Lula por ter contido o ímpeto totalitário da esquerda brasileira. Depois vieram o CFJ e a Ancinav. Jabor mudou de lado. Censurou o Partido dos Trabalhadores por se opôr às reformas econômicas tentadas por Fernando Henrique e mencionadas por Luiz Inácio. Quando estourou o mensalão, o cineasta maldisse a tentativa de seqüestro da democracia. Ao mesmo tempo, repetia o Presidente na alegação de que corrupção é uma coisa que se faz "sistematicamente" no Brasil.

Tudo isso sem mencionar o rebuscamento barroco presente em seus escritos, uma extravagância à la Pedro Bial. a terça-feira Arnaldo Jabor escreveu artigo para O Estado de S. Paulo e O Globo. "Os quadrilheiros do governo não são de esquerda, não; são de direita". Impossível não lembrar de Roberto Campos e a máxima, "o Brasil é o único país do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio". Pena que desta vez ele tenha errado...

Há alguns dias um historiador inglês elaborou uma lista com os maiores Primeiros-Ministro do século XX. No topo da lista aparece o nome de Clement Atlee, responsável pela nacionalização de um quinto da economia britânica e pelo desmonte do Império Britânico, com a descolonização da Índia, do Paquistão, do Sri Lanka e de Myanmar - ou Birmânia. Mr Atlee desbancou Sir Winston Churchill nas primeiras eleições pós Segunda Guerra Mundial.

Churchill, a propósito, aparece em inacreditável quarto lugar, atrás de Edward Heath e Margareth Thacher. Ora, em pesquisa realizada alguns anos atrás pela BBC o conservador foi eleito o maior cidadão britânico do século XX.

Resta dizer que o historiador em questão, Francis Beckett, é membro do Partido Trabalhista e já trabalhou como secretário de imprensa de sindicatos. Seria exagero dizer que isso lhe garante, como disse Campos, uma conotação de prestígio? Aparentemente sim.

Michael Moore é esquerda. Chamam-lhe "independente". Ann Coulter é direita. Chamam-lhe "bushista". Francis Fukuyama redimiu-se quando disparou contra os neo-cons. Despertou para a verdade. Tony Blair apoiou a Guerra. Passou a fazer parte da Direita - ó castigo!

Quando um repórter quer citar um jornal americano, apresenta o The New York Times, mesmo que seja inferior em qualidade e vendagem que o The Wall Street Journal. Na Inglaterra mencionam o The "Gaurdian", mesmo que o conservador The Daily Telegraph - o link está ao lado - tenha uma tiragem quase três vezes maior.

Líderes da Direita são sempre estúpidos ou frios. Líderes da Esquerda são sempre carismáticos e bem-humorados. Se um governante da Direita fracassa, é por culpa de suas idéias desumanas e sua insensibilidade. Se um governante da Esquerda fracassa, pobre coitado, um idealista vítima do sistema.

Stálin e Mao-Tsé Tung nunca são comparados a Hitler. George W. Bush sim. Condoleezza Rice visita Israel e os EUA são cúmplices do terrorismo de Estado. Hugo Chávez visita Gaddafi, Assad, e Ahmadinejad e está no pleno gozo de sua soberania. À esquerda chamam revolução. À direita chamam golpe. Aqui e lá. Não há para onde fugir.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Devidas explicações



O blogue ficou sem atualização por um bom tempo. Problemas informáticos. Voltaremos assim que a normalidade for restabelecida.

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Obituário: Te Arikinui Dame Te Atairangikaahu, Rainha dos Maori


Morreu hoje aos 75 Te Atairangi Kaahu, Rainha dos Maori nos últimos 40 anos. Os maori, uma nação indígena da Nova Zelândia, há séculos anseia a independência do país. Mesmo assim, ao contrário dos súditos mais exaltados, critica as manifestações contra a visita de membros da Família Real ao país. Dizia os maori eram uma tribo leal ao monarca britânico. Visitou a Rainha Elizabeth II em Londres e o Papa João Paulo II em Roma. Na fotografia acima está ao lado da Princesa Anne - que a propósito, completa 56 anos hoje. Admirada em todo o mundo pela sabedoria e dignidade, foi a primeira mulher monarca dos maori.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Soluções legais

Minas Gerais, 04 de agosto de 2006

Suponhamos, caríssimos, que Mlle. de Sudéry estivesse certa ao escrever que "perdoa-se tudo aos amantes... e aos loucos". Não me restaria, neste caso, outra alternativa que não confiar em seu amor - ou em minha loucura.

