Gilles Gomes de Araújo Ferreira

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal de S.A.I.R. D. Luiz de Orleans e Bragança

"Face à notícia do surgimento de um superior, pode-se ter dois movimentos de alma.

Um consiste em alegrar-se e desejar vê-lo, homenageá-lo, servi-lo. Esta é a nobre atitude de quem não vive para satisfazer unicamente as suas conveniências, os seus caprichos, as suas paixões. É a atitude de quem tem um ideal, o ama e quer vê-lo realizado.

Outro é o movimento de alma do egoísta, do orgulhoso, do sensual. O aparecimento de um superior provoca em sua alma torpe um ódio implacável, um desejo de afastar o que vai ser mais do que ele e ao qual deverá submeter-se, um impulso de, se possível, eliminar quem ele passa a considerar um desmancha prazeres, um intruso.

Herodes era um perfeito exemplo dessa segunda categoria de almas. Idumeu de origem, com pouco sangue judeu, por meio de intrigas e baixezas junto ao César romano, bem como de violências na Terra Santa, ele usurpara o trono de Israel e nele se mantivera por mais de quarenta anos. Tendo perfeita noção de que os israelitas esperavam o Messias prometido por Deus e anunciado por seus Profetas, o qual poderia arrebatar-lhe o trono de David, turbou-se profundamente com a notícia que lhe traziam os Magos vindos do Oriente. “E toda Jerusalém com ele”, pois seus súditos temiam mais uma série das violências de que era costumeiro.

Astuto, fingiu alegria e pediu aos Reis Magos que lhe relatassem, ao passar por Jerusalém no caminho de volta, o local onde se encontrava o Menino - a fim de matá-lo. Mas Deus frustrou seu intento fazendo com que um anjo avisasse em sonho os Magos que tomassem outro caminho de regresso, sem passar pela Cidade Santa. Herodes, vendo frustrado seu plano, tomado de fúria mandou matar todos os meninos de dois anos ou menos que estivessem em Belém e nas cercanias, na esperança de assim atingir o recém nascido Rei dos Judeus. Sua memória será por isso para sempre execrada como a de um tirano que não teme a Deus e não recua diante de nenhum crime para se manter no poder e satisfazer suas paixões. Entretanto, também São José fora instruído por um anjo, para que a Sagrada Família fugisse a tempo para o Egito.

Bem outra foi a conduta dos Reis Magos. Oriundos, segundo vários exegetas, da Mesopotâmia, da Caldéia ou da Pérsia, eles esperavam ansiosamente a vinda do Rei dos Judeus, que devia, segundo as profecias, restaurar a ordem do mundo, profundamente turbada pelos pecados dos homens e das nações. Tendo notícia dessas profecias, que o proselitismo dos judeus difundira pelo Império Romano e especialmente por todo o Oriente, sentindo como todos os seus contemporâneos que os tempos estavam maduros, (conf. Virgílio: Eclog. IV, 4-59; Tácito: Hist. V, 13; Suetone: Vespas, IV; Flávius Joseph: Bell. Jud., VI, v, 4), eles procuravam em seu estudos astronômicos a estrela que devia anunciar o Messias esperado. Afirma o exegeta Louis Claude Fillion: “Para esses astrônomos a estrela era, segundo o belo pensamento de Santo Agostinho, uma linguagem exterior bem capaz de excitar a sua atenção e a sua fé. Mas, evidentemente, a essa linguagem exterior se associou uma palavra muito mais clara, uma revelação divina, que lhe deu o sentido e os instou a ir pessoalmente a oferecer as suas homenagens ao rei dos Judeus”.

Reconhecida a estrela, os Magos se alegraram imensamente e, mesmo não sendo Judeus, resolveram segui-la para ir adorar o Menino e levar-lhe o tributo de seus tesouros: ouro, incenso e mirra. O ouro devido aos Reis; o incenso, a Deus; e a mirra, planta odorífera que servia para embalsamar os mortos, ao Redentor do gênero humano, que seria crucificado, morto e sepultado para resgatar os nossos pecados. Consagraram-se, assim como aos povos que regiam, ao Deus Menino. E, voltando às suas terras, se empenharam em que lá fosse observada a Lei de Deus e a Lei Natural.

A iconografia católica os representaria, no futuro, como um branco, um pardo e um negro, representantes das três principais raças da gentilidade, descendentes de Sem, Cam e Jafé, de que resultariam os povos que se submeteram à Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Seu exemplo serviu de inspiração para um Santo Henrique, soberano do Sacro Império Romano Alemão, um Santo Eduardo da Inglaterra, um São Luís IX rei de França, um São Fernando III de Castela, um São Casimiro da Polônia, reis que ilustraram a Idade Média, época bendita da História que o Papa Leão XIII descreveu na Encíclica Immortale Dei com estas luminosas palavras: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”. 1

Nas comemorações natalinas, as virtudes dos Reis Magos serão lembradas com enlevo até o fim dos tempos. Suas relíquias são veneradas na majestosa Catedral de Colônia, jóia do gótico alemão.

A memória de Herodes, a quem se pode aplicar a palavra de S. Paulo: ”Esses tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao próprio ventre. E com palavras adocicadas e linguagem lisonjeira enganam os corações simples” – Rom. XVI-18 - será execrada por todos os séculos, enquanto o exemplo de submissão a Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Reis Magos, será seguido por todos os Chefes de Estado que realmente querem a Glória de Deus e o bem de seus povos.

Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nos alcance logo de Seu Divino Filho a graça de vermos a Terra de Santa Cruz governada por homens que tenham por ideal a maior Glória de Deus e a exaltação da Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, a salvação das almas e o verdadeiro progresso cristão. Veremos, então, nossa Pátria alcançar um esplendor dificilmente imaginável. Veremos a realização da promessa de Nosso Senhor: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas vos serão dadas em acréscimo” S. Mateus: VI, 33."

domingo, 16 de dezembro de 2007