Apresso-me em corrigir uma indesculpável incúria. Apresento-lhes Fürst Otto Eduard Leopold von Bismarck, Duque de Lauenburg , conservador, monarquista e aristocrático. Comandou a Reunificação da Alemanha, destacando-se em uma época em que grandes estadistas - Mr William Gladstone, Mr Ulysses Grant, Mr Benjamin Disraeli, Mr Abraham Lincoln, Sir John Macdonald, D. Pedro II, Hr. Klemens von Metternich, e a Rainha Victoria - eram regra em todos os cantos do mundo.

Dotado de invejável capacidade política e militar - ambientes não tão distintos -, derrubou a hegemonia militar da França de Napoleão III e venceu o exército do poderoso Império Austro-Húngaro. O Marechal de Ferro, como ficou conhecido, previu a Primeira Guerra Mundial, que esta Guerra teria início com um acontecimento tolo nos Bálcas, e que a Alemanha sairia derrotada. Acertou em todas.

Sua observação mais famosa, no entanto, é aquela que diz que "quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite". Ainda que fosse um excepcional diplomata, não enxergava muita eficiência nas letras. "Os grandes problemas não se resolvem com discursos, mas a ferro e sangue". Não há como não pensar em Bismarck depois de saber que o Presidente planeja convocar uma Assembléia Constituinte.

A Constituição Federal promulgada em 1988 é a sétima da História e a sexta da República. Foi batizada pelo então constituinte Sr. Ulysses Guimarães como Constituição Cidadã. Seria mais apropriado chamá-la Constituição Demagógica. Mal-acostumados com a democracia, os deputados quiseram elaborar uma Carta sob a luz do consenso. Acabaram por aprovar um documento contraditório. Defende o direito à propriedade e a reforma agrária. Estabelece que todos são iguais perante a lei para logo depois garantir foro priviliegiado às autoridades públicas.

Em condições normais eu seria a primeira pessoa a pedir uma nova Constituição, mais enxuta, mais simples, mais realista. É preciso, no entanto, estar atento a alguns pontos antes de aplaudir um punhado de juristas que se dispôs - ou foi disposto - a se pronunciar sobre o assunto.

Primeiro, é um projeto que tem apoio tanto do Partido dos Trabalhadores quanto do Sr. Luiz Inácio. Eis razão suficiente para colocar qualquer pessoa sensata na oposição.

Segundo, a reunião de Sua Excelência com alguns "juristas" - termo que envolve desde pessoas como o saudoso Dr. Miguel Reale até esquerdo-populistas como Fábio Konder Comparato - também deve ser avaliada. O Presidente não lê. Nem livros, nem jornais, nem mesmo documentos oficiais. É cabível questionar seu conhecimento jurídico. Desde o começo do mandato pôde contar com a consultoria do Ministro da Justiça e criminalista de plantão Sr. Márcio Thomaz Bastos, que não estava presente. Quem assessorou o Sr. Luiz Inácio foi o Ministro de Relações Institucionais Sr. Tarso Genro. Aquele que considera o princípio do direito adquirido um anacronismo.

Terceiro, ao contrário do que foi noticiado, não houve participação da Ordem dos Advogados do Brasil no encontro, mas de um grupo de conselheiros dissidente. Algo como uma OAB-B. O Presidente Nacional da entidade Sr. Roberto Busato é anti-Lula até a medula. Talvez por isso não tenha sido informado sobre o encontro.

Quarto e último, esta Constituição foi escrita com o apoio do PT. O então presidente do partido, o líder sindicalista Lula, teve quatro projetos aprovados enquanto membro da Assembléia Constituinte. Os jornalistas políticos da época comprovam que o nobre deputado detestava a função legislativa. Queria ser Presidente da República. O quanto antes.

A confusão do Politburo não pode ser a única condenada pela ressurreição de Antônio Conselheiro. A responsabilidade repousa principalmente numa tradição, característica de países politicamente autoritários, de querer mudar a realidade por meio de decretos. Desde a República, imposta em nome dos ideais positivistas, sucessivos governos têm colocado a legislação como maestra das mudanças que a ocasião pedia.

O atual ordenamento constitucional não foge à regra. Coloca o Estado como responsável pela felicidade de todos os cidadãos. Talvez distribuindo Prozac gratuitamente. Diz ainda que a sociedade deve ser justa e solidária, como se o fato de não ter sido até então se deveu à ausência de lei específica. A ordem é simples: que ninguém faça nada que não esteja expressamente determinado. Ora, em 1988 quiseram regular até mesmo quantas colheres de açúcar poderíamos colocar em uma xícara de café!

O problema do Brasil não é constitucional. É institucional. E voltemos a Hr. Bismarck para terminar: "mesmo que tenha leis ruins, pode-se governar com bons servidores públicos. Mas com maus servidores públicos, nem mesmo as melhores leis podem ajudar".